A grande Hungria de 1954 e o suposto doping alemão


A Hungria de 54 é dos maiores esquadrões da história do futebol. Encantaram o mundo com o seu futebol perfumado que contava com alguns dos melhores jogadores da história, como József Bozsik, Nándor Hidegkuti, Zoltán Czibor, Sándor Kocsis e, claro, a grande estrela e capitão de equipe, Ferenc Puskás - na altura considerado o melhor do mundo.

Na primeira fase, as duas seleções ficaram no mesmo grupo, e o selecionador alemão, sabendo que as probabilidades de perder eram altíssimas, achou melhor poupar a equipe titular, jogar com os reservas e focar-se no jogo da Turquia, com quem disputaria o play-off de acesso às quartas de final. A Hungria ganhou de 8-3, confirmando todo o favoritismo, mas não sem custos: o defensor Werner Liebrich tinha a missão de marcar e massacrar Puskás, e conseguiu mesmo lesionar o Major Galopante, que só voltaria a jogar a final e em condições questionáveis.

Nesse mundial não havia times fracos, mas as eliminatórias ditaram que a Hungria teria de disputar o acesso à final contra o Brasil, finalista da Copa anterior e campeão mundial na edição seguinte, de Nílton Santos, Djalma Santos e Didi, entre outros; e o Uruguai, campeão mundial em título e com uma equipe que ainda reeditava o sucesso do Maracanazzo, com nomes como Juan Schiaffino, Obdulio Varela e Roque Máspoli e adicionando ainda o excepcional José Santamaria. Já a Alemanha, disputaria contra umas muito boas Iugoslávia e Áustria, mas que andavam longe ainda, a primeira, do que viria a ser uma década depois; e, a segunda, do que tinha sido com o Wunderteam dos anos 30.

O jogo das quartas de final que eliminou o Brasil ficou na história como um dos mais violentos do futebol. Foi batizado como "A Batalha de Berna" e viu inclusive Nílton Santos e József Bozsik trocarem socos. Obviamente que na chegada à final, com os diferentes percursos, a Alemanha estava fisicamente muito mais bem preparada que a Hungria, que tinha ultrapassado duelos intensíssimos (ambos por 4-2). Ainda assim, aos 8 minutos os magiares já venciam por 2-0 e toda a gente julgou que o jogo seria um novo massacre, uma reedição do jogo da fase de grupos. Não foi assim. Os húngaros relaxaram, os alemães empenharam-se, o "Milagre de Berna" - como ficou conhecido o jogo - ocorreu, e a Alemanha daria a volta ao jogo, copando pela primeira vez numa vitória por 3-2. Vitória essa que ainda hoje é considerada a mais injusta (ou a que mais desiludiu) no futebol, apenas parelhada quase 30 anos depois pela "Tragédia do Sarriá".

Diz-se que a Alemanha correu mais do que a Hungria nesse jogo devido ao resultado das pesquisas nos laboratórios de cientistas nazis na primeira metade do século. Nunca se saberá, nunca será comprovado, mas é, porventura, o primeiro (provavelmente o maior) caso de doping do futebol.
Compartilhar: Plus