Depois de alguns anos, voltaremos a ver os quatro grandes do Rio de Janeiro na primeira divisão novamente. Enquanto Vasco e Botafogo se testavam para ver quem poderia chegar mais fundo dentro do poço, vimos um estado muito menos expressivo com quatro representantes na serie A, Santa Catarina. Já em São Paulo, é algo comum contarmos com algum clube na primeira divisão fora do quarteto de ferro, Guarani, Ponte Preta, Barueri e São Caetano são exemplo até recentes, deste fato.
A questão é que, um estado como o Rio, que faz parte do tão criticado e para alguns inexistente, “eixo”, não consegue emplacar seus times menores em grandes competições pelo país. Os motivos são variados e diferem em inúmeras perspectivas das quais nem eu nem você poderíamos imaginar. Mas o que aconteceu com clubes que antes tinham o mínimo de representatividade nacional e que agora se limitam em apenas serem lembrados por uma foto em preto e branco no fundo de uma sala escura? Falaremos de alguns clubes cariocas, seus principais feitos e seus atuais panoramas.
Olaria: O famoso time da rua Bariri, que foi berço de Romário e último clube da carreira do Garrincha hoje passa por extrema dificuldade. Embora nunca tenha ganho nenhum título relevante a nível estadual, o Olaria já venceu o equivalente a terceira divisão nacional em 1981, a taça de bronze. Infelizmente após uma série de erros de gestão, o clube hoje se encontra na segunda divisão do cariocão.
Garrincha vestindo a camisa do Olaria. |
Bangu: Talvez o mais conhecido dos pequenos do Rio pelo pais, o clube de Moça Bonita já foi vice campeão brasileiro em 1985, perdendo para o Coritiba na ocasião. Foi um dos primeiros no Brasil a admitir a entrada de negros no plantel, lutando contra o preconceito, já venceram duas vezes o estadual e foram vices outras seis vezes. O time banguense está classificado para disputar a quarta divisão do nacional em 2017 e para o estadual, onde contará com o uruguaio Loco Abreu.
Por muito pouco o Bangu não foi campeão brasileiro. |
São Cristovão: Conhecido por ter revelado Ronaldo Fenômeno, o Tovão se sagrou campeão estadual apenas uma vez em sua história, em 1926. Naquela ocasião goleou com autoridade times que hoje são considerados os gigantes do estado, com direito a 5x0 no Flamengo. Uma campanha irretocável. Um dos clubes mais longevos do Rio de Janeiro, o São Cristovão coleciona 71 participações no campeonato carioca. Porém, também foi o primeiro clube campeão do estadual a cair para a terceira divisão do mesmo, fato que aconteceu em 2012. Hoje se encontra na série B do estado.
Ronaldo é grato ao clube até hoje. |
América: De longe o clube mais simpático do Rio, o mequinha é o primeiro América registrado no Brasil, sendo assim, tem inúmeros clones ao redor do país. No estado é considerado por muitos, a quinta força histórica. Muito se deve aos sete campeonatos cariocas que conquistou até a década de 60. A nível nacional, o América tem a alcunha de ser o campeão do Torneio dos Campeões, realizado pela CBF. O campeonato continha os melhores clubes do Brasil. O mequinha também já emplacou sonoras goleadas nos ditos gigantes, como um 11x0 contra o Botafogo. Possui ao todo 19 participações na primeira divisão do Brasileirão, sendo o clube carioca que mais jogou o torneio fora do quarteto. Infelizmente hoje também se encontra na segunda divisão do estadual, triste.
Um dos muitos títulos do America. |
Americano: Um dos maiores clubes do interior do estado, o clube de Campos tem uma rica história no futebol. Dentro do Rio de Janeiro, não há nenhum outro clube que tenha disputado a segunda divisão mais vezes que eles, foram 20 participações, tendo vencido apenas uma vez, em 1987. É também o único clube do interior a vencer turnos do estadual (taça Guanabara e taça rio). Hoje em dia infelizmente, também se encontra na segunda divisão do estadual.
Jornais destacaram o feito. |
Duque de Caxias: Fundado em 2005 e com uma ascensão meteórica, o clube da baixada fluminense foi o penúltimo clube pequeno carioca a estar na segunda divisão, de 2009 a 2011. Inclusive fazendo uma campanha respeitável e quase subindo em 2009, terminando na oitava colocação. Infelizmente, é também o dono da pior campanha da história da competição, em 2011 de 38 jogos o Duque venceu apenas 2, caindo para a série C com várias rodadas de antecedência. Hoje disputa a segunda divisão do estadual e está na quarta divisão nacional.
Coincidentemente, o Duque esteve na série B no mesmo ano que o Vasco. |
Macaé: Último pequeno carioca na série B, foi campeão da série C nacional em 2014. Porém, já na série B no ano seguinte, não conseguiu se manter e acabou rebaixado. Hoje se encontra na terceira divisão, e disputando a elite do carioca.
Irão lutar para novamente subir para a segunda divisão. |
Também vale citar clubes como o Goytacaz (vice-campeão da segunda divisão nacional de 85), Madureira (2 vezes vice-campeão carioca e primeiro clube brasileiro a fazer amistosos no Japão) e Volta Redonda (atual campeão da série D invicto). Bangu e América foram os dois últimos pequenos do Rio a jogarem a primeira divisão nacional.
A questão é bem complexa. A maioria dos clubes pequenos do Rio vivem bancados por prefeituras, tais como Macaé, Duque de Caxias, Volta Redonda e Resende. E depender de governo pra se manter em alta na maioria das vezes é um erro, visto que é um orçamento incerto, já que a situação da cidade pode variar de forma incontrolável, diante disso é normal acontecerem casos como o do Macaé, que subiu para a série B com esperanças de acesso a elite, quando a crise da lava jato estourou e sua cidade natal, que tem como fonte de renda o petróleo, teve o orçamento reduzido. Já o Bangu por exemplo, era liderado por Castor de Andrade, conhecidíssimo bicheiro das terras cariocas, que faleceu faz alguns anos.
A diversidade dos porquês só aumenta quando entramos no quesito federação, a FERJ é uma das maiores pedras no sapato dos pequenos. Um órgão que deveria de fato ajudar os menores clubes a se estruturar, só contribui para que o limbo seja mais longo, pegando uma fatia de renda dos jogos absurda, proibindo os grandes de jogar como visitante contra os pequenos, são várias as medidas controversas que essa federação se dispõe a colocar em prática, isso dificulta muito a evolução.
Infelizmente, uma das culpadas. |
E como não poderia deixar de citar, a má administração talvez seja a principal causa dessa situação. O futebol no Rio de Janeiro já é um tanto romantizado demais por essência e isso se torna ainda mais visível quando se trata de clubes menores. Falta de investimento em infraestrutura, esquecimento de categoria de base e planejamento financeiro são questões pouco lembradas pelos dirigentes, que preferem enaltecer o momento em que a Portuguesa da Ilha venceu o Real Madrid em um amistoso de décadas atrás, por exemplo. Estádios como Giulite Coutinho e Moça Bonita, se reformados, atrairiam inúmeros eventos e jogos maiores para captação de uma renda maior.
Por vezes parece estar no DNA do pequeno carioca, repatriar medalhões esquecidos e jogadores em fim de carreira e as vezes até aposentados, para assinar um contrato de meses até que o estadual acabe, e repete-se o ciclo. Claro que também precisa-se destacar a grande falta de interesse em investir nesses clubes menores do Rio, visto que o estado já possui uma torcida polarizada entre os 4 grandes, não é como Campinas que possui torcedores de berço de Guarani e Ponte Preta, ou Pelotas que possui torcedores fiéis do Brasil.
A apaixonada torcida do Brasil-RS. |
O Rio de Janeiro é um estado pequeno para tantos clubes, principalmente na capital, onde a maioria deles está. Porém, até em lugar mais afastados como Campos, por exemplo, a torcida maior ainda é praticamente unânime aos gigantes do estado.
Obviamente que nenhum desses fatores sozinhos representa o motivo singular para um clube dar errado, visto que existem muitos clubes que mesmo com federações podres prosperam, com apoio de prefeituras chegam na série A (São Caetano), sem uma torcida relevante conseguem chegar longe (Barueri). Entretanto, a soma de todos os fatores que citei exemplifica pelo menos um pouco o motivo da morte dos pequenos cariocas, é um vislumbre do montante de terra que há por cima dos caixões ainda em preto e branco, que esperam pelo dia em que a tecnologia da cor chegue via baia de Guanabara e traga de volta a vida os times que morreram décadas atrás.