Depois de uma passagem memorável pelo Goiás, Dill acabou se transferindo para a França onde esperava deslanchar. Entretanto, acabou se deparando com uma bagunça e desorganização inesperadas pelo atacante. Já de volta ao Brasil, lamenta que não tenha conseguido uma regularidade no São Paulo por conta de sua lesões e relembra com orgulho a passagem pelo Botafogo. Conversamos com o hoje empresário de jogadores.
Confira na íntegra:
1. Depois do excelente desempenho durante vários anos pelo Goiás, onde o clube dominou o estadual e você teve a oportunidade de ser artilheiro do Brasileirão, se transferiu para a França por cima. Qual foi a grande dificuldade em atuar pelo Olympique de Marseille?
Eu passei muitos anos no Goiás, estava familiarizado, tínhamos um time que possuia um esquema de jogo que era voltado pra mim. A dificuldade que eu tive no Olympique foi de adaptação, um sistema diferente. No Brasil se jogava muito com o 4-4-2, na Europa já era o 4-3-3, isso dificultou um pouco. A questão física também, eu não era tão potente fisicamente como os jogadores que já estavam lá, então tive que me adequar a isso também, na ocasião o presidente contratou sete estrangeiros podendo jogar apenas com 5. Eu saí do Brasil achando que iria pra um time mais organizado mas foi tudo totalmente diferente, muita bagunça, organização zero. Então isso tudo influenciou para que eu não obtivesse êxito, passei pouquíssimo tempo lá também, isso foi preponderante.
Realmente, a diferença física foi um fato preponderante |
2. Você deve ter jogado contra e dividido campo com alguns craques, porém um fato destacado foi sua artilharia do brasileirão, a qual dividiu com o baixinho. Qual a sensação de ser artilheiro do campeonato nacional ao lado do lendário Romário?
O ano de 2000 com certeza foi muito especial pra mim, fiz 54 gols na temporada, além de ser artilheiro do Campeonato Brasileiro, fui o goleador do goiano. Estava disputando a chuteira de ouro com o Romário, que fez 64 (risos). Eu já tinha feito bastante, mas ele fez mais ainda. Foi um jogador muito bom, ótimo em fazer gol, é uma honra pra mim ter disputado com ele e com o Magno Alves, que também foi artilheiro do campeonato. Eu tenho isso marcado na minha carreira, o Campeonato Brasileiro é muito difícil e tinha jogadores de alto nível naquela época, sem dúvida ter sido o goleador do campeonato é uma honra pra mim.
3. Você foi um dos únicos jogadores da história do Goiás que participou de grande parte de uma época áurea. Participou de dois acessos a Série A, semifinal de Brasileiro, foi penta campeão goiano, artilheiro de Série A. Mas de 2011 pra cá o clube amargou 4 disputas de Série B, sendo que antes de 2010 havia disputado apenas 2, viu o Atlético engrandecer também. O que o Goiás precisa fazer para voltar a ter posição de destaque que teve nos anos 90 e 2000?
Esse time naturalmente teve uma grande influência na crescente do Goiás, que hoje é um time reconhecido nacionalmente. Mais tarde o clube teve um bom destaque na copa Sul Americana também. Eu acompanho o Goiás, mas não de dentro do clube, então ao meu ver é questão de planejamento, de contratação, isso tem que ser revisto para que o Goiás volte a crescer e seja respeitado no cenário nacional. É um clube que tem uma boa estrutura, Goiânia é uma cidade que tem tido uma boa visibilidade no futebol, também pelo Atlético, os três maiores clubes da capital estão na serie B, com o Atlético com grandes chances de subir novamente, então acredito que o Goiás não pode ficar pra trás. Tem que buscar voltar a disputar a serie A, todos já estão acostumados a verem o Goiás na primeira divisão
4. Você chegou a jogar com Araújo, Fernandão, Alex Dias, Baltazar (quantidade imensa de gigantes atacantes para um clube médio do Brasil) e contra Túlio Maravilha, Paulo Nunes, Jardel, Romário, Edmundo e tantos outros atacantes da época. Por quê hoje em dia no Brasil, se tem tão poucos atacantes de qualidade como se tinha antigamente? E quando tem são estrangeiros, ou um brasileiro já na fase decrescente da carreira ou muito jovens que já estão indo para a Europa.
De fato isso é verdade, é impossível você visualizar hoje uma seleção com os atacantes que o Brasil tinha, que era aquele número 9, de área, que fazia a diferença, hoje há poucas opções. E sim, estou aqui na Europa e os clubes aqui procuram jogadores mais jovens, a FIFA estabelece que só se pode sair do país natal para jogar fora com 18 anos, muitos clubes inclusive bancam até a ida dos pais, para o atleta ficar com a família. Então hoje as categorias de base são monitoradas por diversos outros clubes que procuram parcerias para levar alguns jogadores, é uma coisa que deve ser revista se o Brasil quiser ter os atacantes que tínhamos antigamente. A qualidade do jogador brasileiro não mudou, continua boa, mas é preciso segurar um pouco mais os atletas para aparecerem no Brasil também.
5. Em algumas declarações, você já afirmou que a torcida botafoguense ficou meio ressabiada após a sua chegada logo após marcar o gol que selou o rebaixamento deles. Foi realmente uma ironia do destino, é como se você fosse se redimir pelo gol, levando o clube de volta a elite, como fez. Como foi essa mudança curiosa de lado?
O Botafogo é um dos clubes que tive muito prazer em representar, o Bebeto de Freitas foi em São Paulo pra me levar, acabei aceitando pois queria mais oportunidades de jogo, então fui pra jogar. De início foi bem complicado, a torcida meio que me culpou pelo descenso do Botafogo, mas comecei a fazer gols e isso facilitou a relação com eles e acabou culminando com a volta do time a primeira divisão. Eu fiz parte disso e tenho muito orgulho.
Pelo Botafogo, foram grandes momentos |
6. No ano de 2004 você atuou pelo time do Flamengo, entretanto acabou ficando marcado pelo pênalti desperdiçado na disputa com o Santos pela Copa Sul Americana, quais são suas lembranças do clube rubro negro?
No Flamengo foi um pouco diferente, havia acabado de sair do Brasiliense, estava parado a um mês e voltei a jogar. Logo depois teve aquela situação do pênalti, eu não estava treinando, o Jean que iria bater o pênalti e ele não quis bater, então eu falei que assumiria a responsabilidade pro Ricardo Gomes, no entanto não estava preparado pois não vinha treinando. Acabei errando o pênalti, pra mim foi um peso muito grande, depois disso a torcida começou a pegar no meu pé, foi um dos momentos mais complicados da minha carreira.
7. Hoje, olhando para trás, como você analisaria sua própria carreira? Que decisões mudaria? O que faria diferente?
Meu maior êxito foi no Goiás, sem dúvida alguma, até hoje a torcida me respeita muito. Também considero minha passagem muito boa pelo Botafogo, onde participei dessa volta primeira divisão. E no Bahia onde fui artilheiro, consegui fazer muitos gols lá. O ponto mais complicado pra mim foi a minha lesão, que eu tive quando estava no São Paulo onde fiquei 2 anos e meio e só consegui jogar 27 jogos e apenas 8 como titular. Quando eu estava começando a me adaptar ao estilo de jogo do time foi quando eu tive a lesão, tive a fratura da fíbula que não foi nem meu maior problema, o maior problema foi o rompimento dos ligamentos do tornozelo. Então só de muleta e sem pisar no chão eu fiquei 1 mês e meio, isso realmente foi bem complicado, joguei muito pouco no clube. Sou feliz por ter tido essa carreira por poder ter feito o que gosto que é jogar futebol, me sinto privilegiado. E hoje por trabalhar com futebol também me sinto orgulhoso, agradeço muito a Deus por isso.
Poderia ter rendido bem mais no clube paulista. |
Foi um prazer poder falar com vocês de 4-3-3. Um grande abraço para aquelas pessoas que lembram de mim, principalmente quando vou a Goiânia, sempre bem receptivas, mesmo torcedores do Vila Nova ou do Atlético que também possuem grande respeito por mim. Isso é o que nós guardamos e levamos sempre pra vida, foi uma carreira notória. Um grande abraço e fiquem com Deus.