A ascensão do Sport


Depois da saída de Oswaldo de Oliveira, que rumou de forma contestada ao Corinthians, o Sport contratou um técnico 'desconhecido' e é recompensado com conceitos ofensivos e futebol de posse.

Quem foi Daniel Paulista?

Daniel Paulista foi um volante durante sua carreira como jogador. Ele era conhecido por sua força na marcação e chegada ofensiva. Após uma passagem muito boa pelo São Caetano em 2006, por pedida de Emerson Leão ele foi levado para o Corinthians no ano seguinte, onde teve um ótimo inicio de Campeonato Paulista e Copa do Brasil, porém, uma lesão o tirou dos gramados e nesse tempo ele foi emprestado ao Náutico, onde inicia sua paixão por Pernambuco.

Após terminar o empréstimo, Daniel deveria voltar para o Corinthians, mas optou por ir ao Sport Recife, onde esteve no seu auge com uma grande participação no titulo da Copa do Brasil 2008. Foi vendido para Bélgica no mesmo ano, no entanto, por atrasos salariais, pediu rescisão e voltou para o Sport, onde ficou até 2011. Em 2014 ele se aposentou do futebol e iniciou seu ciclo na comissão técnica da equipe pernambucana, dois anos depois teve a oportunidade de ser o interino e assumir o time principal.
Líder já nos tempos de jogador.

O desafio do interino 

Daniel assumiu a equipe na rodada 31/32, o Sport tinha 34 pontos e ainda haviam 7 rodadas por jogar, a meta de pontos era de 12 dos 21 em disputa. Hoje, faltando 3 rodadas, já conseguiu 9. Isso por que o treinador implantou uma filosofia desde o inicio, um futebol com intensidade, troca de passes, marcação alta e saídas rápidas.
O interessante esquema de jogo de Daniel.

Nos seus primeiros noventa minutos, por exemplo, ele usou um 4-2-4-0, que sem bola se transforma em um 4-4-2 e com bola é de uma movimentação espetacular. Contra o Vitória, seu time teve 57% de posse de bola, finalizou 19 vezes e trocou 227 passes.
Na foto, o Sport se defende com duas linhas de quatro e deixa somente dois jogadores a frente para puxada de contra ataque.

O 4-2-4-0 trata da subida de seus defensores - tanto zagueiros como laterais até a linha do meio campo, Rithely e Paulo Roberto acompanham por trás da ultima linha de ataque e Rodney Wallace, Rogério, Diego Souza e Everton Felipe formam uma linha.

Com esse esquema, o Sport exclui o termo atacante móvel e joga sem atacante (e ao mesmo tempo com quatro jogadores no ataque) e a qualquer momento um desses quatro pode infiltrar a defesa em diagonal e receber uma bola enfiada.
Everton Felipe, aberto pela direita, sempre conta com uma linha ofensiva a disposição para buscar o passe. Na foto, Diego Souza e Rogério se alinham ao ponta.


Peças

Rogério quase não fica dentro da área, afinal, fica circulando ela dependendo de onde está a bola, coisa que podemos ver no seu mapa de calor.
Apesar de ser, em tese, o "último homem" do setor ofensivo, Rogério pouco fica dentro da área, atuando quase que como um ponta.



Diego Souza é a parte mais importante do esquema, ele flutua literalmente pelo campo e a ideia é sempre se aproximar de R.Wallace e Everton Felipe para receber a bola e fazer uma tabelinha ou talvez puxar pra dentro e bater no gol (a maioria dos gols dele são assim). Quase sempre que um lateral recebe na linha de fundo, ele, junto de Rogério, entram na área dando opção de cruzamento.
A enorme participação de Diego Souza no setor.

Everton Felipe é um dos poucos fixos desse time, um armador aberto pela direita, tem uma grande qualidade técnica e por ali faz triangulações com Diego Souza e Samuel Xavier.
Diego Souza puxa a marcação, Rogério infiltra e Everton Felipe, armador pela direita, enfia a bola para o camisa 9.

Rodney Wallace é o equilíbrio desse ataque. Não é um primor técnico mas é absurdamente tático e esforçado. Ele usa sua disposição física para preencher o lado esquerdo inteiro desde a defesa até o ataque, além de que toda essa recomposição permite a Renê sair da posição fixa de lateral e fechar no meio aumentando a amplitude do time e a aproximação dos companheiros entre eles. 
Enquanto Diego tem a bola, Rogério infiltra para puxar a marcação e Renê aproveita o corredor para dar opção.

** Quase todo jogo ele faz as mesmas substituições, a saída de Everton Felipe e Rogério para recarregar a equipe fisicamente, geralmente Apodi entra fazendo a função de R.Wallace mas pela direita para auxiliar Samuel Xavier.

*** Rodney Wallace já foi substituído nessa função por Reinaldo Lenis e Rogério (por não ter o mesmo preparo físico, Renê não ficou tão solto)

Rithely é o maestro que dita as ações da equipe, um time que tem uma linha ofensiva de 4 deve perder muito o meio campo, correto? Não com esse cara, o preenchimento de espaço dele é sensacional e pela idade é também quase incansável, ele recebe a bola da zaga e faz a ligação defesa-ataque com muita qualidade.
Além da eficiência defensiva e de construção de jogadas, Rithely dá opção quando todos os atacantes estão dentro da área.

Paulo Roberto é a força de marcação do time. Além disso, tem liberdade para se movimentar, basicamente ele roda o meio campo inteiro nos lugares certos para fazer a cobertura correta, muito aplicado, embora deficiente em muitos aspectos.

Conceitos táticos

Nem tudo são flores. A tática também deixa brechas e elas podem ser exploradas, já que com a subida dos laterais para dar amplitude fica um espaço a ser explorado nas costas deles e foi por ali o único gol com a bola rolando que o Sport levou (contra o Palmeiras, gol de Dudu com um belo passe de Moisés).

É um esquema promissor, de um técnico que surge de maneira muito interessante, e que, com ajustes, tem tudo para ser visto com bons olhos. Um exemplo disso é o terceiro gol contra o Grêmio, quando time ficou dois minutos com a bola e trocou 103 passes até a conclusão de Diego Souza. Não foi por acaso.


Dados e Estatísticas 

Nas quatro partidas de Daniel, o Sport não levou gol em 3 (1x0 Vitória, 1x0 Ponte Preta e 3x0 Gremio)

Dos 6 gols feitos até agora, só Diego Souza (3) e Rogério (3) fizeram.

O Sport tem uma média de 85% dos passes certos com Daniel, de 1153 acertou 960.

O Sport foi superior em quase todos os jogos na posse da bola.
x Vitória - 57%
x Palmeiras - 58%
x Ponte Preta - 52%
x Grêmio - 49%

Diego Souza após a chegada de Daniel acerta 79% dos passes (92 de 126) e 50% das finalizações, tendo marcado três gols.

Rogério acerta 91% dos passes (47 de 56), 50% das finalizações, sofreu nove faltas e também tem três gols.

O time repetiu a mesma tática em todos os jogos e só usou 18 peças diferentes, as únicas mudanças significativas foram na última partida em que Rogério foi deslocado para a esquerda para poder jogar com Ruiz mais centralizado e que Neto Moura jogou no lugar do suspenso Rithely.
Compartilhar: Plus