No embate contra a Argentina, Tite mais uma vez comprovou sua variação tática, como vem fazendo desde o defensivo e efetivo Corinthians de 2011/12 até o ofensivo e dominador de 2015. Em apenas cinco jogos pela seleção ele já mostrou várias facetas da equipe, mas ontem foi absurdamente diferente e mágico.
Quem viu o começo de jogo de Brasil e Argentina pode ter sentido um Brasil acanhado, recuado e sem fazer a pressão na saída de bola como fez nos outros jogos. O "problema", no entanto, é que isso não era nervosismo e sim orientação tática. Afinal, como muitos vão lembrar, Messi não fez grandes partidas contra Inter e o Chelsea, por curiosidade, dois times que jogam com a linha baixa de forma defensiva.
O que aconteceu hoje, foi que a linha do Brasil jogou recuada, deixando a Argentina controlar as duas faixas do campo, com exceção da ofensiva. Assim que os hermanos tentavam penetrar a última faixa, o excesso de jogadores brasileiros naquela parte do campo provavam a superioridade numérica, cercavam e roubavam a bola.
Quando tentava penetrar, a Argentina esbarrava numa clara superioridade numérica do Brasil. |
Messi é um jogador que passeia entre as linhas, ele gosta de receber no meio campo e fazer fila, porque, se alguém marca ele nesse setor, há uma distância entre o primeiro marcador e a cobertura, se a linha é mais baixa a cobertura é mais precisa e há menos espaço.
Ou seja, sem a bola o Brasil tinha duas linhas de defesa, a primeira com os 4 defensores e a segunda formada por Neymar, Paulinho, Fernandinho e Coutinho. Renato Augusto fazia uma sobra um pouco a frente e Jesus ficava mais a frente ainda, assim, caso o Brasil recuperasse a bola, tínhamos uma opção clara de contra-ataque.
Mas o que vimos não foi uma retranca, longe disso. Afinal, há muito tempo não se via uma linha de defesa tão baixa controlar o jogo assim, porque Adenor priorizou a posse de bola. Renato Augusto jogou mais na intermediária do Brasil do que da Argentina e foi nessa qualidade que Tite tirou o melhor dos jogadores.
Trocas de passes rápidas, movimentação e troca de posições
No primeiro gol, Coutinho sai de sua posição na direita para vir para a esquerda enquanto Jesus se afasta um pouco para o lado direito para compensar, nesse momento, Neymar tem a bola no pé e por ser um jogador de talento ímpar precisa de uma marcação e mais alguém na cobertura. A marcação no camisa 10 é feita por Zabaleta e a cobertura por Otamendi e Mascherano, o zagueiro saí da zaga para fazer a cobertura do lateral, como o atacante Jesus era marcado por Funes Mori, teoricamente não havia problemas, mas é ai que Tite entra na história.
Coutinho saí da direita, o lateral esquerdo (Más) marcador natural do ponta direita não pode acompanha-lo até o outro lado, pois abriria um vão e é nesse momento que o jogador do Liverpool passeia entre as linhas, o espaço aberto pelos 3 argentinos (Otamendi, Zabaleta e Mascherano) deixa um buraco em diagonal e logo no lugar favorito de Coutinho, depois o talento prevalece.
Neymar puxa marcação de lateral, volante e zagueiro, Coutinho sai da direita e recebe entre os 3, limpa a jogada e marca um golaço. |
O segundo gol mostra de novo a tática. A seleção dá campo pra Argentina e em uma roubada de bola arma um contra-ataque, Jesus é lançado e já recebe indo em direção ao ataque, sem dar tempo pra recomposição. Com a zaga bagunçada ele dá o passe chave e quebra toda a defesa argentina.
No segundo tempo, Bauza mostra a incapacidade de leitura de jogo e tira Perez, que ajudava Zabaleta na marcação, a partir desse momento a Argentina perde uma peça importante no lado esquerdo e o Brasil ganha campo por lá, Renato Augusto, que fez um primeiro tempo mais defensivo, começa a avançar junto de Neymar, Zabaleta fica indefeso e começa o passeio tático.
Adenor sempre implantou nos seus times a amplitude da equipe como algo forte, sempre apoiou seus esquemas de forma que os laterais tivessem participação assídua e na seleção não seria diferente. Muitas vezes os pontas brasileiros estão mais fechados no meio campo e os mais abertos são os laterais ou até mesmo os segundos volantes, assim existe a possibilidade de criar uma triangulação.
Agora no lance do terceiro gol, Marcelo cruza a bola e ela atravessa a área e chega no lado direito, o certo seria Coutinho receber essa bola por estar posicionado ali, mas a troca de posições confunde a defesa adversária e quem infiltra por ali sozinho é Renato Augusto que assim que cruza mostra outra infiltração importante, Paulinho, que chega sozinho para definir.
Mais solto, Renato Augusto vai ao fundo na direita, Paulinho infiltra, recebe e finaliza para marcar o terceiro. |