Entre os técnicos mais conhecidos deste século no país, Abel Braga se mantém como figura carimbada em clubes tradicionais brasileiros e até mesmo com passagens fora do Brasil. Hoje com uma bagagem mais completa, fala entre outras coisas, sobre como foi seu tempo em Portugal e a forma como conseguiu parar o Barcelona.
Confira na íntegra:
1. Na final do mundial de clubes entre Internacional e Barcelona, muitos destacam a função desempenhada pelo lateral Ceará, que marcou de perto e muito bem o craque Ronaldinho. Se hoje fosse enfrentar o time catalão, como faria para marcar o trio MSN? Acredita que o encaixe individual funcionaria?
Naquela oportunidade, depois de estudar muito o Barcelona (apenas em derrotas, duas para o Real Madrid e duas para o Chelsea) ficou muito claro que todas as bolas da defesa, passavam pelo pé do Thiago Motta. Combinamos que sempre que eles tivessem a bola o Fernandão não iria deixar ele receber, por isso fizemos uma marcação mais próxima do Deco e Ronaldinho, pois eram os únicos que podiam decidir.
Hoje seria impossível fazer uma marcação individual nesses jogadores e acho que somente um time com o meio campo bem organizado e uma saída rápida poderia se obter um bom resultado.
2. Recentemente, muito se discutiu sobre uma entrevista do técnico Vanderlei Luxemburgo. Entre os principais temas abordados está a falta de brasileiros na Europa. Na sua opinião, por que os técnicos daqui não tem oportunidades? O peso do 7-1 atrapalha?
O grande problema é que nossos jogadores da base sobem para o time principal com muitos defeitos, na formação do atleta e principalmente no que diz respeito a parte tática. Quando os jogadores chegam lá na Europa, eles encontram muitas dificuldades por esse problema tático, eles acham essa falha grave praticamente em todos os jogadores brasileiros, por isso fica condicionado para eles que nós treinadores não damos importância nesse aspecto.
3. O que achou da nova Taça Libertadores? O G6 valoriza o nosso campeonato ou o contrário?
Acho que vai diminuir o lado competitivo e piora ter que fazer 4 jogos eliminatórios com as equipes ainda no início de temporada.
4. Nesse período sem trabalhar, qual vem sendo sua rotina? Fez algum curso? Quais?
Estive em vários países mas não gosto de selfie ou de ficar falando onde fui e com quem estive, futebol você aprende todos os dias assistindo, depende da maneira que você vê.
5. Como falamos anteriormente, faltam treinadores daqui na Europa. No entanto, você já teve a oportunidade de trabalhar no velho continente. Falando mais especificamente do Marseille, como foi sua experiência? E a comunicação, como funcionava? Muitos batem na tecla da falta de um segundo idioma para nossos profissionais.
Minha passagem lá como em Portugal e Emirados árabes foram muito boas. Em Portugal subi duas equipes, Famalicão e Belenenses, e conquistei a taça de honra de Lisboa tendo como adversários Benfica e Sporting. Nos Emirados ganhei dois torneios e os três títulos oficiais do país. Sobre a língua me safo, o inglês eu falo muito bem, assim como o francês (joguei dois anos no Paris Saint Germain).
6. Você passou um bom tempo trabalhando no mundo árabe, e, embora bastante conhecido por aqui, são raríssimas as pessoas que acompanham o futebol de lá. É quase consenso que o nível técnico não é de excelência, mas como é o nível tático das equipes?
Nível técnico muito bom, com um aspecto negativo, o futebol para eles é diversão, pois todos os árabes dos Emirados tem emprego e salario vitalicio então jogam para se divertir, acho que mudei um pouco isto quando estive lá. E sobre parte tática é bem interessante pois todos treinadores são estrangeiros, acaba que conhecemos várias escolas diferentes.
7. Falando mais uma vez da parte tática, na sua visão, por que o uso de três zagueiros é cada vez mais raro, principalmente no Brasil? O que você acha do esquema?
Eu particularmente gosto desse sistema, mas não concordo contigo, pois na Europa alguns times estão aos poucos voltando a usar esse sistema e com sucesso.
8. Alguns “jogadores padrões” do futebol mundial estão sumindo com o tempo como o camisa 10 clássico, já outros conceitos estão voltando à tona como volta da utilização de pontas e a conscientização de que lateral precisa defender antes de atacar, como você vê essa mudança de conceito e readaptação de posições e funções antigas? Fred por exemplo, é um “nove fixo” e continua desequilibrando mesmo com muito especialistas dando sua função como “batida” no futebol moderno.
Cada vez mais os espaços diminuem no futebol por causa do grande avanço da parte física, por isso acabou o espaço para o dez clássico, falam que o último é o Douglas, do Grêmio, que está jogando mais atrás para não ter que receber a bola de costas. Eu nos clubes que trabalhei nunca deixei de jogar com jogadores pelo lado do campo, por exemplo: no Inter de 88 vice brasileiro, eu era o técnico mais jovem na primeira divisão e tinha Mauricio ex-Botafogo de um lado e Edu lima ex-Cruzeiro do outro, e isso vem até hoje.
9. Foi um prazer para nós, concluir essa entrevista. Deixe um recado para seus fãs ou até mesmo algo que queira dizer e não teve a oportunidade diante das perguntas, um grande abraço e toda a sorte do mundo!
Grande abraço a todos aqueles que gostam de futebol e a todos que gostam de assistir times e estratégias ofensivas no futebol brasileiro. Talvez esse tenha sido o meu maior legado, nunca tive medo de perder, abraços.
1. Na final do mundial de clubes entre Internacional e Barcelona, muitos destacam a função desempenhada pelo lateral Ceará, que marcou de perto e muito bem o craque Ronaldinho. Se hoje fosse enfrentar o time catalão, como faria para marcar o trio MSN? Acredita que o encaixe individual funcionaria?
Naquela oportunidade, depois de estudar muito o Barcelona (apenas em derrotas, duas para o Real Madrid e duas para o Chelsea) ficou muito claro que todas as bolas da defesa, passavam pelo pé do Thiago Motta. Combinamos que sempre que eles tivessem a bola o Fernandão não iria deixar ele receber, por isso fizemos uma marcação mais próxima do Deco e Ronaldinho, pois eram os únicos que podiam decidir.
Hoje seria impossível fazer uma marcação individual nesses jogadores e acho que somente um time com o meio campo bem organizado e uma saída rápida poderia se obter um bom resultado.
No Japão, um de seus grandes momentos: campeão mundial. |
2. Recentemente, muito se discutiu sobre uma entrevista do técnico Vanderlei Luxemburgo. Entre os principais temas abordados está a falta de brasileiros na Europa. Na sua opinião, por que os técnicos daqui não tem oportunidades? O peso do 7-1 atrapalha?
O grande problema é que nossos jogadores da base sobem para o time principal com muitos defeitos, na formação do atleta e principalmente no que diz respeito a parte tática. Quando os jogadores chegam lá na Europa, eles encontram muitas dificuldades por esse problema tático, eles acham essa falha grave praticamente em todos os jogadores brasileiros, por isso fica condicionado para eles que nós treinadores não damos importância nesse aspecto.
3. O que achou da nova Taça Libertadores? O G6 valoriza o nosso campeonato ou o contrário?
Acho que vai diminuir o lado competitivo e piora ter que fazer 4 jogos eliminatórios com as equipes ainda no início de temporada.
4. Nesse período sem trabalhar, qual vem sendo sua rotina? Fez algum curso? Quais?
Estive em vários países mas não gosto de selfie ou de ficar falando onde fui e com quem estive, futebol você aprende todos os dias assistindo, depende da maneira que você vê.
5. Como falamos anteriormente, faltam treinadores daqui na Europa. No entanto, você já teve a oportunidade de trabalhar no velho continente. Falando mais especificamente do Marseille, como foi sua experiência? E a comunicação, como funcionava? Muitos batem na tecla da falta de um segundo idioma para nossos profissionais.
Minha passagem lá como em Portugal e Emirados árabes foram muito boas. Em Portugal subi duas equipes, Famalicão e Belenenses, e conquistei a taça de honra de Lisboa tendo como adversários Benfica e Sporting. Nos Emirados ganhei dois torneios e os três títulos oficiais do país. Sobre a língua me safo, o inglês eu falo muito bem, assim como o francês (joguei dois anos no Paris Saint Germain).
Abel conseguiu o que pouquíssimos profissionais brasileiros conseguem hoje em dia: ser técnico na Europa. |
6. Você passou um bom tempo trabalhando no mundo árabe, e, embora bastante conhecido por aqui, são raríssimas as pessoas que acompanham o futebol de lá. É quase consenso que o nível técnico não é de excelência, mas como é o nível tático das equipes?
Nível técnico muito bom, com um aspecto negativo, o futebol para eles é diversão, pois todos os árabes dos Emirados tem emprego e salario vitalicio então jogam para se divertir, acho que mudei um pouco isto quando estive lá. E sobre parte tática é bem interessante pois todos treinadores são estrangeiros, acaba que conhecemos várias escolas diferentes.
7. Falando mais uma vez da parte tática, na sua visão, por que o uso de três zagueiros é cada vez mais raro, principalmente no Brasil? O que você acha do esquema?
Eu particularmente gosto desse sistema, mas não concordo contigo, pois na Europa alguns times estão aos poucos voltando a usar esse sistema e com sucesso.
8. Alguns “jogadores padrões” do futebol mundial estão sumindo com o tempo como o camisa 10 clássico, já outros conceitos estão voltando à tona como volta da utilização de pontas e a conscientização de que lateral precisa defender antes de atacar, como você vê essa mudança de conceito e readaptação de posições e funções antigas? Fred por exemplo, é um “nove fixo” e continua desequilibrando mesmo com muito especialistas dando sua função como “batida” no futebol moderno.
Cada vez mais os espaços diminuem no futebol por causa do grande avanço da parte física, por isso acabou o espaço para o dez clássico, falam que o último é o Douglas, do Grêmio, que está jogando mais atrás para não ter que receber a bola de costas. Eu nos clubes que trabalhei nunca deixei de jogar com jogadores pelo lado do campo, por exemplo: no Inter de 88 vice brasileiro, eu era o técnico mais jovem na primeira divisão e tinha Mauricio ex-Botafogo de um lado e Edu lima ex-Cruzeiro do outro, e isso vem até hoje.
Além do sucesso em terras tupiniquins, Abel também tem muito respeito no mundo árabe. |
9. Foi um prazer para nós, concluir essa entrevista. Deixe um recado para seus fãs ou até mesmo algo que queira dizer e não teve a oportunidade diante das perguntas, um grande abraço e toda a sorte do mundo!
Grande abraço a todos aqueles que gostam de futebol e a todos que gostam de assistir times e estratégias ofensivas no futebol brasileiro. Talvez esse tenha sido o meu maior legado, nunca tive medo de perder, abraços.