Quase homônimo e semi-fenômeno


A cada gol de falta, a certeza: Ronald Koeman não é normal. Definitivamente não. O holandês foi um dos maiores zagueiros da história dos Países Baixos. Mas também pudera: Koeman foi líder da defesa, ao lado de De Boer e Stam, nas incríveis Holandas de 1994 e 1998. Seguro e habilidoso, é referência até hoje no que tange à “zagueirança”. Além do mais, tinha uma habilidade singular em bater faltas. Foi dos pés dele que veio um dos gols mais importantes da história do Barcelona, aquele que garantiu o título da Copa dos Campeões da temporada 1991/1992 (um time repleto de bons jogadores, como Guardiola e Stoichkov, comandados pelo eterno Johan Cruyff).

No entanto, ao se lembrar de Ronald Koeman hoje em dia, a coisa que vem à cabeça do indivíduo pensante é algo mais complexo. Ronald Koeman tem se tornado sinônimo de bom futebol e de extrema inteligência de gestão. E eu, humilde liquefeitor de palavras, buscarei explicar-vos do por quê.

Todo mundo conheceu o encantador time do Southampton, ao menos já viu o time do sul da Inglaterra jogar alguma vez na vida. Pois então: Koeman, antes de assumir o Everton (um time que faz um interessantíssimo início de temporada), era treinador dos saints. Certo, mas o que isso tem a ver com o texto?

A resposta, caro leitor, é que tem tudo a ver, ora. O Southampton passou por revoluções e revoluções em pouquíssimo tempo. E Koeman esteve presente em uma delas. Na sua gestão, montou um time novo, mesmo tendo perdido jogadores importantes como Lallana, Lovren, Boruc, Schneiderlin, Clyne, Shaw, Chambers e Lambert. Com sua visão fantástica de mercado, trouxe jogadores como Mané, Pellè, Tadić, Clasie e Van Dijk. E o Southampton, sob sua tutela, conseguiu brilhantes campanhas na Premier League, sendo a melhor delas um glorioso sexto lugar na temporada de 2015/16.
Nos saints, trabalho elogiável do holandês.

Uma vez no Everton, Koeman foi pontual no mercado. Buscando montar uma “seleção alternativa” da Premier League, trouxe o bom goleiro Stekelenburg, o zagueiro destaque da Eurocopa por País de Gales, Ashley Williams, a única parte boa do lamentável Aston Villa da temporada passada Idrissa Gana Gueye e o habilidosíssimo ponta do Crystal Palace, Yanick Bolasie. Com isso, a equipe teve um belo início de temporada na Premier League, com apenas uma derrota em quatro jogos. O sexto lugar já é uma evolução daquilo que antes fora um decepcionante time de meio de tabela, nas mãos de Roberto Martínez.

A estrela de Romelu Lukaku brilha muito em Liverpool desde a temporada passada, mas com Koeman parece que seu nível subiu. Em sete jogos, seis gols na conta do belga, que busca melhorar seu rendimento em relação ao ano passado, quando deixou sua marca dezoito vezes em trinta e sete jogos na Premier League, sendo um dos artilheiros e destaques da milionária liga inglesa.
Koeman faz o Everton render bem mais, e quem ganha com isso é Romelu Lukaku.

Koeman carrega muito o DNA holandês de futebol bonito e ofensivo nos seus times. Seu Southampton, montado com um meio-campo consistente e um ataque fulminante, com cinquenta e nove gols na temporada passada, tinha um jeito laranja de jogar futebol. Jogadas fluíam, pontas eram utilizadas, existia uma forte pressão na saída de bola do adversário: aspectos de jogo intrínsecos à escola de futebol dos Países Baixos. No Everton, é possível perceber algumas dessas ideias de jogo começando a serem implantadas. A acensão de Mirallas, ótimo ponta belga, e o volume de jogo de Gueye (como já citado, um achado no meio de uma equipe em crise, como era o Aston Villa) indicam que Koeman busca inspiração em verdadeiros gênios do Esporte: de Johan Cruyff a Louis Van Gaal (sim, o teimoso e arrogante treinador ex-Manchester United tem muitos méritos na formação dos bons treinadores da contemporaneidade), muitos filósofos da bola parecem ter colocado ideias na cabeça de Ronald Koeman.

No olho do furacão, com um número absurdo de brilhantes treinadores na Premier League, Koeman parece se firmar como um dos grandes do planeta bola. Suas ideologias e pensamentos parecem fazer bem ao Everton, que cada vez mais adere ao estilo “koemano” de se jogar bola. Se Ronaldo (o nosso Ronaldinho, aquele que injustamente é lembrado mais pelos quilinhos a mais do que por sua explosiva habilidade) fora um fenômeno, seu “quase-xará” Ronald também tem tudo para ser um. Isso se já não for. Bom; como diria o filósofo, isso só o tempo dirá.
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