Pep Guardiola é um vencedor. Técnico multicampeão, comandou
um dos maiores times da história no Barcelona e ganhou ainda mais alguns
títulos na equipe do Bayern de Munique. Perfeccionista, conhecido por potencializar
rendimento de atletas e por ter soluções táticas criativas para melhorar
desempenhos de suas equipes, é considerado por muitos (incluindo este que aqui
escreve) o melhor técnico do mundo. Mas ainda humano. Erra. Como errou de novo.
Não estou aqui para falar sobre a tão contestada troca de
arqueiros no início da temporada, mas sim com a forma como lidou com o duelo
frente a um grande conhecido seu: Lionel Messi. Recentemente vendo trechos de
uma entrevista de Vanderlei Luxemburgo, algo me desperta a atenção. Ele
mencionou uma partida no seu Real Madrid em que havia sido derrotado pela
Juventus, após estar vencendo. No vestiário em conversa com Zidane ele se
questiona, como havia conseguido perder aquela partida. O craque francês então responde
que havia sido por substituir ele e Ronaldo. Vanderlei então o responde que
ambos estavam se arrastando, mas logo é contradito com a seguinte frase: “Mas eles respeitam a mim e respeitam ao
Ronaldo”. Isso tudo pelo simples motivo de que esses atletas exigem do
adversário uma postura diferente ao enfrentar. Marcação organizada de uma
maneira especial, sem a possibilidade de conceder nenhum metro a mais aquele
atleta que tecnicamente sobra em relação aos demais, o que exige inclusive que
a equipe abdique um pouco de sua vertente ofensiva, para não ser duramente
castigada por um dos gênios desse esporte.
Jogadores como Zidane e Ronaldo, exigem do adversário atenção diferente, independentemente do seu momento físico e técnico. Com Lionel Messi a situação não é diferente |
Guardiola já enfrentou Lionel Messi mais de uma vez. Na
primeira tentou dominar o meio com o intuito de criar mais e igualar as ações
frente aos catalães. De forma meio que impensada deixou o trio de zaga no mano
a mano com um dos melhores ataques dos últimos anos. Posicionamento corrigido
ao longo do jogo, mas nenhuma alternativa defensiva tentada a parte para conter
o chamado trio MSN. Apesar da defesa conseguir se sobressair em boa parte do
jogo, logo foram penalizados. Na primeira o tradicional corte para o meio e
finalização de Messi. Na segunda desmoralizante drible pra cima de Boateng que
fazia boa partida e um dos gols mais bonitos da carreira do argentino. No
segundo confronto, um Bayern ainda mais voltado para a ofensividade que
conseguiu marcar os gols que precisava. Mais sofreu outros dois, sendo um com
excelente passe de Lionel.
Contra o Bayern de Guardiola, Messi fez jogada humilhante pra cima do ótimo zagueiro Jerôme Boateng |
Agora pelo Manchester City, veio a encarar novamente o
Barcelona pensando novamente em alguma solução ofensiva para surpreender os
catalães. Um 4-2-3-1 com De Bruyne no centro do ataque. A ideia era contar com
que os recuos do então falso nove, abrisse espaços nas costas da defesa para
jogadas em diagonal de Nolito e Sterling. Uma má ideia, já que abdicava do
grande artilheiro da equipe e o seu Manchester City ainda não estava habituado
a ideia de jogar sem um centroavante. Mas para o setor defensivo, nenhuma novidade
planejada. O City foi enfrentar como se encarasse mais uma equipe inglesa.
Contra o Barcelona a única diferença no que vinha aplicando foi a utilização do belga Kevin De Bruyne como falso nove |
Após ganhar dividida com Kolarov, Messi teve amplo espaço
para avançar entre os volantes e a zaga. A chamada entrelinha, a conhecida zona
onde Guardiola fez Messi explorar ao máximo esse espaço quando o utilizou como
falso nove. Na conclusão da arrancada, passe para Iniesta e devolução para que
ele definisse. Seu City que também não conseguia ter mais posse, dava mais
espaço que deveria para Lionel. O segundo quase saiu em nova arrancada que
serviu Suárez, mas que Bravo defendeu em dois tempos. O que era espaço no
primeiro tempo, virou latifúndio no segundo com a expulsão de Claudio Bravo em
erro grave. Mais dois gols, um pênalti sofrido e o passe para o tento de Neymar
que selou a goleada. O estrago só não foi maior, por que o argentino por
incrível que pareça não estava no seu melhor dia. Errando muitos passes,
terminou a partida com um índice de acertos de apenas 54%. Guardiola entrou
para controlar o jogo, ter a posse, utilizar das diagonais de seus pontas como
forma de criar chances e obter resultado. Não conseguiu e ainda foi mais uma
vez duramente penalizado por não fazer algo que até o hoje considerado
antiquado Vanderlei Luxemburgo entende: não se encara jogadores ditos gênios da
mesma forma como se enfrenta qualquer equipe. Não se tratando apenas de Lionel
Messi, também sofreu mesmo no seu Barcelona (apesar de ter mais vitórias no
período, incluindo algumas goleadas marcantes) e também no Bayern frente a
Cristiano Ronaldo.
Se Pep Guardiola quiser conquistar a Champions League nessa
temporada precisa atentar a forma como vai encarar (e se defender)
especialmente frente a Barcelona e Real Madrid. Já que desde que deixou a
Catalunha, seu saldo nesse tipo de confronto é bem negativo, especialmente pelos
seus dois jogadores ditos gênios do futebol.
Lionel Messi mais uma vez "castigou" uma equipe do seu antigo mentor Pep Guardiola |