Alternativas táticas #2 - São Paulo

Depois de algum tempo, é verdade, um pouco de demora devido à faculdade e algumas complicações pessoais, heis que vos falo novamente para a segunda edição desta série, onde busco alguns times do Brasil, alguns elencos, para fazer uma reflexão sobre possíveis novas formações, esquemas e táticas que poderiam ser facilmente aplicadas por seus treinadores a fim de se obter o máximo de cada jogador em específico. Desta vez, a pedido do público por meio de uma enquete no grupo oficial do blog, discorrerei sobre o tricolor paulista.

O 2016 tricolor, em que por algumas rodadas sofria-se com a possibilidade de um rebaixamento, dadas as importantes perdas do craque Ganso, do excelente atacante Jonathan Calleri e do técnico Edgardo Bauza para a seleção argentina, foi completamente irregular. Tal irregularidade deixou o clube paulista na décima colocação do Campeonato Brasileiro e acarretou na demissão do técnico Ricardo Gomes em Novembro, antes mesmo de se terminar a liga nacional.

Em 2017, o São Paulo busca por uma renovação, algo que possa fazer com que o time retorne ao seu tempo de glória. Para isso, a principal novidade foi o retorno de seu maior ídolo, porém, agora como técnico, o ex-goleiro Rogério Ceni. Além disso, ótimas contratações foram feitas, em todos os setores. Para o gol, talvez a mais exigida das posições pelos torcedores, foi trazido o experiente Sidão, vindo de excelente temporada pelo Botafogo. Na defesa, talvez a mais subestimada das contratações feitas por um clube brasileiro, o zagueiro Douglas, vindo do Dnipro, tem tudo pra ser um dos melhores defensores do campeonato nacional. No meio vieram Cícero, do Fluminense, e Jucilei, do Shandong Luneng da China. Para o ataque, foram três, os pontas Neílton, que veio de uma troca por Hudson com o Cruzeiro e Wellington Nem, o canhotinho ex-Fluminense, extremamente habilidoso, mas sem espaço no bom time do Shakhtar Donetsk, por fim, a mais badalada das contratações, o argentino, titular da seleção, Lucas Pratto. As renovações não passam apenas pelas contratações, mas também nas categorias de base, e Cotia é um ótimo lugar para se revelar jogadores. Os são paulinos depositam novas esperanças principalmente no lateral Júnior Tavares e no atacante Luís Araujo.

Com base nessa introdução, algo que podemos perceber é a qualidade defensiva da equipe tricolor, pelo menos no papel, tendo pelo menos 3 zagueiros que podem ser facilmente considerados de topo em âmbito nacional. Já de cara, uma das alternativas a serem mostradas aqui está bastante na "moda" e chega a ser bem óbvia.

O 5-2-3 de Antônio Conte:

Engana-se aquele que automaticamente relaciona o jogo do Chelsea e a sua formação como um esquema completamente defensivista. Lógico que a maioria dos técnicos que utilizam essa formação buscam um jogo que bloqueie mais espaços, explore os erros do adversário e avance com velocidade, mas não é uma regra. É importante que se saiba que o essencial num esquema tático são as movimentações dos jogadores e não necessariamente o número que a formação mostra. Com isso, podemos ver dentro desta, duas alternativas possíveis de estratégia num mesmo sistema de jogo, e isto pode fluir durante uma partida, de acordo com os comando do técnico. Interessante se observar que as diferenças entre o que o 5-2-3 de Conte pode fazer e o 4-3-3 muito utilizado por Guardiola no Barcelona é mínima. O líbero, entre os dois zagueiros, funcionaria de forma muito parecida ao Pivô, função exercida por Busquets no clube catalão.

Nisso tudo, alguns requisitos precisam ser preenchidos. Percebam como o São Paulo atende a todos eles:

- Zagueiro com técnica acima do normal: Quem melhor do que Rodrigo Caio para fazer a função de líbero no país? Qualidade no passe, visão de jogo, velocidade, são alguns de seus atributos, e que são fundamentais, tanto para funcionar como elemento central da lavolpiana, garantindo uma saída de bola de qualidade, quanto para a cobertura dos zagueiros, caso a defesa seja perfurada (o que em si já é algo muito difícil de acontecer);


- Pelo menos um lateral muito agressivo e rápido: Num sistema com muitos jogadores prioritariamente defensivos, um lateral mais agudo e com eficiência no ataque torna-se necessário para promover, não só amplitude, mas profundidade e permitir as infiltrações pelo meio. O jovem Júnior Tavares cumpre bem o papel, o lateral Bruno também não é má opção;

- Volantes combativos e com bom posicionamento, pelo menos um rápido e agressivo: Os dois meias devem auxiliar no bloqueio de espaços no momento defensivo, entretanto, precisam saber passar a bola e sair jogando, afinal, como eu deixei claro, buscamos um esquema mais variável, numa situação em que o técnico opte por pressionar o adversário e controlar o jogo, qualidade no passe é fundamental. Para tantas responsabilidades, os meias precisam ser bem resistentes e terem boa consciência tática. Uma dupla entre Jucilei, Cícero e Thiago Mendes seria o mais recomendável, com Thiago sendo o meu favorito pela compatibilidade aos atributos necessários.

- Pontas velozes e bons dribladores: Pela esquerda, o craque Christian Cueva, sendo o condutor do time tanto nos contra-ataques, usando a velocidade e a boa tomada de decisão, quanto no controle de jogo, centralizando e abrindo espaços para Júnior Tavares partir pelo lado esquerdo, armando o jogo e também infiltrando em diagonal. Na direita, decide-se entre Wellington Nem e Luiz Araujo, ambos de características parecidas, sendo bem incisivos, dribladores e velozes, capazes também de puxarem contra-ataque e infiltrarem em diagonal.

- Centroavante eficiente e criativo: Seja um "Falso Nove" ou um jogador que faça bem um pivô, o centro-avante precisa auxiliar o time na criação, além disso, precisa ser mortal, chances de gol não podem ser desperdiçadas. Lucas Pratto é exatamente o que o São Paulo precisava para a posição, além de ser bastante móvel, inteligente e solidário, é um atacante frio e exímio na finalização.

A partir do que foi dito, podemos escalar o time da seguinte forma:


Nesta imagem torna-se perceptível a possibilidade de se jogar para frente, mesmo com uma "linha" de cinco defensores. Veja como Rodrigo Caio, posicionando-se entre os outros dois zagueiros, mesmo como líbero, ou seja, mais preso, promove um jogo de posição muito parecido com o de Busquets no Barça de Guardiola. Como dito, o mais interessante desta formação é a variedade que o esquema pode providenciar. Pode-se jogar tanto ofensivamente, com laterais se mandando pro ataque, infiltrações pelo centro tanto a partir dos meias quanto dos pontas, ou mesmo de forma mais pragmática e defensivista, com meias mais preocupados no bloqueio de espaço e as ações ofensivas sendo controladas pelos pontas, que não necessitam recompor, mas na verdade, esperarem na frente para contra-ataques no mano-a-mano, que sempre é vantagem para o ataque devido à ausência de coberturas.

O 4-3-2-1 de Ancelotti:

Segundo post desta série (confira aqui o primeiro) e segunda vez que esta formação aparece como alternativa. Entretanto, é óbvio que há diferenças, afinal, nenhum jogador é exatamente igual ao outro e cada elenco têm suas diferentes características. Diferente do time do Cruzeiro, o São Paulo possui uma equipe menos técnica, mas muito mais dinâmica e veloz comparado ao clube azul-celeste. Essa velocidade e dinamicidade altera bastante no próprio esquema. Tendo Nem como um dos meias ofensivos, e sendo este um jogador muito mais driblador e incisivo do que propriamente um grande armador, há uma exigência de um jogador mais qualificado para chegar junto à Cueva pelo centro, e podem ser tanto Thiago Mendes quanto Cícero, os dois meias que alternarão entre as funções de box-to-box e carrillero.


As constantes trocas de posições e movimentações realizadas pelos jogadores podem se tornar um fator decisivo para surpreender a defesa adversária. No lado esquerdo do campo, Cueva pode permanecer mais centralizado, abrindo espaço tanto para as dobras de Junior Tavares e Cícero pelos lados, quanto pode abrir, deixando o centro livre para as infiltrações do camisa 8. De qualquer forma, o time é muito perigoso, porque ataca em bastante número sem se comprometer defensivamente.

A única substituição em jogadores que esse sistema necessita é a entrada de Jucilei, que funcionará como um volante construtor, mais recuado, que também acaba sendo importante na recuperação de bolas no meio. Toda a organização tática da equipe passa pelos pés dele, é dele a função de clarear as jogadas, iniciar a saída de bola, fazer alguns lançamentos em determinados momentos, além de bloquear ultrapassagens dos atacantes adversários e roubar a bola antes que passe da linha de meio.

O maior bônus desse esquema é a proximidade dos jogadores, o que favorece a quantidade de apoios, independente da zona de campo que a bola estiver sendo trabalhada. Com a bola em alguma faixa lateral, tanto o meia central quanto o meia ofensivo daquele mesmo lado podem abrir, enquanto os do lado oposto centralizam. No centro, os laterais ou os meias ofensivos podem providenciar amplitude, enquanto os demais promovem o jogo de apoios. O centroavante quase sempre será um elemento de profundidade, mas também pode abrir espaços por meio de recuos ou pivôs, deixando seus companheiros explorarem espaços gerados.

É preciso que se esclareça que em ambas táticas que, como em qualquer plano de jogo, a ideia é organizar um time pra extrair o máximo dos indivíduos. Uma equipe com um craque como Christian Cueva precisa de jogadores dispostos a movimentarem-se para criar espaços e dar liberdade para que o peruano possa criar suas próprias jogadas, seja com dribles ou com passes, ele é a figura central e craque do time. Mesmo assim, ser figura central não significa ter mais importância que os outros, afinal, não adianta ter um jogador com esta qualidade quando o resto do time não o acompanha. A equipe precisa também saber funcionar em sua ausência, que vai acontecer, seja nas convocações, suspensões ou lesões, ou seja, sem depender somente de seu talento, mas agir como um conjunto, é dessa forma que times se tornam campeões.
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