TITE - O legado no Corinthians e o futuro na seleção


Para medir a grandeza de um trabalho, principalmente do treinador, costumamos avaliar somente os troféus postos na galeria do clube. Mas, em alguns casos, a avaliação e os benefícios vão muito além disso, sendo Tite no Corinthians um exemplo bem claro. Mais do que conquistas, o novo treinador da seleção brasileira deixou um legado tático, de postura e estilo de jogo em Itaquera, além de, para muitos, ter mudado o patamar da equipe no olhar dos demais clubes e torcedores do país.

Apesar do bom trabalho de Mano Menezes, que inclusive o credenciou ao cargo hoje ocupado por Tite, o Corinthians ainda não estava no nível que se encontra atualmente. Adilson Batista, mesmo num curto período, conseguiu atrasar ainda mais essa consolidação, que só veio com Tite, já no ano seguinte. Mesmo com a eliminação para o Tolima, o técnico permaneceu no comando e no final do ano erguia seu primeiro Campeonato Brasileiro com o timão. Fazia seis anos que o time paulista não faturava o título nacional, já era um feito e tanto para Adenor, mas ele foi buscar mais.

Tirou as piadas da boca dos rivais. Trouxe Libertadores, Mundial, respeito. Em meio a isso, destacava-se pelo espirito coletivo, pelo setor defensivo muito bem montado e pela inteligência e eficiência na hora de atacar. Faltava show para alguns, faltavam gols para outros, mas era impossível negar: o time de Tite estava a frente dos demais.
Tite deu o mundo para o Corinthians.

O ciclo desgastou-se e Tite se foi. Naquela época, já com o sonho de dirigir a seleção. Estudou, se preparou, esperou e foi ignorado. Voltou então a sua casa, nos braços da Fiel. Muitos não acreditavam completamente, mas ele consolidou seu legado. Se reinventou. Se antes faltavam os gols, agora eles vinham em grandes jogadas. Trouxe ofensividade, implantou um esquema moderno e novamente se destacou pela coletividade. Sobrou e conquistou.

Em 2016 nada foi como o esperado. Elenco modificado, trabalho prejudicado, mas ainda assim competitivo. Mudou o esquema, encaixou as poucas peças que tinha e vinha fazendo trabalho digno. Dessa vez o convite chegou, com atraso, mas ainda assim em boa hora. Merecido demais, o sonho de Adenor se realizava.

No Corinthians, deixou a filosofia de coletividade e obediência tática. "Acostumou mal" os torcedores. Brigou por tudo que disputou e pressiona o seu sucessor a fazer o mesmo. O projeto está lá, é preciso dar continuidade. Mas e agora, o que esperar dele na seleção?
Mais um título no ano passado só serviu pra coroar sua história no alvinegro. Mas mais importante que isso foi o legado deixado por Adenor. Ele mudou o clube de patamar.

Muitos o veem como herói, como uma espécie de Messias que vai chegar e ser campeão do mundo com o pé nas costas. Um absurdo. Outros batem o pé para dizer que ele não vai dar certo por que precisa de repetição constante para obter êxito. Um exagero. Tite pode ser o meio termo.

Dizer que a equipe vai evoluir taticamente nem é necessário, já que há dois anos nem sabemos o que é tática. O que vale ser ressaltado é o quanto o novo treinador brasileiro consegue e pode explorar de seus jogadores. Não apenas em função e posicionamento, mas em entrega e inteligência tática. Alguns insistem em dizer que o time de 2015 só deu certo por que ele insistiu por meses, até "dar liga", o que acaba desmerecendo todo o trabalho tático realizado pelo próprio. É óbvio que repetição aproxima da perfeição, mas com jogadores qualificados não tem por que duvidar que ele consiga um bom rendimento mesmo com os curtos períodos de treino.
A esperança do hexa nacional.

Tite não chega na seleção por bons seis meses ou uma temporada de trabalho, chega por quase quatro anos de excelência, com pelo menos três sistemas e ideais de jogo diferentes neste período. Muitos questionam o repertório do treinador, mas basta analisar os times campeões em 2011, 2012 e 2015 para ver todas as diferenças táticas que ele apresentou nos tempos de Corinthians.

Quando criticaram a falta de gols, ele estudou para superar este problema. Nesta temporada o acusaram de ser refém do 4-1-4-1 do ano anterior, ele achou o time num 4-2-3-1 dinâmico e com três meias de criação movimentando-se demais. Provas de que entende e não é um técnico limitado, como (incrivelmente) alguns tentar fazer parecer.

A seleção não vai passar da água para o vinho em um, dois jogos, mas a chance de evoluir muito rapidamente nas mãos de Adenor é gigante. Não devemos o pressionar como se fosse Deus, muito menos pedir sua cabeça em caso de resultados ruins. Se ele tem pouco tempo para treinar, que tenha tempo para trabalhar. Os resultados devem, aos poucos, ser muito satisfatórios. Capacidade para isso ele tem e nos provou por anos que pode tirar tudo de um jogador fraco, torçamos então que consiga extrair o máximo também de nossos melhores atletas. 
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