"Você viu aquele treinador do Oeste? O cara é maluco, negou a proposta do Corinthians, vai ficar lá para sempre", disse João, na mesma padaria de outrora, numa sexta-feira de manhã. Para quem acompanha nosso blog, este início pode lhe ser familiar. E é mesmo. Em novembro de 2015, escrevemos por aqui o "Escolhas equivocadas?", onde começamos o texto mais ou menos assim. A postagem de hoje, no entanto, é quase que uma correção ou resposta ao que retratamos meses atrás. O pensamento parece ter mudado.
O mercado de treinadores no Brasil é muito complicado. Não se tem segurança de permanecer no cargo por tempo suficiente, por conta disso, é bem comum vermos a chamada "dança das cadeiras", onde os profissionais abandonam projetos em andamento e abraçam uma proposta melhor para o momento. Em novembro, citamos por aqui os casos de Doriva e Eduardo Baptista que, naquela altura, trocaram um projeto em andamento por uma incógnita, apenas pelo maior status do novo clube.
Desta vez, em meio a saída de Tite do Corinthians para a seleção, muitos treinadores tiveram a tentadora oportunidade de largar tudo e juntar-se ao timão, mas não o fizeram. Como citado no inicio do texto, Fernando Diniz negou o cargo, preferindo seguir com o ambicioso projeto do Audax-Oeste. O próprio Eduardo Baptista recusou por compromisso com seu atual clube. Roger Machado foi outro a dizer "não" para a posição de substituto de Adenor. Também consultado pelos alvinegros foi Dorival Jr que, por treinar um rival, era quase certeza de negativa. Além desses casos, Sylvinho também negou o cargo no Corinthians. Sem comandar time nenhum, o ex lateral esquerdo optou por seguir se preparando e se mantém como auxiliar na Inter de Milão.
Eduardo Baptista já deixou o Sport no ano passado, mas dessa vez se manteve firme com seu compromisso atual. |
Por mais que possamos afirmar que a pressão de substituir Tite assusta ou não atrai, é inegável que isto prova um pouco da mudança de mentalidade dos profissionais da prancheta. Muitas vezes uma mudança, por mais lucrativa financeiramente que seja, não traz benefício nenhum e só serve para te tirar do mercado. Prova também a humildade, no caso de Sylvinho, de assumir que pode não estar pronto e que prefere seguir se preparando. Não importa o quão complicado seja o meio dos treinadores, se desesperar e abraçar qualquer proposta não é o ideal.
Agora, com essa mudança de pensamento dos técnicos, quem tem que evoluir são as diretorias. Assim como faziam os comandantes meses atrás, os diretores parecem entrar em pânico quando estão sem um profissional e vão ao mercado sem pensar, oferendo altos valores para todos os nomes possíveis. É hora de pensar mais. Olhar característica, custo benefício e traçar um projeto. Os treinadores parecem cada vez mais convencidos a permanecer o máximo possível num clube, dando mais atenção a continuidade do que a grife, resta agora um pensamento maior também dos clubes para possibilitarem uma mudança positiva neste mercado.