História! O que para muitos seria apenas um passo para a competição mais cobiçada pelas seleções europeias à nível continental, para a Seleção Norte Irlandesa de Futebol pode ser um grandioso deleite e, ainda, um grande sonho aflorando em frente aos seus olhos.
Merecido! Após assistir uma farta lista de grandes jogadores que não alcançaram tais êxitos pela seleção, como Danny Blanchflower, Pat Jennings e, claro, George Best, chegou a vez do adepto norte irlandês agradecer um futebol objetivo e bem jogado se classificar para este relevante torneio.
Esclarecendo, a Irlanda do Norte conquista uma vaga para disputar a Eurocopa pela primeira vez em sua história. Apesar de já ter comparecido em 3 Copas do mundo (1958, 1982 e 1986), a torcida local pode se manter mais confiante. A campanha irretocável nas Eliminatórias mostram que "Norn Iron" pode incomodar.
São 21 pontos conquistados em 30 disputados. Garantindo-se na liderança do Grupo F, os norte irlandeses venceram 6 jogos, empataram 3 e perderam somente 1. Obtiveram ainda o melhor ataque do grupo, com 16 gols e a segunda melhor defesa, com 8 sofridos. Entretanto, não basta apenas salientar a classificação. Ao analisarmos as condições e o preparo das equipes nessas Eliminatórias, é possível perceber que existe uma real chance da seleção campeã do torneio ser uma famosa "zebra". Por certo que não é desrespeitoso dizer que a Irlanda do Norte seria uma zebra, mas o que dá as reais condições para essas equipes terem chances no campeonato é o fato da inexistência de disparidade entre os favoritos e os mais fracos.
Deixaremos as possibilidades de título dessas seleções para um outro momento. Nesse instante, é importante esclarecer o que levou a Norn Iron à vaga. Para isso, podemos observar as peças da equipe.
Sempre se procura um jogador que tem destaque em uma equipe de maior expressão nas seleções não tão tradicionais, mas que fazem grandes campanhas. Nesse ponto, o brilhantismo vai para Steven Davis. Titular do Southampton, tendo participado da campanha de destaque na temporada passada, o meia é o capitão da equipe norte irlandesa e tem papel importante no estilo de jogo da sua seleção. Não é à toa que participou de 9 dos 10 jogos e, coincidentemente, não esteve na única derrota de seu time, para a Romênia, por 2-0. Com sua capacidade de tramar as jogadas, o camisa 8 tem a responsabilidade de fazer fluir a condensada meia cancha norte irlandesa. Conta com o apoio de outros jogadores que fizeram excelente campanha. Norwood, por exemplo, marcou presença em todas as partidas da Norn Iron, sendo responsável por parte das letais bolas paradas da equipe.
Fazendo uma afiada dupla com o capitão, o artilheiro e destaque da seleção é Kyle Lafferty. O atacante do Norwich City deu alegrias a seus conterrâneos, fazendo incríveis 7 gols e dando uma assistência em 9 jogos que esteve em campo. Há de se relevar que a sintonia que Lafferty tem com seu companheiro Davis provém dos tempos de Glasgow Rangers, tendo os dois jogados juntos por 4 temporadas, sendo uma dupla de sucesso na terra escocesa. Kyle não esteve sozinho durante toda a campanha. A esporádica presença de McGinn durante as eliminatórias foi essencial, tendo sempre boa conexão com o companheiro de ataque.
A segunda melhor defesa do Grupo F também merece ser exaltada. O sucesso do setor pode ser explicado pelo fato de que 3 dos 4 homens daquela região jogaram pelo menos 9 dos 10 jogos, sendo eles Connor McLaughlin (9 partidas e 739 minutos em campo), Chris Baird (9 partidas e 801 minutos em campo) e Gareth McAuley (10 partidas e 848 minutos em campo). A constância e regularidade sedimentaram o sistema defensivo, que tomou 8 gols em 10 jogos, ficando atrás apenas da Romênia, que sofreu míseros 2 gols na campanha.
Aliás, a escola formadora desses atletas também é similar. Todos os jogadores que entraram em campo pela seleção nessas Eliminatórias são de clubes das Ilhas Britânicas, exceto Aaron Hughes, que joga pelo Melbourne City, da Austrália.
Por óbvio que não basta a disposição e qualidade individual dos atletas para fazer uma equipe ter sucesso, ainda mais quando não estamos falando de uma equipe com um jogador que possamos chamar de "World Class", como é o caso do País de Gales, com Gareth Bale. Por essa razão, a presença de um homem capaz de reger uma equipe na área técnica é essencial. Esse homem é Michael O'Neill. Chegou no comando da seleção em 2011, mas não conseguiu levar seu time à Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Pelo menos, o tempo de casa fez com que o treinador conseguisse armar uma equipe com mais padrão tático e que evoluiu durante a competição.
Tendo um início mais conservador e objetivo, a Norn Iron parecia ganhar os jogos no sufoco. Raramente tinha mais finalizações e posse de bola do que o adversário. Em compensação, era mortal nos contra ataques e bolas aéreas. Jogando com Lafferty isolado no ataque, O'Neill apostou na capacidade de transição do meio para o ataque com mais velocidade. Deu certo nas três primeiras rodadas.
O'Neill foi jogador de futebol na década de 80 e 90, tendo destaque pelo Newcastle. Defendeu a seleção norte irlandesa 31 vezes, mas é como treinador que vem ganhando destaque |
A equipe teve seu primeiro e único revés contra a Romênia, tendo mostrado mais volume de jogo apenas contra a fraca Seleção das Ilhas Faroé. Essa derrota foi um ponto de transição no estilo de jogo dos norte irlandeses. Com mais presença no ataque, mas ainda apostando na rápida transição, os comandados de O'Neill passaram a agredir mais, tendo a importante presença de um segundo homem de frente, Niall McGinn, o qual deu 4 assistências e marcou 1 gol nas Eliminatórias. Tendo sempre mais finalizações que o adversário, e buscando insistentemente controlar a partida após abrir vantagem, a equipe não perdeu mais até o fim da competição.
Com isso, o saldo da classificação para a Euro 2016 é positivo. O ''green and white army" pode estar defrontando uma real possibilidade de ir longe na maior competição à nível continental, sendo ainda mais importante a manutenção da boa forma da Norn Iron.