O 10 clássico sempre atraiu muitos olhares. Se no passado representava um jogador completo, que decidia partidas e comandava uma equipe tecnicamente, hoje se confunde com um atleta de pouca movimentação e muita qualidade técnica. Com a constante evolução do esporte bretão, é cada vez mais difícil vermos times optando por ter em campo alguém com essa característica. O jogo ficou mais intenso e cobra muito mais de cada uma das peças de uma equipe. A guerra de posicionamento acaba dando destaque a outra qualidade: a ocupação de espaços.
Neste sentido, por exemplo, podemos citar como exemplo recente o francês Kanté, grande destaque do Leicester campeão da Premier League e, na atual temporada, peça importantíssima no esquema do Chelsea de Antonio Conte. Porém, não é so desse tipo de atleta que se cobra intensidade. Outros jogadores, das mais diversas funções, também precisam se doar mais, buscar abrir espaços e movimentar-se para dar opção aos seus companheiros. Esses atributos cabem principalmente aos meio campistas centrais, que tendem a ser o termômetro de uma equipe. Fazendo a saída de bola ou recebendo ela entre as linhas, carregando-a até o ataque.
Destacam-se hoje, nesta função, diversos nomes, mas vamos citar o principal deles, pelo menos na opinião desse que vos escreve: Luka Modric. Ligado na partida os 90 minutos, poucas bolas passam pelo setor sem que o croata a carimbe com sua classe. Influente nas mais diversas áreas do campo, o meio campista do Real Madrid desempenha inúmeras funções dentro de uma partida, e chega o mais próximo possível de ser completo para a posição.
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| Modric é hoje o maior exemplo de meio campista completo. Pogba parecia trilhar seu caminho, mas aos poucos parece desempenhar outra função, bem distinta da do croata. |
Nos últimos anos, quem surgiu com enorme potencial para juntar-se a Modric como um craque da função foi Paul Pogba. O francês de passadas largas e imposição física tinha enorme influência no jogo, e, por conta de sua enorme qualidade técnica, se destacava em diversas partes do campo, podendo fazer a saída de bola ou aproximar-se do atacante. Ontem, no entanto, o vimos mais uma vez rendendo bem abaixo do que pode.
Pouca movimentação, participação pouquíssimo efetiva e posicionamento muito fixo, esse tem sido o jogo de Paul Pogba nos últimos meses. O meio campista do Manchester United mudou completamente sua forma de jogar e seu "excesso de calma", ou displicência, como preferir, por vezes é extremamente irritante.
É bem verdade que o ex-Juventus tem muita qualidade técnica, e, em partes, faz sentido que adiante seu posicionamento, porém, nada justifica a esterilidade que o mesmo demonstra em várias oportunidades. Na final da Eurocopa, por exemplo, vimos um jogador lento e sem vontade nenhuma de decidir o jogo.
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| Na final da Eurocopa, só a bronca de Pogba foi efusiva. Durante a partida, Sissoko parecia ligado no 220, ao contrário do jogador do Manchester United, pouquíssimo participativo na oportunidade. |
Atualmente, no estágio que vivemos no futebol, um craque não pode se restringir a parte técnica sem influir diretamente no jogo. No Brasil, muito se fala desse atraso de Paulo Henrique Ganso, que, para muitos, não consegue acompanhar o atual ritmo do esporte bretão. Na Europa, outro que é muito cobrado é Mesut Ozil, que embora esbanje talento, sempre recebe cobranças por mais movimentação e energia dentro das partidas.
Recentemente, por exemplo, fui ao estádio acompanhar uma partida do Palmeiras, líder do nosso campeonato brasileiro. Durante os noventa minutos, me encantei com a enorme movimentação de Tchê Tchê, um dos grandes destaques da competição nacional. O garoto não para. Ocupa todos os espaços e sabe jogar com e sem a bola. Dá opção o tempo todo, influindo diretamente em cada ação de sua equipe. É óbvio que não estamos aqui comparando Paul Pogba e o meio campista brasileiro, mas falta um pouco dessa voluntariedade ao francês.
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| É claro que Pogba não precisa ser Kanté, mas demonstrar parte da vontade do conterrâneo para influir no jogo já seria o suficiente. |
Não, não queremos que Pogba faça o que seu conterrâneo Kanté faz, nem é sua característica. Porém, sua força física, explosão e passadas largas possibilitam, e já possibilitaram, uma maior participação dele na construção de jogadas.
Se o meio campista moderno tende a ser o termômetro de uma equipe, o Manchester United deve permanecer frio se o francês não repensar seu comportamento. É claro que muito passa por Mourinho, que na partida contra o Liverpool, o colocou bem a frente, quase ao lado de Ibrahimovic. Mas, a intenção do português foi clara: dar a Ibra uma alternativa talentosa. Aproximar dois jogadores que podem, em um lance, decidir a partida. Porém, faltou movimentação a Pogba para que as tramas fossem possíveis, e vem faltando faz tempo. Pogba talvez precise ser um pouco mais Tchê Tchê e muito menos Ganso.




