Radialista, repórter e há quase 20 anos setorista do São Paulo Futebol Clube, Eduardo Affonso acumula atribuições em seu vasto currículo. Com uma carreira consolidada, o profissional da ESPN topou conversar um pouco conosco sobre diversos assuntos. Falamos sobre o jornalismo nos dias de hoje, relação com Rogério e dirigentes, além de pitacos sobre o Brasileirão e a nova Copa Libertadores. Confira na íntegra abaixo:
1.Você já trabalhou em diversos meios do jornalismo esportivo. Virtual, rádio e Tv. É na televisão que realmente se sente melhor? E aproveitando, como analisa essa nova medida de emissoras de rádio terem que pagar para transmitir jogos do brasileirão da mesma forma que ocorre com a TV?
É bem difícil para eu responder essa pergunta, eu vim da rádio, trabalhei 29 anos no meio. Foi uma transição bem complicada essa passagem diretamente para a televisão, embora eu já tivesse passado pelo ramo anteriormente, foi muito difícil largar a rádio. Agora, depois de um bom tempo já ambientado com a TV, me sinto bem melhor, bem mais entusiasmado com as matérias que eu faço, porém ainda sinto falta. Se eu colocasse em uma balança hoje, talvez o rádio ainda estivesse um pouco a frente da televisão, embora eu esteja muito satisfeito com o meu trabalho na TV.
Sobre a outra pergunta, penso que não há comparação de verba entre rádio e televisão, então se fizerem com que emissoras de rádio sejam obrigadas a pagar para transmitir os jogos, certamente irão falir ou deixarão de transmitir o campeonato, o que causará um grande desemprego. Acredito que a rádio talvez pudesse pagar uma quantia muito inferior, praticamente simbólica, e na minha concepção funcionaria da seguinte forma: Haveriam 3 tipos de planos. O primeiro seria um pagamento mais alto (na realidade das emissoras) onde a rádio teria direito a cabine com televisão, repórter no gramado e também um entrevistado exclusivo como algumas emissoras de TV possuem. O segundo seria um valor intermediário, sem direito ao entrevistado exclusivo mas se manteria o repórter no campo, direito a entrevistas coletivas e uma cabine de rádio. O terceiro e último poderia ser um valor praticamente simbólico, onde a emissora só teria direito a cabine e um microfone na zona mista. Dessa forma atenderia a todos e ninguém ficaria desempregado. Essa é minha opinião inicial, mas é algo que pode e deve ser estudado pelas próprias pessoas do rádio e por entendedores da legislação, até porque na legislação se diz que o direito de transmissão do rádio é sagrado e talvez essa medida vá contra aquilo que já foi estabelecido em lei.
2. Muito se fala do tal "futebol moderno". A maior crítica é feita para a dificuldade que o torcedor de menor renda tem para acompanhar seu clube. Para o setor de imprensa, os novos tempos do esporte facilitam ou dificultam o trabalho? É mais fácil trabalhar com jornalismo hoje?
Hoje é mais fácil trabalhar no sentido estrutural, a maioria dos estádios já possuem wi-fi, posições para rádio são razoavelmente boas, salas de imprensa para entrevistas confortáveis, nesse aspecto não se pode negar que as arenas deram um acréscimo considerável a cobertura jornalística. Porém, no contexto geral, essa cobertura é um tanto dificultada pelas normas e pelos padrões obrigatórios da CBF, entrada dos times juntos em campo, proibição de entrevistas (no gramado). Eu não tenho certeza se de fato temos o trabalho facilitado, talvez estejamos com o trabalho até dificultado. Eu, como sou um cara de 47 anos mas que exerço a profissão desde os 16 anos, sinto mais dificuldades e preferia como era feito anteriormente, quando tínhamos acesso a tudo e todos, podendo trabalhar com total liberdade. Hoje em dia tá cheio de mimimi, os fiscais da federação são mais importantes que os repórteres, o fiscal tem uma autoridade grande demais e isso acaba atrapalhando aquilo que é mais importante: levar a informação para o telespectador. Então eu não sou muito a favor dessa modernização principalmente pelo quesito imprensa.
3. Você acompanha muito de perto o dia a dia dos clubes paulistas, principalmente o São Paulo, que vive momento complicado. Como você vê a participação dos dirigentes nesse momento ruim? Como fica o clima para o jornalista?
Não dá para exemplificar em um contexto geral a participação dos dirigentes, é muito individual. Existem bons dirigentes, dirigentes ruins e dirigentes medíocres, então se tem de tudo. Por isso não há como dizer se é ruim ou boa, dá para dizer que é uma grande salada de fato, como por exemplo: Paulo Nobre é um ótimo dirigente na visão dos palmeirenses, tirou dinheiro até do próprio bolso pra montar uma equipe que pode ser campeã esse ano, trouxe de volta o respeito, a competitividade, hoje o Palmeiras entra em qualquer competição como favorito.
Só que ele está tirando dinheiro do próprio bolso pra recuperar posteriormente, será que isso é certo? O futebol então deve depende de pessoas físicas pra se manter? É complicado, até porque as vezes o próprio torcedor tem uma visão distorcida do seu dirigente, depende bastante do resultado dentro de campo.
Minha relação com eles é sempre a mesma, respeito, apuração de informação, falar a verdade e tentar ouvir a verdade. Infelizmente nem sempre se ouve a verdade e acaba-se entrando em algumas “batalhas através do microfone”. O dirigente pode ser meu melhor amigo, se eu achar necessário fazer uma crítica sobre a atuação dele como dirigente, não teria nenhum tipo de dúvida em fazer isso. Nem que isso custasse o cargo dele, acima de tudo está minha profissão, minha credibilidade e meu nome.
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| Para quem acompanha a ESPN Brasil, essa imagem é rotina. Poucos sabem tanto de São Paulo quanto Eduardo Affonso. São quase 20 anos como setorista do clube. |
4. Há muitos ex-jogadores entrando no ramo da informação esportiva, alguns são duramente criticados por expressar opiniões que destoam do senso comum e soam como absurdas. Como você avalia a entrada desse tipo de profissional e o momento do jornalismo esportivo como um todo?
Em outros esportes como vimos recentemente nas olimpíadas, o ex-atleta faz muita diferença no aspecto técnico, pois são poucos os jornalistas que dominam com clareza muitos dos esportes olímpicos. Talvez vôlei, basquete, handball, natação e atletismo até se haja um conhecimento geral maior, mas esportes mais incomuns são raros os jornalistas que são entendidos. Então quando você acrescenta um ex-atleta, você acrescenta qualidade naquilo que se apresenta ao telespectador.
No futebol é diferente, todo brasileiro que gosta de futebol, entende de futebol a ponto de poder discutir e trazer uma opinião. A diferença é que nós temos o microfone e os torcedores não, mas eles possuem a mesma competência para discutir futebol que nós jornalistas. Acredito que o ex-jogador agregado como comentarista/jornalista seja o ideal, não perde no aspecto jornalístico, pois se tem ali um jornalista representando a classe, e ao mesmo tempo há ali um ex-jogador que pode dar um tempero, uma visão diferenciada daquilo que acontece dentro de campo, afinal de contas, o cara viveu aquilo. Sou favorável a essa dupla atribuição jornalista/jogador, me parece bem legal.
5. Quais as principais dificuldades de trabalhar como setorista em um clube? Acontece de ser pressionado por dirigente para não criticar ou expor algo? Como era sua relação com o Rogério?
6. A biografia do seu twitter tem a frase "Vai Lusa!". O que você acha da imposição de alguns de que quem trabalha com futebol não pode ter time? Acredita mesmo que atrapalha assumir para quem torce?
Olha, é bem fácil dizer que é torcedor da Portuguesa que falar que torce pro Corinthians cobrindo o São Paulo, não há dúvida quanto a isso. Mas eu sou torcedor da Portuguesa desde antes de ser jornalista, antes de cobrir o São Paulo e eu não tenho medo de me expor porque é o time do meu coração, o time que eu gosto, que eu amo, que eu critico. Mas isso não impede, já fiz inúmeros jogos em que o adversário era a Portuguesa onde tive que que fazer o meu trabalho, talvez meio magoado com os resultados, mas na hora que abriu o microfone tentei ao máximo ser o mais profissional possível, não sei se falhei ou não.
Então, no meu caso não atrapalha dizer que torço pra Portuguesa, mas eu entendo aqueles que não dizem devido a um apelo popular muito maior como por exemplo: São Paulino não dizer que torce pro São Paulo pois cobre o Palmeiras vice versa. Acho que não deve ser uma imposição nem uma preocupação, acredito que cada um deva se sentir a vontade de falar ou não o time que torce. O mais importante é respeitar todos os clubes da mesma forma, o seu e os demais.
7. Falando um pouco de Brasileirão, como vê a atual disputa pelo título? Se tivesse que apontar algum candidato, quem seria? E os rebaixados?
Acredito que a disputa está entre Palmeiras e Flamengo, mas o Galo tem time pra uma arrancada, só não sei se ainda há tempo para isso, os demais eu não acredito. Pra mim está algo em torno de 45% pro Palmeiras, 45% pro Flamengo e 10% pro Atlético.
Sobre os rebaixados, eu não tenho dúvidas que Santa Cruz e América cairão, o Figueirense tem boas chances e sobre a última vaga eu penso que times como Vitória, Sport e Chapecoense precisam ficar bem alertas pois nessa briga também estão clubes com uma camisa imensa como Cruzeiro, Inter e São Paulo. Então, para essas equipes médias, é complicado pelo fato de que os grandes podem a qualquer momento dar uma disparada, mas está bem aberta e eu não ficaria surpreso se algum grande caísse.
8. Uma nova medida da Conmebol tem gerado polêmica pelas mídias sociais, acha que o aumento de clubes participantes juntamente com o acréscimo de mais brasileiros foi uma escolha acertada? E sobre os mexicanos, vale realmente tira-los da competição?
9. Tite tem começado muito bem na nossa seleção e mais uma vez se prova o melhor técnico brasileiro em atividade no momento, acha que ele pode vir a ser um diferencial para 2018? Convocações de jogadores como Taison e Paulinho são aceitáveis ao seu ver?
Eu cobri a seleção durante 12 anos da minha carreira e peguei uma fase bem complicada, cheia de falcatruas da CBF, um tratamento bem ruim da federação. Talvez por isso eu não seja um grande admirador da seleção brasileira, sou bastante indiferente quanto ao futebol do time nacional, não me agrada que perca mas também não muda meu dia caso ganhe. Porém, como jornalista acredito que os melhores devem estar ocupando as melhores vagas, é questão de meritocracia, então o Tite, como melhor técnico brasileiro em atividade, merece estar a frente da seleção. Então, de fato, ele pode sim ser o fator diferencial pra 2018.
Sobre as convocações, eu não contesto as escolhas do técnico, embora eu tenha as minhas preferências. Mas se o Tite os convocou é porque ele confia, as vezes nem são os melhores da posição, mas na visão do técnico eles são os melhores para aquela situação. Por isso eu não contesto o Paulinho, Taison e outros. Estão em mercados alternativos, mas se o Tite tem confiança, então não vejo problema em serem chamados.
10. Foi um imenso prazer realizar essa entrevista, deixe aqui um recado para os leitores e seus fãs, ou se utilize desse espaço para se expressar sobre algo que queria, um grande abraço e toda sorte do mundo!
Queria deixar um grande abraço a todos vocês, é bem legal esse trabalho que vocês fazem de entrevistas alguns jornalistas, fico bem agradecido pelo fato de terem me entrevistado. Para a galera que me segue, twitter, instagram e facebook eu deixo um abraço a todos. Nem tudo que eu falo é certo, mas tem muita coisa que eu falo que é e tem outras coisas que recebo dos meus seguidores que também são, é uma questão de um aprendizado diário. Obrigado!


