Solucionando polêmicas vazias - Bruno Formiga


Bastante famoso nos últimos meses pelo quadro "Polêmicas Vazias" do Esporte Interativo no Youtube do Esporte Interativo, Bruno Formiga se revela um apreciador de artes marciais, vivendo praticamente toda a sua vida no Ceará, fala com propriedade sobre torcedores nordestinos que escolhem times do sudeste para torcer e explica um pouco sobre o atual calvário do tradicional Fortaleza. Quando perguntado se ele mesmo se via como Youtuber, deixa uma possibilidade no ar: "Quem sabe não mudo minha definição um dia".

Confira na íntegra:

1. Você é dono do quadro “ Polêmicas Vazias” que pouco a pouco, vem conquistando um público cada vez mais fiel. Com análises comparativas entre jogadores, ranqueando grandeza de times e coisas do gênero. Como surgiu a ideia do quadro, porque o nome?

Quando eu trabalhava no jornal O Povo, em Fortaleza, sempre tínhamos essas discussões que não levam a lugar algum. Debates longos e, no final das contas, meio inúteis. Aí um amigo meu que era repórter, Ciro Câmara, sempre falava: Lá vem o Formiga com a suas Polêmicas Vazias... Guardei essa expressão.

2. Ainda neste tema, dentro do quadro existe o momento em que você menciona o famoso “Opiniões que você NÃO pode ter” e cita alguns argumentos que são frequentemente usados em discussões em grupos e mesas redondas pelo Brasil afora, como o Chelsea ser um clube pequeno, por exemplo. É delicado escolher o que falar nesta parte do vídeo? Muitas pessoas não aceitam o fato de vetarem a opinião que elas possuem.

As pessoas têm mania de se proteger com “isso é a MINHA opinião”. Como se opinião fosse salvo conduto para falar o que quiser. Mas sem argumento, ou com os argumentos errados, você tem uma opinião ERRADA. Ou uma opinião que é melhor não ter. Não acho delicado escolher o tema. Sempre tem umas ‘verdades’ que passam pra frente sem pensar. Aí fica fácil derrubar.

3. Saindo um pouco do futebol, você já se declarou fã de artes marciais mistas desde 1994. O UFC vinha em uma grande crescente no país nos últimos 6 anos, alguns previam que o conglomerado atingiria o apelo do futebol no país. Porem nos últimos tempos, com a queda de lendas como Anderson Silva e Belfort, o UFC perdeu um pouco da sua popularidade em terras tupiniquins. Qual a sua prospecção para os próximos anos no MMA? Quais seriam os caminhos a tomar para que o esporte não perca mais força aqui no Brasil?

O UFC por aqui perdeu força porque os ídolos perderam lutas. E aí o interesse diminuiu. Além do mais, a transmissão apenas em PPV também restringe, por causa do custo. Se caísse nas graças da TV aberta facilitaria muito. Outro ponto, e isso vai além do Brasil, foram as polêmicas nas quais o UFC se meteu, com escolhas controversas de lutas, campeões se envolvendo em problemas e muitas trocas de cinturão. A credibilidade foi questionada diversas vezes. Quanto mais ídolos, mais atração, mais audiência, mais interesse. Aqui e lá fora – por isso a forçação de barra de Dana White com o McGregor, por exemplo (um vendedor nato).

4. Nascido no Ceará, passou grande parte da sua vida no Nordeste. Qual é a sua visão sobre os torcedores nordestinos que mesmo com clubes relevantes em seus estados acabam torcendo para times do Sudeste, a que se deve isso?

Uma consequência natural de gerações que tiveram acesso restrito aos times da região. Na televisão, no rádio, nos jornais. Isso tende a diminuir, como já está diminuindo. Basta ver as últimas pesquisas. Foram décadas de valorização dos clubes do Rio e São Paulo. Com a transmissão dos estaduais para as próprias praças, com a Copa do Nordeste, com os próprios clubes se valorizando mais, a tendência é você formar torcedores, cativar torcedores e não deixar esse consumidor se perder no meio do caminho.
                                               Uma grande tendência, segundo Bruno.
5. A situação de um dos maiores clubes do Nordeste, o Fortaleza, é um tanto quanto triste. Na terceira divisão a algum tempo, o clube lida com diversas tentativas falhas de voltar ao cenário nacional de forma mais significativa. O último canto do cisne foi ano passado, eliminando o Flamengo da Copa do Brasil. Com uma vivência na capital cearense, como enxerga a situação do clube? Porque o Fortaleza não consegue ascender como fez o Santa Cruz, Sport e como o Ceará e o Náutico fazem ocasionalmente?

O Fortaleza é uma vítima do sistema de disputa da Série C, que tem na reta final o mata-mata. E aí entra o fortuito, o imponderável. Não estou criticando o regulamento. Acho o melhor possível, por sinal. E, claro, a cada eliminação vai se criando uma bola de neve de pressão, que os jogadores que chegam acabam carregando também. Nas últimas três temporadas o clube fez campanhas sólidas na primeira fase. O trabalho foi bom.

6. Há um tempo, você realizou uma curiosa matéria, onde atuou como jogador de futebol por 45 dias, pelo Maguary, da terceira divisão cearense. Foi o seu projeto mais incomum? Qual foram os aprendizados que obteve após concluir seu objetivo no clube?

Sem dúvida foi o projeto mais legal. Foi uma ideia de um ex-editor do jornal O Povo, Rafael Luis, hoje dono do Verminosos Por Futebol. Acabou posto em prática pelo Emmanuel Macêdo, que assumiu o lugar dele na editoria. Ali eu aprendi a julgar menos, a compreender mais. Os caras jogam por muito mais que prazer, dinheiro ou fama. A maioria joga por necessidade.

7. Cocê chegou a tatuar o número do BID que a CBF dá a cada jogador na sua perna. Obviamente, isso demonstra a importância que isso teve na sua carreira como jornalista, mas ao mesmo tempo, dá a impressão que é uma forma de prêmio de consolação a alguém que tinha o sonho de se tornar jogador, correto? Qual foi a reação das pessoas mais próximas a você quando viram a nova tatuagem?

Sim. É a marca daquilo que eu poderia ter sido. Todos adoraram. Acham bem legal quando eu explico.

8. Você se considera um YouTuber? Muitos dos fãs que possui o conhecem por conta do canal do EI na plataforma. Existem poucos canais que aliam qualidade a quantidade sobre futebol no Brasil, acha que esse é um dos meios mais forte para atingir pessoas no mundo digital atual?

Youtuber vive do Youtube. Eu, não. Sou um jornalista que tem ainda como principal função a de comentar na TV. Mas estou numa empresa multimídia. Quem sabe não mudo minha definição um dia...
A placa dada pela plataforma, pela marca de 1 milhão de inscritos.
9. Muito tem se falado sobre a relação do Palmeiras com a Crefisa. Depois de algumas informações desencontradas e outras polêmicas envolvendo imprensa e clube, parece que a história ainda está longe de ter um fim. Alguns comentaristas insistem em afirmar que o clube alviverde estaria na mão de mecenas. O que você tem a opinar sobre o assunto? Acha que é motivo para tanto alarde?

Não vejo esse alarde. O Palmeiras é rentável além do seu patrocínio. O estádio dá lucro, as cotas de TV rendem uma fortuna. O patrocínio não é um favor. Os mecenas bancavam a arte por prazer, por ego. Não é o caso da empresa.

10. O Esporte Interativo sem dúvidas tem crescido no âmbito nacional de forma absurda. O canal agora promete dar mais espaço para  E-sports, que são jogos virtuais como CS, LOL e FIFA. Essa é uma vertente que tende a crescer em popularidade? Qual o potencial deste investimento?

É um mercado gigante, com um público enorme e potencial inimaginável. O futuro é eletrônico, é interativo. É uma indústria que sempre faturou horrores. E nada mais justo do que o EI, que sempre teve esse DNA de apostar, de arriscar, entrar nessa. Abre-se um leque novo para transmissão, para negócios, para entretenimento. E para novos profissionais. O Octávio Neto, por exempplo, virou referência como narrador e e-games.
Um grande potencial.
11. Foi um prazer concluir esta entrevista. Faça suas considerações finais, um grande abraço de toda a equipe do 4-3-3!

Eu que agradeço o contato e a ideia. Parabéns pelo trabalho de vocês. Uma turma que só prova como a informação não é mais um monopólio ou um privilégio de grandes grupos de mídia. Há excelentes análises, histórias e personangens prontos para serem feitos, contadas e descobertos. O jornalismo nunca esteve tão vivo! E com tanto acesso. Abraços!
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