De Floripa para o mundo - Guilherme Siqueira


Sair jovem do Brasil é rotina para os jogadores que surgem por aqui. É comum que nossos atletas deixem o país antes mesmo dos 18 anos em busca de seu sonho e com Guilherme Siqueira não foi diferente. O lateral esquerdo catarinense foi descoberto pela Internazionale de Milão quando ainda tinha 17 anos. Na Itália, apesar de contratado para jogar nas categorias de base, treinava constantemente com os profissionais.

“Eu treinava com frequência entre os profissionais, até ser promovido para a equipe principal pelo treinador Roberto Mancini. Logo virei companheiro de jogadores como Zanetti, Cambiasso, Verón, Figo, Adriano entre outros. Com certeza amadureci bastante com os conselhos que recebi desses ícones do futebol”

A mudança, além de extremamente difícil fora dos gramados (adaptação, idioma, culinária), também exige uma readaptação no modo de treinar, principalmente naquela época. Segundo o jogador, as coisas entre Brasil e Europa se equiparam um pouco hoje, mas já foram bastante distintas.

 “Quando eu cheguei o futebol europeu era muito voltado para a formação tática. No Brasil prevalecia mais a técnica. Acredito que com o tempo isso foi mudando e hoje tudo está muito parecido, até pelo fato do intercâmbio de treinadores brasileiros para clubes europeus”

Apesar do começo em território italiano, foi na Espanha que o “manézinho da Ilha” de fato se firmou, tendo inclusive adquirido cidadania espanhola, mas, segundo o próprio, sem a obsessão de ser convocado pela fúria. “Não tenho esse objetivo, mas se acontecer, logicamente vou ficar muito feliz”, disse o brasileiro.
Guilherme no Granada: ligação com a Espanha já tem muito tempo.

De Florianópolis, o lateral ainda acompanha o futebol catarinense, embora não tenha interesse nenhum em voltar ao Brasil.

“Acompanho sempre o futebol catarinense. Minha família mora em Florianópolis e eu vou morar lá quando parar de jogar. Os times já alcançaram um patamar interessante e acredito que em breve estarão brigando por coisas maiores. Acredito que falta ainda um pouco de confiança e sorte para brigar de igual para igual com os times mais tradicionais. No momento não tenho vontade de jogar no Brasil e acho difícil que isso aconteça. Joguei a minha carreira inteira fora do país e pretendo encerrar aqui”

Além da ligação que tem até hoje com seu estado e município, outra ligação “local” fez muita diferença em sua carreira. Filipe Luis, com quem atuou nas categorias de base do Figueirense, dividiu vestiário e disputou posição com ele no Atlético de Madrid, onde ambos aprenderam muito.

“Eu e o Filipe somos grandes amigos desde as categorias de base do Figueirense, onde jogamos juntos. Quando fui procurado pelo Atlético, ele foi uma das pessoas que liguei para pegar referências sobre o clube. Pela primeira vez, profissionalmente, disputamos uma vaga na mesma equipe. Foi uma disputa sadia e com muito respeito. Acredito que ele foi uma pessoa muito importante pra mim, assim como eu fui pra ele”

No Atlético, Guilherme teve o enorme prazer de trabalhar com Diego Simeone, um dos melhores treinadores do mundo. Muito conhecido pela solidez defensiva dada a suas equipes, o argentino foi importantíssimo para o desenvolvimento do lateral como jogador.

“Eu coloco o Simeone como um dos melhores treinadores do mundo atualmente. É um estudioso e tem a sua maneira de jogar. Ele vem desenvolvendo um grande trabalho no Atlético. É um ídolo do clube. Cresci muito sendo comandado por ele. Sempre fui um lateral mais ofensivo, mas no Atlético aprendi a defender melhor. Acho que isso agregou na minha carreira e posso utilizar isso durante os jogos dependendo das circunstâncias”
Com Simeone, o lateral cresceu demais defensivamente.

As boas atuações na Espanha obviamente despertaram interesse de outros times do mundo, como o Newcastle, da Premier League, que esteve fortemente ligado com o nome do brasileiro na última janela. O lateral, no entanto, acabou acertando com Valencia, mas não descarta atuar em outros países, como a Inglaterra.

“Eu já joguei o Campeonato Italiano, Português e Espanhol. Atuar na Premier League seria sensacional, mas não passou de uma sondagem mesmo. Já recebi outras propostas de clubes da Inglaterra ao longo da minha carreira, mas nenhuma que me fizesse trocar a Espanha.”

No seu atual clube, porém, a temporada não começou como desejado. Os morcegos estão beirando a zona de rebaixamento e a troca de técnicos é constante. Vendo o qualificado elenco do Valencia, é difícil explicar o porquê da má fase.

“O ambiente entre os jogadores é bom. Estamos tentando entender o que acontece, mas tenho certeza que essa fase ruim vai passar. Tivemos muitos jogadores lesionados ao longo da temporada e agora as coisas estão se normalizando”
O momento do Valencia é estranhamente ruim, mas as coisas começam a se acertar, para a felicidade de Guilherme. Foto: Getty Images.

Bastante aplicado taticamente, Siqueira acha que a posição de lateral é muito ampla no que diz respeito a funções dentro de um esquema. Para ele, a opção de Guardiola em “centralizar” seus laterais no momento ofensivo é válida, mas depende muito da disposição tática da equipe.

“Muitos laterais estão dando alternativas pelo meio do campo. Eu acho que isso depende muito do esquema tático da equipe. Existem treinadores que não gostam que seus laterais joguem por dentro e sim joguem bem abertos para poder dar amplitude e profundidade a equipe”

Guilherme Siqueira é, sem dúvida nenhuma, um dos excelentes valores brasileiros que fazem sua carreira na Europa, tendo atuado em três ligas diferentes e participado de grandes times, como o Benfica e o Atlético de Madrid. Apesar de não querer voltar ao país agora, teria, com toda certeza, espaço em grandes equipes do Brasil.

“Um grande abraço e eu agradeço o carinho e a oportunidade de estar conversando com vocês”
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