Marinho e as dificuldades do próximo passo


O atacante Marinho chamou muita atenção dos amantes do futebol durante o segundo turno do Brasileirão de 2016 por conta dos seus gols e boas atuações que salvaram o Vitória do rebaixamento. Tem sido comum ver torcedores dos mais diversos clubes brasileiros dizendo que gostariam de contar com o atacante no elenco do seu time do coração em 2017. 

Não só os torcedores ficaram impressionados com os gols, dribles e arrancadas de Marinho no campeonato, tanto que clubes como Botafogo e Flamengo chegaram a mostrar interesse pelo futebol do camisa 7 do clube baiano. Mas será que Marinho realmente jogou tudo isso que as últimas rodadas fizeram muita gente acreditar? Ele será capaz de ser um titular importante de um grande clube do Brasil?

Com exceção dos últimos 13 jogos desse Brasileirão - período em que o Vitória foi comandado por Argel Fucks - Marinho não fez um campeonato de encher os olhos e nem produziu tanto assim para sua equipe. Existiram dois “Marinhos”. Um no primeiro turno e começo do segundo e outro no terço final do campeonato, que é a versão que ficou na cabeça da maioria das pessoas. 

O jogador participou de 27 partidas do Campeonato Brasileiro de 2016, todas como titular. Nas suas primeiras 17, ele marcou quatro gols e não deu assistências. O camisa 7 do Vitória foi mostrar um grande futebol e ser determinante no último terço do Brasileirão. Nesse período, o atacante foi extremamente decisivo para a manutenção do seu time na Série A, marcando oito gols e dando seis passes para seus companheiros marcarem. Teve participação direta em 14 dos 19 gols do Rubro-negro Baiano, inclusive balançando as redes nas seis partidas finais da competição nacional.

Falta de eficiência pode atrapalhar em clubes com ambições maiores

Apesar do primeiro turno de menos brilho, sem sombra de dúvidas Marinho foi um dos destaques do campeonato, sendo disparado o jogador mais importante do time baiano. Entretanto, o atacante está longe de ser eficiente. Ele necessita ter a bola muitas vezes por jogo para produzir jogadas de perigo e perde a posse da bola mais do que qualquer outro jogador no campeonato. 

Ele precisou finalizar 106 vezes para marca seus 12 gols, uma média de quase nove chutes para fazer um gol. Para se ter uma noção da pouca eficiência de Marinho, basta compararmos seus números aos de Fred (Atlético-MG), William Pottker (Ponte Preta) e Diego Souza (Sport), que foram artilheiros do Campeonato Brasileiro desse ano. Os três precisaram de bem menos finalizações para anotar seus 14 tentos na competição. 
Marinho e a finalização: costume no Vitória.

Fred e William Pottker transformam cerca de 25% de suas finalizações em gols, enquanto o atacante do Vitória converteu apenas 11% dos seus arremates. O matador do Galo finalizou 58 vezes, 30 na direção do gol, para balançar as redes 14 vezes. Uma média de um gol a cada 4.1 tentativas. O goleador da Macaca também tem bom aproveitamento. Pottker precisou, em média, de 4.2 finalizações para anotar cada um dos seus 14 gols. 

Diego Souza no Sport, assim como Marinho no Vitória, é o cobrador de faltas e também o jogador que mais gosta de arriscar chutes de média e longa distância na equipe. Ainda assim, o meia do Leão Pernambucano foi bem mais efetivo durante o Campeonato Brasileiro. O camisa 87 precisou de menos de seis finalizações para marcar cada um dos seus gols. 
Diego Souza tenta muito, mas ainda assim passa longe dos absurdos números de Marinho.

Ricardo Oliveira, no Brasileirão do ano passado, marcou 20 vezes em 88 tentativas, média de 4.4 finalizações por gol, um aproveitamento bem parecido com os de Fred e Pottker nessa edição da Série A. Para conseguir ir bem em um clube com objetivos maiores e companheiros de qualidade superior aos atuais, Marinho terá que aumentar consideravelmente seu aproveitamento nas finalizações, além de perder menos a bola. 

O camisa 7 do Rubro-negro terá o desafio de errar menos sem perder a coragem de arriscar. É algo difícil de pôr na balança, pois ele teria que cuidar melhor da bola e caprichar mais nas finalizações e, ao mesmo tempo, não perder tanto a agressividade e as jogadas individuais que o marcaram nos últimos meses de 2016.  

Em clube grande é diferente

Após ser considerado uma das grandes revelações da base do Fluminense entre 2007 e 2008, Marinho assinou um contrato de cinco anos com o Internacional. Não conseguiu render no Colorado e rodou por clubes médios e pequenos do Brasil. Em 2015, após se destacar na Série B jogando pelo Ceará, foi contratado pelo Cruzeiro. Em 12 jogos pela Raposa, oito deles como titular, o atacante não conseguiu render o esperado e marcou apenas um gols. Com a troca de Luxemburgo por Mano Menezes no comando técnico da equipe mineira, Marinho deixou de ter chances. 

Jogando pelo Vitória, o atacante vinha tendo o direito de finalizar e tentar jogadas individuais quantas vezes quisesse por jogo. No Cruzeiro foi diferente - e provavelmente será diferente no próximo clube grande que por ventura ele for atuar - pois torcidas mais exigentes, treinadores e companheiros de maior nível técnico e experiência não costumam aceitar que que um jogador “sem nome” erre três, quatro, cinco vezes seguidas e mesmo assim siga tentando. 
No Cruzeiro, Marinho sentiu o que é não ter todo o protagonismo para si.

Ele podia arriscar à vontade no Rubro-negro Baiano, já que era a arma ofensiva mais importante do time, garantindo vários pontos para seu time no decorrer da competição. Em Minas Gerais, muitos torcedores e a imprensa local comentavam sobre o excesso de erros e individualismo do jogador.  Caso realmente feche com um grande clube, muito provavelmente ele vai ter menos a bola nos pés por jogar em um time com companheiros capazes de dividir o protagonismo. Além disso, marcará menos gols caso mantenha o baixo aproveitamento desse Brasileirão.

Marinho foi o segundo jogador que mais finalizou no Campeonato Brasileiro desse ano (106), também ocupa a segunda posição entre o que mais chutaram para fora (68), ficando em ambos os casos atrás apenas do meia do Fluminense Gustavo Scarpa. Por ser sua característica e ainda ser estimulado pelo treinador, toda hora ele tentava a jogada individual no clube baiano. São várias tentativas de arrancadas, dribles e finalizações de média e longa distância durante as partidas. 

Por conduzir muito a bola e ser incisivo, ele foi disparado o jogador que mais apanhou no Brasileirão. O destaque do Vitória sofreu 139 faltas, 27 a mais que Dudu do Palmeias, que foi o segundo que mais foi parado com faltas. Também foi o que mais driblou. Por outro lado, Marinho, ao lado do Keno do Santa Cruz, foi o jogador que mais perdeu a bola, desperdiçando a posse em 247 ocasiões durante as 27 vezes que entrou em campo.

O futebol, obviamente, não é uma ciência exata. Não há como garantir o sucesso ou o insucesso de qualquer jogador, mas há indícios que levam a crer que ele não conseguirá ser um dos protagonista em clubes que brigam por grandes conquistas se não for lapidado e jogar de forma bem mais inteligente. Perder muito a bola e ter que chutar muito ara fazer um gol é tolerado quando se é o jogador que faz a diferença para um time, mas não costuma ser aceito quando se é "apenas mais um".

Marinho tem suas virtudes e fez sim por merecer uma nova chance em um dos clubes de primeiro escalão do futebol nacional. Mas, muito provavelmente, terá dificuldades em um time melhor por se mostrar um jogador que precisa tentar muito para acertar. Erra mais do que os torcedores costumam tolerar por aqui. Torcemos para que ele vá bem e queime nossa língua. No fim das contas, só a bola conta toda a verdade.
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