Foto: RV Sports. |
Ainda jovem, o atacante Paulo Martins se mostrou um bom
goleiro na categoria que treinava antes da sua. Dali pra frente, ele deixou de
marcar gols para evita-los, participando, inclusive, de alguns torneios de
baixo das metas. No entanto, o que já parecia uma confusão, teve outra
reviravolta: ele se descobriu na zaga.
Não bastassem essas mudanças de função no inicio de sua
trajetória, outras complicações ainda se fizeram presente. A falta de
oportunidades nos clubes do país incomodou e não fosse o apoio da família,
Paulo não teria chegado aonde chegou. Se financeiramente as coisas eram
complicadas, motivação nunca faltou da parte deles.
Como grande parte dos jogadores que surgem por aqui, o
jogador passou por vários clubes de pouca expressão, tendo dificuldade para se
firmar e de fato realizar um trabalho contínuo. O zagueiro defendeu o Poções,
na Bahia, o Formiga e o Coimbra, em Minas Gerais e, por fim, o Serrano, do Rio
de Janeiro. Nesses clubes, a realidade mais dura da vida do jogador brasileiro:
a falta de estrutura e os salários constantemente atrasado.
“Era muito complicado, a situação era muito difícil nessa
época, as condições não eram adequadas e salários atrasados constantemente.”
As coisas mudaram em 2013, quando um amigo, que jogava na
China, o indicou. As esperanças depositadas na possível chance foram poucas,
mas um telefonema confirmou a oportunidade. Os chineses gostaram do que viram
de Paulo e o queriam lá imediatamente. Como era de se esperar, o zagueiro não
pensou duas vezes e partiu rumo à aventura que se estende até hoje pela Ásia.
“Adaptação foi bem complicado pela cultura, língua e o dia a
dia em geral. Não tinha um salário bom que pudesse levar minha família e estar
lá sozinho dificultou ainda mais esse processo.”
De começo, Paulo não acreditava na oportunidade, mas acabou fazendo história na China. |
Por lá, mais especificamente no Macau, Paulo fez história.
Foram 14 jogos invictos e um título que não vinha há sete anos para o Monte
Carlo, clube que, segundo ele, tinha boa estrutura e pagava em dia, o
suficiente para trabalhar com muito mais tranquilidade do que costumava em sua
terra natal.
As boas atuações abriram uma porta interessantíssima para o
jogador: defender a seleção de Timor Leste. A oportunidade veio por meio do
técnico do país, que também era brasileiro.
“Me apresentaram um projeto de reestruturação do país
através do esporte e isso me cativou. Ninguém acreditava em nossa seleção por
vários motivos e fizemos história classificando Timor para as Eliminatórias da
Copa 2018, algo inédito, até então. Fiz 16 jogos pela seleção e acredito ter
virado ídolo lá.”
Depois da passagem pela China, Paulo retornou rapidamente ao
Brasil, onde ficou por um período curto no Itaboraí, do Rio de Janeiro. Bastou
a janela asiática reabrir para que ele voltasse para um novo desafio. Dessa
vez, o destino foi Dubai, onde encontrou estrutura elogiável e teve o
privilégio de enfrentar vários jogadores brasileiros.
“A oportunidade em Dubai foi muito boa, é uma liga que
cresce a cada dia, tanto em visibilidade como tecnicamente. Tive a oportunidade
de jogar contra jogadores de nome no Brasil como: Everton Ribeiro, Caio (ex-Inter),
Léo Lima, Mauricio Ramos, Marion, Ederson (atualmente no Vasco), entre outros.
A estrutura lá é sem comentários, algo indescritível (risos). Foi uma
realização poder viver essa experiência.”
Depois desse período maravilhoso em Dubai, veio o período
mais difícil da carreira de Paulo: sua passagem na Tailândia. Embora tenha
encontrado um bonito lugar e uma liga competitiva, uma lesão séria no joelho o
obrigou a voltar para o Brasil, visando o tratamento da mesma. Com isso, atuou
pouco no país.
Na Tailândia, uma lesão o obrigou a voltar ao Brasil. |
O próximo passo foi a Indonésia, onde ficou por pouco tempo
até rumar ao Omã, onde joga atualmente. A intenção do brasileiro em ir ao país é
colaborar com o desenvolvimento do esporte por lá.
“Aqui em Omã eu vim para tentar ajudar o País na evolução do
futebol, a estrutura ainda é limitada, o futebol ainda tem muito a evoluir e eu
espero colaborar para que isso aconteça. Atualmente meu time está disputando o
campeonato do País, estamos em primeiro na nossa chave e estou tento a
oportunidade de jogar com regularidade, sendo o capitão do time”
A boa fase no clube não vem se repetindo na equipe nacional,
isso por que ele ficou um período fora por conta de lesão e Timor Leste não
está mais disputando as Eliminatórias. O brasileiro espera voltar em breve às
listas de convocação de sua seleção.
Paulo defendendo o Ahli Sidab, seu atual clube, no Omã. |
Apesar das adversidades, a carreira exótica do zagueiro é recheada
de desafios e realizações. Das dificuldades da Tailândia a excelência de Dubai,
o que nunca faltou para ele foi à vontade de jogar futebol, nos clubes ou na
modesta seleção de Timor Leste. Além dos êxitos individuais, fazer parte da
evolução do esporte em países de menor apelo no meio é uma enorme vitória.
Estando perto ou longe dos holofotes, Paulo Martins é um vencedor.
“Que todos os jovens que tem sonhos, dentro do esporte e
também na vida, nunca desistam. Lutem e trabalhem com muita humildade, coloquem
Deus na frente e vocês poderão chegar onde almejam. Agradeço ao Blog 4-3-3 pela
oportunidade de falar da minha carreira e espero um dia voltar a falar com
vocês atuando por um clube competitivo aí do Brasil. Até breve!”