A trajetória percorrida pelo Guarani nos últimos anos foi, e está sendo, muito árdua. Um time gigante, campeão brasileiro, com boa colocação em Libertadores e que passou a última década sofrendo muito, tanto dentro quanto fora de campo. Já falamos sobre isso, na longínqua segunda edição do Modão Caipira.
Mas hoje o assunto é outro. A alegria que contagiou o lado
verde de Campinas nas últimas semanas, e que se espalhou por todos os amantes
do futebol, pela forma com que o Bugre conquistou sua vaga na final. Depois de
4 anos na Série C, o favoritismo se concretizou e o clube conseguiu o acesso
para retornar para o segundo nível do futebol nacional.
Depois de três eliminações na primeira fase em sequência,
neste ano a equipe campineira fez uma grandiosa campanha na fase inicial,
classificando-se em primeiro do Grupo B. O técnico Marcelo Chamusca chegou ao
clube ao término da Série A2 do Paulistão, com a missão de montar um elenco
capaz de conquistar o tão sonhado acesso à Série B, e assim o fez.
Com alguns nomes conhecidos, como o zagueiro Leandro Amaro,
o volante Lenon, o atacante Pipico e o interminável meia Fumagalli, de 39 anos,
além de outras jovens promessas como os meias Wesley, Alex Santana e Renatinho,
o treinador montou um elenco qualificado e que entrou para a história do
Guarani Futebol Clube.
Numa primeira fase sem sustos, terminou três pontos a frente
do segundo colocado de seu grupo, o Boa Esporte. Com um time-base bem definido,
Chamusca mostrou que estava preparado para colocar o Bugre de novo na divisão
de cima. Tendo a vantagem de decidir o mata-mata do acesso em casa, o
adversário da batalha seria o ASA de Alagoas, e o time nordestino complicou as coisas,
vencendo por 3x1 em Arapiraca.
O meio era o mais modificado, com oportunidades para Renato, Everton e Deivid, mas essa era a equipe na primeira fase. |
A tendência de um time que conquista uma vaga suada dessa
maneira seria relaxar e não se importar mais com o restante do campeonato? Essa
foi a clara impressão que todos tiveram quando, no primeiro jogo das semifinais,
o ABC-RN goleou o time de Marcelo Chamusca por 4x0 em Natal.
Porém, o que poucos poderiam imaginar, aconteceu.
Épica, magistral, histórica. Faltam adjetivos para descrever
o que foi a noite do dia 23 de outubro de 2016. Pouco mais de 3 mil torcedores
foram testemunhar de perto a partida de volta contra o ABC. Os deuses do
futebol – parafraseando Mano Menezes – estavam no Brinco de Ouro da Princesa, e
a camisa pesada do Guarani ficou mais pesada do que nunca naquele momento.
Com muita festa, o Bugre fez história (Imagem: Luciano Claudino) |
Quando começou a partida, a atmosfera positiva tomou conta,
e o Bugre partiu para cima. Com 25 minutos da primeira etapa, já vencia por
2x0, e a missão ia ficando mais fácil. Fumagalli deu assistência para o
primeiro gol, marcado por Leandro Amaro, e fez o segundo, de falta. O meia, que
joga desde 2012 na equipe campineira (além de uma primeira passagem entre 2000
e 2001), completou seu jogo de número 250 em Natal, e vestia uma camisa
comemorativa no Brinco de Ouro da Princesa.
Ainda no primeiro tempo, Fumagalli bateu uma falta no
travessão, e o atacante Jones Carioca, do ABC, foi expulso da partida. A
esperança só aumentava, e o jogo foi para o intervalo com o placar que fora
construído nos primeiros minutos. O clima já era favorável, e a crença no
milagre, que até poucos minutos antes era inimaginável para muitos, era cada
vez maior.
Logo no início da etapa final, Fumagalli marcou mais duas
vezes, e a vantagem do time potiguar já não existia mais. Aos 3’, em jogada de
Gilton pela esquerda, o veterano meia completou para o gol. Aos 9’, pelo outro
lado Auremir chegou na linha de fundo e deixou a bola no pé de Fumagalli
novamente. A felicidade da torcida alviverde de Campinas era contagiante, e naquela
hora todos tinham certeza que a vaga era do Guarani, mesmo com o resultado
ainda levando a partida para os pênaltis.
Era questão de tempo, e o quinto gol saiu aos 31, com um
golaço de Alex Santana. Naquele momento, qualquer apaixonado por futebol que
estivesse acompanhando a partida, mesmo que não tenha ligação nenhuma com o
clube de Campinas, mesmo que não conhecesse nenhum jogador das equipes
envolvidas, se emocionou junto com os jogadores e torcedores do Guarani. Para
completar a festa e garantir a classificação, Pipico marcou de cabeça aos 34.
O Bugrão venceu, goleou o ABC por 6x0, e chegou a final da
Série C. Para um time que já foi campeão brasileiro, talvez isso não fosse algo
para ficar marcado na história. Mas por tudo o que vem ocorrendo com o time nos
últimos tempos, correndo risco de ser despejado de seu próprio estádio, e da
maneira como ocorreu, não há duvidas de que este dia ficará marcado para sempre
na memória da torcida.
Muitos não acreditam na história de “camisas pesadas”, das
superstições futebolísticas. Mas eu, como crente disso, posso afirmar que a
mística esteve presente no Brinco de Ouro da Princesa, e ouso dizer que ninguém
seria capaz de tirar a vaga do Guarani Futebol Clube. O futebol é excepcional.