O imaginário humano tende a trabalhar muito mais quando algo bonito esteticamente é visualizado. Um time de dribles, passes e muita movimentação faz o fã do futebol viajar longe, trazendo a tona o futebol total da Holanda, o mágico Brasil de 1982 entre outros times historicamente importantes e de futebol vistoso.
É automático. Relaciona-se o tal “futebol arte” com as lindas trocas de passe ou a presença de craques consolidados numa equipe. Em contra partida, um time marcador é automaticamente ligado ao futebol argentino, uruguaio, pegador. Em algumas oportunidades, vemos injustiças sendo cometidas, resumindo uma equipe extremamente organizada e obediente apenas com a alcunha de “time que bate” ou “guerreiros”. O maior exemplo atual desse tipo de julgamento é o Atlético de Madrid de Diego Simeone, que está bem longe de ser um time normal que usa apenas da força física para vencer.
Muitos não percebem, mas o Atlético é o futebol arte. |
O técnico sul americano com certeza tem muito mérito na alma da equipe madrilena, mas vai muito além disso. Quase impecável taticamente o time da capital espanhola é capaz de anular qualquer equipe do mundo. Isso foi provado contra o histórico trio MSN (Messi, Suarez e Neymar), mas já vem sendo mostrado há muito tempo.
Na temporada 2013/2014, por exemplo, o time de Diego Simeone fez Champions League quase perfeita defensivamente. Prova disso são os números da competição: foram apenas seis gols sofridos nas 12 partidas que antecederam a final, quando, por vários fatores atípicos, acabou tomando quatro tentos do seu maior rival, sendo três desses na prorrogação.
O treinador argentino é especialista em armar estratégias. É tudo muito bem executado, todos sabem o quê e quando fazer. Por que diminuir tanto os méritos por conta de uma “exigência plástica” para contemplá-lo com a graça do tal futebol arte? Não há motivos para isso. É encantador ver o Atlético jogar. É sensacional ver a entrega do primeiro ao último minuto, o comportamento, o sacrifício por um bem maior.
Jogadores técnicos como Griezmann ficaram ainda melhores com o espirito de Simeone. Coletividade é a chave. |
Recordes de gols não são quebrados, gols dignos de Puskas não saem toda semana, mas nada disso importa quando sentimos o futebol em sua essência no gramado. Os belos toques muitas vezes podem ser facilmente substituídos por um carrinho bem aplicado. Um desarme pode ser tão bonito quando um drible. E o que mais importa: a vitória na base da competência tática é tão gratificante e importante do que aquela em que a técnica se sobressai.
Apesar do estilo mais tático do que qualquer outra coisa, o time está longe de ser desqualificado. Jogadores como Koke, Godin, Carrasco e Griezmann teriam lugar em vários dos maiores times do mundo. A técnica sobra, mas eles não se importam de abdicar um pouco disso pelo bem da equipe, pela proposta do treinador. O resultado todos presenciamos: vaga na semifinal da competição europeia e mais uma vez incluído na briga de gigantes com Barcelona e Real Madrid pelo título.
Simeone merece todos os créditos, seus comandados também. Etiquetas simplistas não devem ser colocadas, ainda mais quando desqualificamos todo um trabalho para focar na tal força física. Há magia e arte no Vicente Calderón.