Sabe aquele futebol alegre, vistoso e bonito? Sabe aquele time que, ao acompanhá-lo, espasmos de felicidade penetram seu ser e todos os seus problemas são dissolvidos no ar, como se só a felicidade existisse no mundo? Sabe aquela equipe onde todo mundo é “craquinho” ou “joga muito” ou “esse é craque mesmo”?
Esse é o Tottenham dessa temporada.
Obviamente colocados em segundo plano, uma vez que o fenômeno Leicester City tomou a Terra da Rainha de vez, os Spurs mostram a cada jogo o seu valor. Porém, mesmo praticando um futebol tão (ou mais) legal que o dos Foxes, os olhos estão no time de azul. Evento este que é perfeitamente explicável. Ora, quantas vezes o senhor leitor já viu uma história tão bela, mágica e improvável quanto aquela escrita por Claudio Ranieri e seus comandados, acontecer? O foco no Leicester é totalmente compreensível e justificável.
Um acaba tirando o foco do outro, mas os trabalhos são igualmente espetaculares. |
Mas minha missão aqui não é ficar lamentando o fato de muitos não olharem o time sob o primeiro lugar na tabela. Minha missão é apontar o por quê do Tottenham ser tão legal quanto o Leicester. E argumentar que um eventual título dos Spurs seria uma vitória do futebol tanto quanto (nem tanto) um título do Leicester.
A começar pelo time. Lloris é um batia goleiro, a dupla ex-godenzonen formada por Alderweireld (considerado por muitos o melhor zagueiro dessa temporada da Premier League) e Vertonghen exala confiança e lançamentos. Eric Dier representa o nosso lado grosso de viver a vida, e, principalmente, a superação ao adaptarmos a novas funções em nossas existências. Moussa Dembéle, o maestro, o homem que comanda a orquestra, tão afinado quanto Freddie Mercury nos áureos tempos de Queen. Mais um ex-Ajax na equipe, Eriksen, chamado por muitos torcedores do Tottenham de “o novo Modrić”, é o carteiro que todo time precisa. Distribui com qualidade, mesmo jogando longe dos cães-de-guarda dos adversários. A grata surpresa Dele Alli, o menino de ouro, caminha a largos passos rumo ao locus deixado por Steven Gerrard no English Team. O fenixiâno Lamela evolui cada vez mais, finalmente provando o hype de sua contratação.
Por mais que esse trio seja preponderante, o time é muito mais do que isso. |
Mas o melhor fica para o fim. Vinte e quatro gols depois, o, agora, craque de bola Harry Kane é o líder do time. Expoente técnico da equipe, é um típico atacante da "escola Benzema", daqueles que não se contentam em marcar gols, mas também participam ativamente da criação de jogadas.
Ok, o time não te convenceu. Que tal dados?
O time não vence um mísero Campeonato Inglês desde 1961. Ano este que o Tottenham venceu o segundo de sua história. Além disso, o time não levanta uma taça desde 2008, quando venceu a Copa da Liga. Nessa temporada, tem nada mais nada menos que o melhor ataque e a melhor defesa da competição.
Ainda não?
O cada vez mais consolidado Harry Kane é uma atração e tanto em todas as partidas do time londrino. |
Cansado do ítalo-britânico futebol defensivo do Leicester? Traços de futebol holandês, espanhol e argentino (influência do técnico, Mauricio Pochettino, um latino de verdade), reunidos num blend de ideias único, podem atrair até o mais sofisticado dos apreciadores da bola. Movimentos planejados e ritmados, passes qualificados, qualidade na saída de bola, essas coisas que o pessoal que gosta do Campeonato Espanhol curte, você encontra no Tottenham.
“Mesmo assim eu ainda torço pro Leicester”. Ora, eu também. Mas eu, assim como você deveria fazer, aprecio de maneira igual o charmoso, delicioso e envolvente futebol do Tottenham. Aprecie você também. E aproveite cada momento dessa equipe tímida, porém avassaladora. Tanto no campo de grama, quanto no campo de sentimentos.