O que a Ucrânia tem de especial no futebol?
Sim, tem clubes conhecidos e certa história na Europa, mas e jogadores top class, quem vem a sua cabeça?
Claro, Shevchenko. Mas não há só Shevchenko.
Conheçam Oleg Blokhin, para alguns o maior jogador ucraniano de todos os tempos.
O atacante nasceu em Kiev no ano de 1952. Filho de pai russo e mãe ucraniana, Oleg sempre se considerou 100% ucraniano, apesar da Ucrânia naquela época ser parte da hoje extinta, União Soviética.
Pelo fato de seu pai ter sido um veterano da segunda guerra mundial, foi criado com muita disciplina. Durante os anos, vivenciou todo o desenrolar da Guerra Fria entre sua nação e os Estados Unidos, mas isso não limitou o seu talento latente com a bola no pé.
Ingressou na base do clube da capital em que vivia aos 10 anos. Como não poderia deixar de ser, o Dínamo de Kiev foi o destino da futura estrela ucraniana. Por lá continuou a evoluir nos times de base até o ano de 1969, quando se profissionalizou com a camisa do Dínamo. Camisa essa que vestiria por praticamente toda a sua carreira como jogador.
E com Oleg não teve muito o que esperar para que se concretizasse como um ícone dentro do plantel principal. Sua velocidade absurda virou marca registrada do atacante que, pouco a pouco, chamava a atenção de toda a Europa. Blokhin também podia jogar como winger pelos lados, sua movimentação insana desconcertava os adversários que o marcavam. Os gigantes europeus logicamente começaram a acompanhar mais de perto o artilheiro de Kiev, entretanto por conta do regime fechado em que vivia a União Soviética, foi estabelecido que ele seria proibido de sair de seu país natal para jogar em outras ligas europeias, privando Oleg de se mostrar o gênio que era em seu auge, em centros mais expostos do mundo da bola.
Blokhin teria que se acostumar com a rotina de Kiev |
Mas mesmo sendo podado pelo seu próprio país, Blokhin conquistou feitos até hoje inalcançáveis tanto pelo clube pelo qual jogou, como pela seleção que defendeu.
Como já estava no melhor time do país na época, e não podia sair do país, restou desatar todo o seu poderio bruto em cima dos adversários locais, fez o Dínamo consagrar um monopólio obsceno no campeonato nacional, deu ao clube Ucraniano nada mais nada menos que OITO títulos da liga nacional. Isso é mais que a metade dos títulos TOTAIS do clube ucraniano na era Soviética. Fez do Kiev, o clube mais bem sucedido da história da União Soviética. Ainda deu mais cinco copas para a equipe ucraniana, além de duas Copas e uma Supercopa de Uefa.
Mesmo não pertencendo a um gigante europeu, Oleg foi premiado como o melhor jogador do mundo no ano de 1975, ano em que venceu pela primeira vez a Copa da Uefa. Ficando a frente de lendas atemporais como Beckenbauer e Johan Cruyff, um era o capitão da seleção campeã mundial da época e o outro vinha de uma copa de 1974 simplesmente mágica. Todos os dois sucumbiram ao atacante ucraniano. O atacante foi o primeiro ucraniano e o segundo soviético da história a vencer o prêmio de melhor do mundo, antes dele apenas o lendário goleiro Yashin tinha conseguido tal feito.
Premiado pela sua genialidade |
A grandiosa carreira do atacante do Dínamo é ilustrada por números ainda mais emblemáticos. Ele é o maior artilheiro de toda a história do clube da capital ucraniana, anotando mais de 200 gols com a camisa do time de Kiev. Oleg também é o jogador com mais aparições pelo Dínamo, entrou em campo vestindo branco e azul mais de 400 vezes. Se formos contar a base, Blokhin ficou mais de 25 anos dando alegrias para a torcida. Fidelidade que mesmo um tanto “forçada” pelo regime totalitário de seu país, é algo a se destacar pela longevidade e o tamanhos das glorias obtidas.
Pela seleção soviética o craque ucraniano possui os mesmos feitos que alcançou com seu clube, é o maior artilheiro com 42 gols e o jogador que mais vestiu a camisa de seu país, com 112 aparições, tendo inclusive jogado as copas de 82 e 86, fazendo um gol em cada uma delas.
Em 1988 o já veterano Oleg, consegue enfim sair de seu país. Porém infelizmente já não era o mesmo dos tempos de melhor do mundo, com 36 anos ele fechou com o clube austríaco Vowarts Steyr por onde não teve muito destaque, acabou encerrando sua fantástica carreira jogando pelo Aris do Chipre, em 1990.
Como se já não bastasse ter marcado a história como jogador, Blokhin também deixou sua marca como treinador. Menos de um ano após pendurar as chuteiras, Oleg já assumia a área técnica do gigante grego Olympiacos. Por lá venceu uma copa doméstica e acabou por perambular no comando de alguns clubes da elite grega.
Seu sucesso como treinador demorou a engrenar, mas chegou. Em 2003 o agora ex-atacante assumiu o controle da seleção ucraniana que a esta altura já era uma nação independente. Blokhin teve o mérito de levar seu pais natal a sua primeira Copa do Mundo defendendo as cores que ele sempre amou. A copa de 2006 serviria para apresentar a seleção ucraniana para o mundo, mas o que aconteceu foi muito além disso. Comandando um dos maiores atacantes deste século, a estrela de Milão, Shevchenko, Oleg foi com sua eficiente Ucrânia até as quartas de final do maior torneio de seleções do mundo. No jogo em questão, acabou perdendo por 3-0 para a Itália, que viria se sagrar a grande campeã da edição posteriormente.
Shevchenko poderia ter feito mais naquela copa |
Já era o bastante para o gênio do leste europeu. A Ucrânia agora era respeitada por todo o mundo.
Saiu da seleção em 2007 após falhar nas eliminatórias para a Eurocopa. Passou pelo Moscow da Rússia e voltou a treinar a seleção nas vésperas da Euro de 2012, onde sua equipe não passou nem da fase de grupos. Assinou com o Dínamo de Kiev algum tempo depois, onde teve um desempenho bastante ruim, não conseguindo classificar o clube do seu coração nem mesmo para uma mísera UCL. Deixou o comando do clube em 2014, desde então não treinou mais nenhuma equipe.
Blokhin é bastante esquecido como jogador. Um tanto lembrado por ser o técnico daquela surpreendente Ucrânia, porém seu valor como atleta é imensurável para a União Soviética e ainda mais valoroso para a Ucrânia. Talvez o gênio ucraniano tenha perdido a majestade para o outro gênio Shevchenko, pelo fato de Andriy ter sido um ícone em uma liga mais forte, em um país mais exposto.
Enfim, minha ideia não é criar um conflito de conterrâneos. Só é uma constatação de que a Ucrânia teve um rei antes do artilheiro de Milão e o reinado de Oleg, é impossível de apagar.