Um paulista com alma de carioca, Rica Perrone traz consigo a perspectiva paulista aliada a uma cadência e simpatia de um carioca no jornalismo esportivo. Com seu próprio site independente, vem crescendo bastante, ficando marcado pelo seu jeito característico de escrever. Seu quadro mais famoso, o cara a tapa, volta em breve e recheado de novidades, que ele nos contou durante o papo que tivemos. Confira a entrevista na íntegra:
1. Você já mencionou algumas vezes seu posicionamento contra o atual formato de pontos corridos que é praticado no campeonato brasileiro atual, pra você qual é o principal defeito dessa formula e porque você é contra? Na sua visão, devíamos voltar ao antigo mata-mata ou organizar baseado em algum novo método?
Acho que como entretenimento o final dele não tem o direito de ser melancólico. A decisão não pode vir através da má vontade de um clube com um rival e isso é permitido nos pontos corridos. Quando se fala em justiça, ignora-se o fato de que cada clube joga as rodadas finais conforme a sorte, contra times engajados e outros de férias. É injusto, sem graça. Tem que haver decisão frente a frente. A história sai de grandes decisões.
2. Mesmo auto-declarado torcedor do São Paulo, muitas vezes é apontado como adepto do Flamengo por pessoas que não sabem o clube do seu coração, talvez por causa de alguns textos que realmente conseguem tocar a alma de quem torce de verdade para o rubro negro carioca. O Flamengo mexe com você de alguma forma diferente?
O Flamengo é o contra-ponto do SPFC. Por isso eu vejo tanta facilidade em falar dele. Se eu não tivesse tido orientação em casa, fatalmente torceria por um clube de massa popular. Eu gosto disso. Me cativa s briga por não cair e ano seguinte pelo titulo. O Flamengo é único em algumas características e eu gosto muito disso.
3. Torcer pra time europeu é uma tendência que cada vez mais mostra que veio pra ficar, a falta de brilho de nossos times tupiniquins aliado a facilitação do acesso a jogos europeus torna essa nova febre inevitável. Como você vê essa questão?
Complexa. A real é que a Europa tem dado um golpe no mundo muito duro que implica em uma crise na própria Europa. Não vejo como alvo viável a médio prazo ter 2 times e um campeonato falido. Ou os times da Europa fazem uma Liga de 20 grandes e viram NBA ou eles vão quebrar todos os campeonatos, menos o inglês. Mas, o inglês é padrão? Nos vamos topar ter uma seleção de merda em troca de um torneio disputado? Complexo.
4. Particularmente, eu apreciava demais suas entrevistas via vídeo com algumas personalidades famosas, tanto no contexto esportivo, como no geral. A série “cara a tapa” teve a segunda temporada na metade final do ano passado, existe uma nova temporada sendo elaborada? Pode revelar algum nome escolhido?
Está perto de voltar. É caro e o Brasil parou, ficou difícil conseguir patrocínio. Mas tá voltando. Teremos Bolsonaro, o que já torna interessante como contra ponto do Tarcisio. Edmundo e Juninho pra quem curte futebol.
5. Acredito que entrevistar o Zico tenha sido uma das coisas mais emblemáticas da sua carreira como jornalista, se não for a mais, estou certo? Nota-se uma reação totalmente diferente naquele vídeo, você estava visivelmente mais nervoso.
Sim, entrevistar um ídolo é diferente de tudo. Já entrevistei outros tantos, mas no MEU programa, do MEU jeito, o MEU ídolo, pesa diferente. Sem dúvida.
Uma entrevista sem comparações para Rica. |
6. Você é um dos únicos jornalistas que faz sucesso com um site completamente independente sem ficar refém de colunas alocadas em outros endereços virtuais. É diferente ter um lugar só seu onde pode se expressar da maneira que quiser e falar sobre o que bem entender? O que muda?
Muda não ter que cuidar pra não se indispor com a classe. Eu não to nem ai pro que os jornalistas acham, na verdade, eu até prefiro quando penso contrario a eles porque me indica uma direção que prefiro. Tu conhece algum blog de futebol mais conhecido e repercutido que o meu? Sabe pra que prêmio me indicaram ate hoje? Nenhum. É panela, patota. Jornalista escreve pra ganhar elogio de jornalistas. Eu escrevo pra torcedor. É simples. Eu passei pela Globo, nunca fui censurado, mas foi vitima de um puxa saco de chefe bunda mole. Eu não sei jogar esse jogo. Meu pai me ensinou a ser homem, e não a ser político.
7. Seu vocabulário é outra coisa que me chama bastante atenção, mesmo sendo paulista você tem a fala mansa e se utiliza de gírias cariocas para escrever seus textos. Tem uma cadência tão boa que por vezes parece que estou ouvindo a voz de um carioca falar comigo, mesmo apenas lendo. Sai naturalmente? Ou é um tipo de escrita que você mesmo ajusta de acordo com a lapidação do texto antes da postagem?
Eu escrevo rigorosamente como falo. Por isso quando você lê tem a sensação que alguém está te dizendo. As regras do português são burras, antigas, só dificultam o entendimento e enaltecem quem escreve pra poucos. Não faço a menor questão de usar termos que diminuam meu alvo. Se eu puder falar “caralho” pra 200 mil entenderem, prefiro do que um termo qualquer mais elaborado que distancie o texto de 150 mil.
8. Quais são os planos para o futuro do seu site e da sua carreira? Até onde quer chegar trabalhando com futebol? Você já pré estabeleceu alguma meta de vida, traçou algum caminho até o próximo objetivo ou simplesmente prefere viver o presente e aproveitar da melhor forma as oportunidades que aparecerem?
Eu vou pro lado de lá. Vou ser treinador, manager, algo do tipo. Do lado de cá eu peguei nojo, não tenho paciência mais. Quero ser campeão no Maracanã lotado. Ponto. Se como manager, treinador ou gerente de alguma área, não sei. Mas preciso sentir isso.
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9. Atualmente vivemos um mártir no comando da nossa seleção, convocações duvidosas, perda de credibilidade e atuações apáticas. Na sua opinião qual é o maior mal da atual seleção brasileira? Como resolver?
Primeiro é atrelar a seleção a CBF. É como tentar desmerecer as conquistas do Corinthians por não gostar do Andres. Depois disso uma questão de identificação, passando pelo treinador e especialmente pela falta de alegria com que os jogadores hoje voam pra ser vaiados na seleção. Está tudo bem errado.
10. Na libertadores, todo ano temos um ou dois técnicos gringos que são considerados objeto de desejo dos clubes brasileiros e até europeus. Porque é tão difícil um técnico gringo dar certo no nosso futebol?
Talvez porque eles não sejam tão melhores assim. Talvez porque achar que alguém faz bem um motor de fusca não signifique que ele possa ser o cara a fazer o motor da Ferrari, ou vice versa. Mourinho pra mim não passaria 3 meses aqui. Isso não faz dele ruim. Faz dele culturalmente diferente da gente. Só isso.
11. Existe algum tema em específico que gostaria dissertar mas que não o abordamos? Algum recado para seus fãs? Faça suas considerações finais. Foi um prazer para nós, a equipe 4-3-3 te deseja toda sorte do mundo, um abraço!
Não, tá tudo ai. Agradeço meus fãs e também os que leem pra discordar. Lendo, tá ótimo (risos).
Obrigado, sucesso pra vocês queridos.