Portanto, o Blog 4-3-3 começará uma série de matérias desmantelando toda essa falácia envolvendo o futebol e apresentando ao caro leitor uma visão mais ampla do que o esporte envolve, uma mescla de geopolítica, história, religião, cultura, politica, ditaduras, pressão midiática etc.
Nada melhor que iniciar essa grande série com o que muitos consideram a maior rivalidade do mundo. De um lado o Celtic Football Club, de outro o Glasgow Rangers (Rangers F.C) ambos envolvendo muito mais que vinte e dois jogadores, e sim envolvendo classes sociais, religião, ideologias diferentes, posições políticas e obviamente, a criação de um ódio por muito tempo mortal entre os jogadores e torcida uns com os outros.
Para que possamos entender a raiz de toda essa rivalidade, necessitamos entender o confronto religioso que separa ambos os times. Se por um lado temos o Celtic, um time mais do "povão" com a esmagante maioria dos seus torcedores de origem católica, do outro lado temos o Rangers, uma equipe que tem sua torcida para o lado protestante puritano. A questão religiosa dentro da Escócia e Reino Unido até o início do século XXI foi muito intensa, transformando suas ideologias na mentalidade do povo Escocês, que sempre foi divido pela herança católica irlandesa, e a herança puritana inglesa.
O atacante grego Giórgos Samarás (Γιώργος Σαμαράς) cobrando pênalti em um Old Firm Derby |
O clássico também é um dos mais antigos do mundo, tendo seu primeiro confronto em 28 de maio de 1888 quando o Celtic venceu por 5 a 2. Porém o confronto começou a tomar notoriedade envolvendo muita confusão a partir da final da Copa da Escócia em 1909 quando mais de 60 000 torcedores entraram em brigas forçando a polícia suspender a partida.
Torcida do Celtic provoca a do Rangers com um enorme bandeirão representando a morte e apresentando os Quatro Cavaleiros do Apocalipse |
A regra puritana reinou por mais de 100 anos na equipe do Rangers até que em 1987 essa marca foi quebrada com a aquisição de um jogador judeu Israelense, Avi Cohen quebrou a marca centenária, e abriu as portas para as demais religiões, foi em 1988 que Maurice Thomas Giblin Johnston quebrou o tabu sendo o primeiro jogador católico à jogar pelo clube. Tal feito revolucionou a diretoria do Rangers contratando em massa jogadores de várias nacionalidades e religiões, tal feito impulsionou o a equipe ao mesmo feito que o Celtic conseguiu à anos atrás, dessa vez os nove títulos consecutivos foram do Rangers, que já na temporada 1988/89 iniciou a sequencia de títulos, que só foi quebrada na temporada 1996/97. O feito reafirmou a imensa soberania do time em território Escocês, impulsionando a equipe a ganhar a maioria dos títulos nacionais até o início do século XXI.
Já no século XXI, desde 2010 as equipes não se enfrentam com tanta frequência devido à falência do Rangers e a queda para a quarta divisão da Escócia. O Celtic já soma 4 títulos consecutivos, enquanto o Rangers ainda luta na Segunda Divisão para conseguir subir no dificílimo sistema de ascensão Escocês, onde sobe apenas um, cai apenas um, e briga o penúltimo da primeira divisão e segundo da segunda divisão por uma repescagem.
Até o presente momento, a última partida entre ambas as equipes ocorreu na Copa da Escócia em 1 de fevereiro, com a vitória do Celtic por 2 a 0. Porém, a rivalidade extrema continua, e o saudosismo desse clássico centenário continua firme, tão firme quanto sua história de rivalidade, política, religião e tudo que transforma esse um dos mais icônicos confrontos da história do futebol.
Time do Rangers comemorando gol em pleno Celtic Park |