O jogador completo e a forma errônea de se analisar futebol


Em debates quanto ao nível de jogadores, uma frase quase sempre é dita para colocar um jogador acima de outro: “Prefiro ele, é um jogador mais completo”. Força, entrega dentro de campo, ambidestria e velocidade frequentemente são características utilizadas para taxar um jogador como completo e acabam sendo mais valorizadas em detrimento à precisão, inteligência, técnica e noção tática.

Talvez o exemplo máximo disso seja o Barcelona da era Pep Guardiola. Jogadores como Sergio Busquets, Xavi e por vezes até Messi eram depreciados por supostas “deficiências”. Busquets não raramente é colocado como um jogador comum, por não ser muito vertical com a bola ou por não ser tão agressivo sem ela em comparação a outros jogadores que se destacaram na posição. Xavi Hernández mesmo em seu auge era frequentemente colocado no mesmo nível ou abaixo a jogadores como Gerrard, Lampard, Touré ou Schweinsteiger (excelentes jogadores, porém abaixo do que o espanhol jogou) por não ser tão forte, nem arrematar tão bem de longa distância. A precisão do jogo de ambos, a noção tática e leitura de jogo quase perfeitas eram por vezes subestimadas por não serem considerados jogadores “completos” em atributos menos importantes para o trabalho correto de meio campo.
Multicampeões Xavi e Busquets ainda são subestimados por alguns





Nem mesmo Lionel Messi escapava de críticas. Mesmo em suas melhores temporadas tinha seus prêmios individuais questionados quando comparado a Cristiano Ronaldo. A ambidestria e imposição física do português (brilhante, porém inferior ao argentino em algumas temporadas) frequentemente são colocadas acima da capacidade de criação de jogadas e técnica do argentino (desde 2009/2010 a temporada com mais dribles completados do português teve 106 dribles completados, enquanto a temporada de Messi com MENOS dribles completados teve 141).

Zidane era lento, Zico, Cruyff, Baggio e Platini eram frágeis fisicamente. Jogadores como Redondo e Scholes não eram velozes e nem grande marcadores. Ronaldo Fenômeno não era considerado um grande cabeceador. Nenhuns dos citados seriam considerados jogadores completos em algumas concepções de futebol. Entretanto, eram craques incontestáveis.
Zidane foi um dos melhores meio campistas da história, mesmo não tendo muita velocidade

Todos os aspectos citados inicialmente têm grande importância no futebol, entretanto não podem ser colocados como fundamentais na caracterização de um jogador como “completo” e tampouco serve como parâmetro definitivo para caracterizar um jogador como superior a outro.
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