Os que sofrem, gritam mais


Um dos primeiros passos no guia de como se tornar um fã de futebol se resume a escolher seu time de coração. Aquele clube pelo qual seu coração bate, palpita mais forte. A instituição que identifica, que monta um laço geralmente eterno com uma pessoa. O clube é seu orgulho, seu verdadeiro troféu, o verdadeiro espaço para mostrar sua paixão pelo esporte bretão. Como principal critério de escolha da instituição a ser seguida dentro do mundo futebolístico, a maioria das pessoas, em geral crianças, escolhem o clube pelo qual experimentam as primeiras relações de vitória. O momento de êxtase, de superação que traz novos membros para o clube. A grande recompensa do esporte.

Não existe nada de errado em entrar na caravana de uma equipe por suas vitórias. É totalmente normal. No final do dia, o grande propósito do futebol assim como de qualquer outro esporte é vencer, é conquistar troféus, se impor sobre os outros como o melhor que há. A vida tem seu sentido exaltado dentro de seus aspectos positivos. E essas vitórias clubísticas são canalizadas para as pessoas que possuem laços com os mesmos. O futebol, no seu sentido vencedor, é o sentimento de felicidade volátil que acrescenta uma dose de alegria na vida de qualquer um envolvido.

Mas nem todo mundo ganha. Afinal, só um possui esse direito em cada competição existente. E quanto aos outros que não possuem essa regalia de ser o melhor? Os que não conseguem abocanhar os troféus com regularidade, ou até que nunca conseguiram um? O que existe para essas pessoas num esporte que ao invés de ser um momento de lazer, de felicidade, só os traz sofrimento e dor?

Para esses, existe o verdadeiro significado do futebol.

A vida é feita, em sua maioria, de momentos ruins. O mundo é assim. É difícil, é cru, é duro. E quando se sofre dentro do futebol, se cria a verdadeira identificação, o último pedaço. É nesse momento que os laços enrijecem e ficam presos até o além-mais. Quando o seu clube cai, a vida e suas dores são vistas nele, e não só os bons momentos começam a relacionar-se. Os maus momentos perpetram uma ''morte abraçada'' entre a instituição e seus torcedores. É aí que o clube não traz a força para os adeptos. E sim os adeptos que trazem força para o clube.

Aqueles que só convivem com os louros, com as conquistas, podem até se tornar torcedores corriqueiros. Mas nunca entenderão o lado de alguém que sofreu. De alguém que esteve na pior, e que, como uma fênix, viu sua paixão e seu orgulho ascender. De alguém que nunca viu o sucesso, mas que vê na sua instituição uma representatividade tremendamente semelhante com seus ideais. Esses são os que gritam mais quando estão na cancha, são os que desgastam seus pulmões até o momento em que não existe ar suficiente para respirar, em que a vida se vê escassa.

Futebol é um turbilhão de emoções, é o esporte que mais transcende suas delimitações da regra. É um modo de viver, é o mantra dos sentimentos. A representação mais precisa da vida numa competição de homens. E como a vida, só tem sua complexidade entendida de forma total quando se encontra em todos os tipos de situação. Nos altos, nos baixos, nos neutros. E quem teve esse privilégio, quem teve essa honra de vivenciar todos esses tipos de momentos, esses são os que gritam mais. Esses são os que vibram mais. Esses compreendem o verdadeiro significado de nossa função no planeta, e o verdadeiro significado do futebol.


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