Em 2014 o Flamengo se via numa grande
crise e estava na lanterna do campeonato brasileiro. Após demitir Jayme de
Almeida e Ney Franco a diretoria arriscou trazer um técnico vencedor, mas de
fracos trabalhos recentes e já considerado ultrapassado. Luxemburgo
surpreendeu. Com um esquema de contra-ataque potencializou a características de
todos os jogadores do elenco. Jogadores limitados como Gabriel, João Paulo
fizeram os melhores 6 meses de sua carreira. Apostando na velocidade na frente,
no avanços dos laterais, bola aérea e os lançamentos de Héctor Canteros o
Rubro-negro se reergueu no campeonato, fez ótima campanha dentro de suas
limitações e só caiu na copa do Brasil num jogo épico contra o futuro campeão.
Porém chegou 2015. Luxa teve
grana pra contratar. Não renovou com João Paulo, emprestou vários jogadores e
preferiu investir alto em Marcelo Cirino ao invés de Lucas Pratto. Contrariando
o que se esperaria, Luxa não manteve a ideia de jogo de 2014. Num elenco
limitado tentou um jogo de troca de passes. Tentou com jogadores como Marcio
Araújo, Arthur Maia, Everton, Gabriel e Cirino implantar essa ideia. Canteros o
centro de qualidade técnica da equipe também oscilou bastante, mas muito em
função de ser bem mais pressionado e não ter o espaço que teria quando a equipe
tem o contragolpe.
Mais do que uma ideia de jogo errada,
Luxa escolheu o desenho tático errado. Um 4-3-3 que varia para 4-1-4-1. As
referências: Barça e Alemanha. Muito bom se inspirar neles, mas há grandes
diferenças. Na Alemanha, Kroos e Khedira se aproximavam constantemente do
ataque, muitas vezes em condições de definir, ou de ser uma presença incômoda
no ataque, desafogando o ataque. No Barça, Messi e Neymar entram sempre em
diagonal, ficando igualmente sempre em zona de definição e quase sempre com um
Rakitic fazendo o mesmo que os citados alemães. O esquema que Luxa implantou
pedia isso. Pontas que entram em diagonal um volante que arma(Canteros), mas
também um que se aproxime constantemente do ataque. Basicamente o Flamengo
tinha na maioria das vezes apenas o 9 em zona de definição de jogadas. Não á
toa penou contra o Vasco e sofreu contra qualquer equipe que se fechasse com o
mínimo de eficiência.
Luxa insistiu no que dava errado
e caiu com justiça. A diretoria então buscou no mercado o "moderno"
Cristóvão Borges. Alguns esperavam uma revolução tática, mas nada de muito
surpreendente vem acontecendo.
Quem acompanhou pelo menos de longe os trabalhos do
treinador, pode perceber as características semelhantes em todas as suas
equipes. Sempre jogavam com alta linha defensiva e de forma mais ofensiva. Até
mesmo em seu limitado Bahia, Cristóvão tinha jogadores de característica
ofensiva e tentava jogar para frente. Já o Flamengo, não tem muitos jogadores
ofensivos do tamanho do clube para jogar dessa forma , o treinador percebe isso
e coloca o time para jogar com três volantes, sendo dois tendo o combate como
principal virtude. Mas mesmo assim, o professor rubro-negro continua com suas
convicções e o Flamengo acaba sempre tentando tomar a iniciativa e atacar,
especialmente quando joga como mandante. Se avaliado o desenho tático, segue
sendo exatamente o mesmo.
Evidentemente, isso não dá certo. Para começar,
qualquer time, se quiser jogar com uma linha defensiva alta, precisa necessariamente
ter bons jogadores na parte ofensiva(Everton, Cirino e Paulinho podem até ser,
mas estão em péssima fase e vem deixando a desejar especialmente nos passes),
para que eles possam fazer valer a pressão, para criar boas oportunidades e
marcar gols, ou ter zagueiros de alto nível que possam minimizar as falhas.
Muitas vezes esse modelo de jogo exige paciência, rodar a bola de um lado para
o outro devido a compactação adversária. Uma prova de como essa ideia é falha,
é que o rubro-negro é o 5° time que mais errou passes no torneio(450). Se o
plantel não possuir grandes zagueiros ou jogadores minimamente criativos, essa
formação acaba se tornando um suicídio por deixar a retaguarda exposta e dar a
oportunidade de o adversário aproveitar os espaços e puxar contra-ataques.
Agora, eis a questão: O que levou a diretoria do
Flamengo a contratar um treinador que vai de contra a característica de seus
jogadores? Seria desconhecimento das valências do próprio elenco ou de seu
técnico? Será que Vanderlei Luxemburgo estava certo em sua afirmação que os
Cartolas do rubro negros não sabem nada de futebol e sobre Rodrigo Caetano
estar de mão atadas?
Errou ou está de mãos atadas? |
A culpa não é de Cristóvão, mas sim de quem o
contratou. O treinador, apesar de cometer alguns erros, tem o seu jeito de
treinar e pensar futebol e não vai mudar isso tão rápido e provavelmente faria
um trabalho melhor se tivesse uma equipe com os jogadores de combinem com suas
características. Analisando o elenco atual é possível afirmar que o Flamengo
estaria melhor com um treinador que prefira um esquema tático menos ofensivo e
mais compacto mesmo jogando no Maracanã sob a pressão da torcida.
E um recado a diretoria, que mais
uma vez falhou na troca de técnicos, como falhou ao demitir Jayme e contratar
Ney Franco : Se quiserem ficar com o Cristóvão, contratem pelo menos um
bom zagueiro e um meia criativo; Mas se a intenção é manter essa equipe até o
final do ano, não percam tempo em manda-lo embora e colocar outro profissional,
dessa vez com características compatíveis ao elenco que o Flamengo tem.