Da internet para a ESPN - Leonardo Bertozzi



Leonardo Bertozzi começou como a grande maioria dos escritores esportivos independentes atuais: criando um site. Com a sua visível qualidade e esforço árduo, hoje trabalha em um dos veículos de comunicação com mais credibilidade de todo o mundo. Fã de fórmula 1, Léo foi muito duro quando comentou o desmanche da Primeira Liga e emplaca uma frase emblemática: "Não há revolução consentida". Confira na íntegra:

1. Assim como nós, você também teve um site esportivo, no seu caso, sobre futebol europeu. Você imaginava que um dia chegaria a ocupar o posto de funcionário de uma empresa como a ESPN? Qual são os conselhos que poderia dar para nós, que ainda estamos no início da nossa jornada?

É muito importante para o jornalista se manter na ativa, praticando sempre. Pensei no Futebol Europeu como uma chance de mostrar meu trabalho, pois, assim como acontece com muita gente que se forma, não tive uma colocação imediata no mercado após obter o diploma. Felizmente o site me proporcionou contatos importantes na área, e graças a eles vieram as primeiras oportunidades. Se pudesse dar um conselho, diria para nunca ficarem parados. Pensar em ideias inovadoras, em nichos que possam ser bem explorados.

2. Como foi fazer sua primeira transmissão ao vivo dentro do Santiago Bernabeu lotado em 2010, naquele Real Madrid e Milan? Qual foi a sensação, o que passou pela cabeça?

Para mim foi a realização de um sonho: fazer um jogo da Champions no estádio. Foi ano de Copa do Mundo e na época da Copa eu tinha menos de um ano de casa. Não fui à África do Sul, mas trabalhei bastante na base em São Paulo, fazendo jogos e programas no TV e na rádio Eldorado/ESPN. Para mim foi um reconhecimento importante e sou muito grato ao Trajano pela confiança que depositou na época.

3. Qual a sua relação com o Trivela? Admiramos bastante o trabalho que eles fazem e sabemos que você foi/é/era editor ou consultor do site, ainda possui algum cargo com eles? Como foi sua experiência lá?

Hoje minha relação com a Trivela é de fã. Em janeiro completam dez anos que fui trabalhar lá - na época, com a revista em circulação, além do site. Sempre tivemos valores parecidos na relação com o futebol. Foi ainda minha primeira experiência numa redação física e deixei grandes amigos. Hoje a Trivela tem gente muito boa no comando, como o Lobo, o Bonsanti, o Stein, todos excelentes.
Na Trivela, foram grandes experiências.

4. Muito tem se falado dos jogadores mortos na tragédia da Colômbia, porém, muitos jornalistas também se foram naquele fatídico acidente, você era próximo de alguns deles? O quanto isso impactou no meio do jornalismo esportivo na sua opinião?

Todo mundo acaba se conhecendo nas viagens, nos eventos, todos nos sentimos muito próximos. Não tinha trabalhado diretamente com nenhum deles, mas isso não faz com que a perda seja menos dolorosa. Nosso papel agora é honrar a memória dos que se foram. Acho que todas as emissoras cumpriram muito bem a missão na cobertura dos acontecimentos.

5. A Primeira Liga, que fez tanto barulho no começo desse ano, se mostra praticamente desmanchada para o ano que vem. O que parecia ser uma bela proposta de um futuro bom, tende a ser um dos piores fracassos do esporte dos últimos anos. Qual a sua visão sobre o tema?

Não há revolução consentida. Nenhuma liga pode esperar boa vontade da CBF ou acreditar em promessas. Só haverá uma reforma de fato no futebol brasileiro quando os clubes entenderem que precisam estar juntos e não colocar o interesse individual em primeiro lugar. Gosto da Primeira Liga como ideia, mas entendo que só uma postura mais combativa provocará mudanças de fato. Do contrário, será apenas mais uma competição para inchar o calendário.

6. Você já comentou que gosta bastante de Fórmula 1. Esse ano vimos uma temporada bastante previsível com a disputa das duas Mercedes do começo ao fim do campeonato, a grande surpresa fica por algumas corridas sobrenaturais do holandês Max Verstappen, o que acha do garoto? E qual a sua prospecção para os próximos anos da modalidade?

Acredito que 2017 vai depender muito da escolha da Mercedes para substituir o Rosberg. Se buscarem um piloto para escoltar o Hamilton, potencialmente será uma temporada monótona. Adoraria que fossem buscar o Alonso e os deixassem livres para duelar - até porque o Alonso merece mais uma chance de disputar o título depois de anos com carroças nas mãos. Quanto ao Verstappen, é muito divertido de se ver, mas ainda está amadurecendo.
Para o comentarista, dupla podia ser reeditada.

7. É fato que o mundo do jornalismo esportivo digital está bastante inchado, hoje em dia é corriqueiro vermos sites e mídias independentes tentando alcançar seu lugar ao sol, muita gente tem como sonho fazer do seu site, uma fonte de renda satisfatória. Você que tem experiência no assunto, quais são as melhores maneiras de rentabilizar um site esportivo?

Eu tive meu site em um momento de retração do mercado. Ele ficava em um portal, Cidade Internet, que naquela época começava a retrair seus investimentos no Brasil. Não posso dizer que rentabilizei o site. O que aconteceu foi colocar meu trabalho na vitrine. Mas hoje há bons meios de monetizar os sites, como o Google Adsense, e as redes sociais são ferramentas importantes de divulgação.

8. Quem merece ganhar o prêmio de melhor jogador de 2016? Porque?

Cristiano Ronaldo, porque uniu o desempenho em campo a conquistas importantes, tanto no clube quanto na seleção.

9. Para você, qual é o peso de ser um “incaível” no Brasil hoje em dia? Atualmente, são poucos os clubes que nunca sequer frequentaram a segunda divisão, esse tabu tem alguma relevância na sua opinião? Qual?

É um registro histórico válido, motivo de orgulho para as torcidas. Mas com o passar do tempo, e a ciranda que é o futebol brasileiro, é possível que um dia ninguém resista com essa marca. Como acontece na Inglaterra, por exemplo, onde todos já frequentaram a segunda divisão em algum momento. Nosso campeonato é relativamente jovem.

10. O Vasco subiu para a serie A (novamente) esse ano a trancos e barrancos. Com uma torcida desconfiada, um presidente temperamental e um elenco fraco para a primeira divisão, o que o torcedor vascaíno deve esperar do time para 2017?

Não se iludir com o estadual e se preparar para um Brasileiro difícil. Com essa mentalidade, o Botafogo conseguiu surpreender.

11. Foi um prazer concluir essa entrevista, Léo! Faça suas considerações finais, o 4-3-3 te deseja tudo de melhor!

Agradeço muito pelo interesse e mando um abraço a todos os leitores!
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