Lembro até hoje que uma das novidades do Campeonato Brasileiro 2016, apresentada com um relativo entusiasmo pelos cartolas e pela CBF, foi um hino. Na inspiração do maior torneio de clubes do planeta, a UEFA Champions League, foi criado um hino oficial para a liga nacional, reproduzido nas entradas dos times ao campo. Na cerimônia de início ao torneio, também houve a introdução dos jogos na segunda-feira, 20h. O diretor de competições da entidade máxima do futebol brasileiro, Manoel Flores, afirmou à época que "é um horário de sucesso em outros campeonatos mundo afora".
Está visível a preocupação da CBF em se espelhar nas grandes ligas com a intenção de passar a impressão que o Campeonato Brasileiro é de "primeiro mundo", modernizado. Tornar atrativo, talvez.
E deve-se admitir que o Campeonato Brasileiro é atrativo sim. O problema é que ele é atrativo por si só, ou seja, ignorando-se os problemas do campeonato, eu enxergo a nossa liga nacional como rica apenas por causa do seu seleto de clubes grandes, que é difícil de ser equiparado. E mesmo muito abaixo das ligas mais atrativas em questão de qualidade técnica, creio que nos últimos anos tem ocorrido uma melhora significativa, o que é um ponto positivo.
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| Entrada em campo com hino e novo protocolo: essa foi uma das mudanças do Brasileirão recentemente. |
O Campeonato Brasileiro, além de ser atrativo por causa da grandeza dos clubes, precisa começar a ser atrativo na questão da organização, da estruturação. Isso é um passo essencial para trazer o respeito que os clubes de futebol do Brasil merecem.
Colocar jogo em segunda-feira desrespeitando o calendário do futebol brasileiro, que já é desorganizado, pelo visto não deu certo. A lista de 20 melhores públicos do ano no campeonato, até aqui, não possui nenhum jogo nesse horário. E a única partida a ocupar a lista das 10 maiores percentuais de ocupação no início da semana foi da maior torcida do Brasil, que estava em sintonia com a sua nova casa: Flamengo 2x1 América, em Kleber Andrade, que teve uma taxa de ocupação de 90% (14.966 pagantes).
O Campeonato Brasileiro também perde MUITO colocando jogos nas mesmas datas que o calendário da seleção. Jogadores importantes de times fortes acabam saindo, prejudicando a qualidade das partidas. E de nada adianta ter um jogo do Brasil na terça e um de clube que cedeu jogador na quarta, pois ele não chega ao estádio em condições adequadas de jogo.
Esses são apenas alguns dos problemas do calendário brasileiro anual, encalhado muito por causa dos campeonatos estaduais. Enquanto por aqui é absolutamente normal um clube grande ter mais de 73 jogos por temporada, nunca nenhum clube europeu precisou fazer mais de 70 jogos em uma temporada. A média de clubes grandes da Europa, inclusive, é de cerca de 60,33 jogos por temporada, de acordo com dados de 2013. E outra coisa de ruim é que quando não é um extremo, é o outro: quando o clube é de menor estrutura e não se classifica na Copa do Brasil ou para a Série D, é fadado a ficar parado por vários meses. Tem que ser encontrado um meio-termo que seja aplicável a todos.
Podemos citar diversas outros tópicos como por exemplo a distribuição desigual das cotas televisivas e influência das Organizações Globo nas decisões tomadas (outro grande problema e diretamente relacionado aos assuntos que já citei). E outros dois problemas que merecem total atenção e são responsáveis por ter transformado a reta final do Brasileirão 2016 em um verdadeiro circo são a arbitragem e regulamento.
Qualidade totalmente questionável de certos árbitros, punições não cabíveis, escalações de árbitros negligenciadas (o que faz com que um juiz inexperiente apite um grande clássico, por exemplo), evidente despreparo quanto à situações que podem ocorrer ao longo das partidas... Tudo isso culmina em um show de horrores. Um dos últimos ocorreu no FlaxFlu. O que eu acho que aconteceu: um erro de comunicação quando o bandeirinha anulou o gol do Fluminense no início de tudo. Os jogadores tricolores foram direto pra cima do cara! Sandro Meira Ricci foi apartar e evitar qualquer agressão e aproveitou pra conversar sobre o lance. Acho que tudo começou aí. O erro por parte do árbitro e do bandeira está evidente nesse momento e no restante do negócio. 13 minutos para tomar uma decisão concreta, demonstrando total vulnerabilidade à pressão de jogadores dos dois clubes? Tá de sacanagem!
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| O Fla Flu ficou marcado pela vergonhosa confusão causada por Ricci. |
Essa não foi a primeira vez que um lance ou uma partida foram pessimamente conduzidas pela equipe de arbitragem nesse campeonato. E com certeza não será a última.
E com isso, é guerra! Por instinto que corre em suas veias, os cartolas vão querer utilizar o regulamento do campeonato, suas marionetes representadas no STJD para alterar o destino em favor de seu próprio time. O problema é que a desorganização e leis mal formuladas permitem isso, oras.
Poderia ser bem mais simples que isso. Poderia iniciar-se um processo investigativo para ver quem foi que recebeu e difundiu a informação que os jogadores tricolores estavam impedidos e punir o infeliz.
E depois disso, por conta de erros de arbitragem que, apesar do despreparo, podem acontecer em qualquer partida...
...o Figueirense vai pedir anulação da partida contra o Palmeiras!! Quando li isso pela primeira vez, achei que era notícia de algum blog de piada. Mas não.
Devo ressaltar também que é uma pena que grandes figuras e dirigentes não queiram melhorar o futebol brasileiro. O senhor Paulo Nobre não dá as caras para questionar a arbitragem do jogo da última rodada enquanto Eduardo Bandeira - que também não deve ser santificado - está em divergências com Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, por ameaçar ir à Justiça para obrigar a CBF a cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte.
Até caráter está envolvido nisso. É uma questão bem mais profunda que parece e que não vai ser resolvida de um dia pro outro. Escalação mais criteriosa de arbitragem, diminuir o número de leis aumentando proporcionalmente sua rigidez para que clubes não entrem em recurso com pedidos ridículos, cotas televisivas mais igualitárias, redução monstruosa ou até o fim dos estaduais...
São mudanças como essas que eu gostaria de ver.
E não a implementação de um hino.



