Síndrome de Estocolmo futebolística


Porque há tanta rejeição ao progresso no futebol sul americano? Qualquer mudança que envolva a Libertadores da América é tratada como quebra de tradição, como símbolo do gourmet. “Porque antes o time visitante entrava em campo na base de pau e pedra vindo das arquibancadas, isso sim era futebol de verdade”.

Isso é o que significa futebol de verdade?

As pessoas simplesmente se acostumaram com o que é ruim, talvez como uma forma de mascarar a falta de estrutura e qualidade. Alguns se utilizam de argumentos abstratos para compensar a incompetência, com o pseudo sentimento da alma latina que peleja em campos lamacentos com seu uniforme sujo e rasgado enquanto, mancando de uma perna, se mantém de pé frente ao grosso e violento time adversário.

A metáfora a qual me referi é puramente imaginária, ela só acontece nas fotos tirada por algum ângulo curioso que mostra a sola da chuteira do zagueiro levantando a grama enquanto o atacante pula em uma tentativa de se manter “vivo”. E a única função que isso tem é a de exemplificar em um clique, o mesmo roteiro de filme hollywoodiano de sempre.
O tão amado "clima de Libertadores"...

Não acho que seja possível que alguém em sã consciência realmente goste de gramados ruins, estádios sem estrutura para jogos de grande porte, torcida exageradamente hostil, jogadores grossos e arbitragem duvidosa. Principalmente de tudo isso junto. A “essência” Libertadores se criou porque grande parte das “cenas lamentáveis” que ocorrem hoje, ainda nos remetem a tempos em que o futebol neste continente era como Minas Gerais em seu início: rica, abundante e valiosa. Porém, os europeus chegaram e simplesmente roubaram nossos tesouros, alegando um melhor uso e lapidação fora do país, além do enriquecimento. Impressionantemente, o exemplo serve tanto histórica, quanto futebolisticamente.

Então se cria na cabeça do latino que se a involução ainda tem como moradia o nosso continente, isso significa que mantemos nossa tradição do tal “futebol de verdade”.

E não me refiro a nova mudança na Libertadores, que ao meu ver se trata apenas de uma saída da zona de conforto atual, muito necessária, mas desmedida. Me refiro a grande dificuldade em aceitar que precisamos sim evoluir, precisamos de estádios modernos, precisamos de uma torcida menos troglodita, precisamos de gramados lisos, de tecnologia inserida no jogo e de uma estrutura digna do maior torneio das Américas.
Hora de aceitar que a competição é sim um produto e valoriza-la,

Uma evolução desse naipe faria o produto Libertadores (sim, a competição é um produto vendável como qualquer outro evento de entretenimento) ter um potencial financeiro absurdo, com um retorno tanto de bilheteria, como de premiação, imenso para os clubes participantes. Sim, sabemos que a Conmebol não é idônea pra conduzir uma reforma como essa, mas a Uefa é? A Fifa é? Não. E fizeram.

Falta mudarmos a mentalidade de vira-lata, parar de se contentar com a besteira de achar um jogo violento legal, de achar brigas campais bonitas. Isso não representa o futebol de verdade, pelo contrário, atesta o quão tolo pode ser um torcedor que mesmo com o atual modus operandi esfregando na cara de todos o quanto é ruim, insiste em mudar a perspectiva e criar a ilusão de que se algo é ruim, então ele é bom.
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