O Regente das Estrelas


Atualmente, existe um consenso geral sobre quais qualidades devem possuir um centro-campista World Class. Visão de jogo apurada, ótimo senso de posicionamento, uma obediência tática digna de um soldado do Exército, qualidades técnicas aprofundadas e uma (no mínimo) boa capacidade defensiva. Geralmente, todos tendem a valorizar mais aquele meia “classudo”, que possui um toque refinado e que se movimenta com elegância pelo campo, articulando as jogadas e orientando seus companheiros. Estes meias não costumam marcar muitos gols, deixando o protagonismo de lado, preferindo ser chamados de regentes. Os verdadeiros eruditos, que comandam toda a orquestra à sua frente em direção ao gol.

Hoje, conseguimos pensar em apenas alguns poucos jovens jogadores que possuem estas características, talvez devido ao vício dos treinadores por pontas velozes, com muito vigor físico e pouca inteligência. Com os sistemas táticos evoluindo e as equipes atuando cada vez mais pelo meio, talvez a incidência desse tipo de jogador aumente, e seus apreciadores possam voltar a vê-los tramar as jogadas por baixo dos panos.
Considerado um maestro, Pirlo já atuou com dois de seus principais "herdeiros" de posição

Enquanto isso, todas as atenções se voltam para Paul Pogba e Marco Verratti, os dois principais expoentes desta geração de meio campistas. Enquanto o francês atua em mais áreas do campo, participando mais da conclusão das jogadas do que um regista geralmente faz, Marco prefere atuar mais atrás, começando as jogadas e moldando-as, silenciosamente transformando-as em gols. Talvez por conta de não participar tanto da conclusão das jogadas, Marco é colocado bem atrás de Pogba nesta corrida pelo topo da posição, mas neste texto acompanharemos sua carreira de perto e iremos entender porque Verratti mergulha nesta briga de cabeça.

Marco nasceu em Pescara em 1992 e infelizmente, ele não recebeu de Deus o privilégio de um corpo de atleta. Era muito baixo e magro, definitivamente não o porte físico de um jogador de futebol. Mas se o Criador não lhe deu esta vantagem, Ele com certeza compensou o jovem italiano, concedendo-lhe o dom de jogar futebol com maestria. Dono de um passe preciso e de uma agilidade desnorteante, Marco faz a leitura de jogo como ninguém. Estas características, aliadas a uma visão de jogo digna de Xavi e uma criatividade que desmantelava as defesas dos times contra quem o ainda adolescente Verratti jogava informalmente em L’Aquila, atraíram os olhares de olheiros de todo o país. Assinou com o Pescara, clube da sua cidade natal e, em 2008, sob o comando de Giuseppe Galderisi, foi promovido e fez sua estreia como jogador profissional, aos 16 anos.



Mas foi a partir da temporada 2009-2010 que Marco começou a ganhar notoriedade por seu estilo de jogo que parecia uma imitação de Alessandro Del Piero no início de sua carreira. O então meia-atacante se tornou rapidamente o principal jogador do time principal do Pescara e já recebia sondagens de clubes maiores, mesmo jogando em um cenário menor na Liga Italiana.
Na temporada 2011-12, Verratti e toda a equipe do Pescara, sob a tutela do veterano tcheco Zdenek Zeman encantaram o país da bota com atuações sublimes e vitórias imponentes na Serie B, conseguindo o título e o acesso. Marco conseguiu impressionantes 9 assistências em seus 31 jogos.

Eleito melhor jogador europeu sub 21 daquela temporada, Verratti atraiu interesse de diversos clubes de dentro e fora da Itália, mas acabou assinando com o Paris Saint-Germain do treinador italiano Carlo Ancelotti. Logo na sua segunda partida, contra o Toulouse em Paris, o garoto mostrou a que veio e contribuiu com uma assistência para o gol de Pastore. Sua primeira temporada em Paris demarcou sua migração de meia-atacante para médio central, promovida por Ancelotti e fazendo a jovem estrela repetir os passos que Andrea Pirlo seguiu no começo de sua carreira. E logo de cara, a decisão do treinador se mostrou acertada: Verratti participou de 39 partidas pelo clube, dando 4 assistências e atingindo uma média de passe de 88,5%. Marco neste ano já se transformou no termômetro da equipe, controlando o meio de campo e organizando o poderoso ataque parisiense que tinha como referência ninguém menos do que Ibrahimovic. Ao lado de Blaise Matuidi e Javier Pastore, Verratti se tornou no coração do clube que conquistou a Ligue 1 daquela temporada. Nesta época, Marco ainda faria sua estreia pela seleção principal da Itália, em um amistoso contra a Inglaterra.
Assim como no clube, Marco aos poucos se consolida como verdadeiro maestro da seleção italiana.


"Ele é um dos melhores meio-campistas do mundo , e joga mais ou menos como eu jogava no Barça e na seleção. Ele gosta de ter a bola . Ele tem perfeito domínio sobre passes curtos e longos, ele pode dar o passe final, e não perde a bola tão facilmente. ele é realmente um jogador de alto calibre." - Xavi Hernández sobre Verratti em 2015

Em 2013-14, Verratti melhorou seu desempenho atuando em 43 partidas, contribuindo com 4 assistências, uma nota média de 7.18 e 92,5% dos passes atingindo seu alvo. Foi revezando com Thiago Motta, Matuidi e Pastore no meio campo da equipe de Laurent Blanc que Marco garantiu o prêmio de Jovem Jogador do Ano e entrou para o Ligue 1 XI Of The Year. Nesta temporada, a jovem estrela se tornou definitivamente um dos melhores meias do mundo, recebendo diversas comparações com Andrea Pirlo e Xavi Hernandez. Sua capacidade de acelerar e esfriar o jogo, realizar passes que desmontavam defesas e articular praticamente todo o jogo do time francês chamou a atenção do manager da seleção Italiana Cesare Prandelli, que o convocou para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. A seleção deu vexame, sendo eliminada diretamente na primeira fase do mundial, mas Verratti saiu em alta, com 1 assistência em 2 jogos, com média de passes acertados de 96.2%, o que o deixou com a moral altíssima para a temporada seguinte, que seria a melhor da sua carreira até hoje.

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Em 2014-15, o PSG conquistou mais uma Ligue 1 e conquistou todos os torneios domésticos franceses. Na Liga dos Campeões, parou nas quartas de final. Durante todo o ano esportivo, Verratti foi um dos maiores destaques da equipe novamente, terminando a temporada somente atrás de Edinson Cavani, Blaise Matuidi e Javier Pastore no número de atuações. Em 49 jogos, foram 3 gols, 8 assistências, mais de 91% dos passes acertados, nota média de 7.47 e de quebra, 5 prêmios de melhor jogador da partida.

Durante a temporada atual, Verratti acabou sofrendo com lesões e acabou por não mostrar todo o seu talento pela equipe e seleção, perdendo mais de 20 jogos até agora, muitos deles em sequência. Porém, seus números nas 26 partidas em que atuou até agora são dignos de respeito: 3 assistências, 94% dos passes acertados e 7.25 de nota média.


Em suma, Verratti não é um jogador que aparece muito nos holofotes da partida, não marca muitos gols e prefere organizar a equipe na metade do meio campo, dando voz a todos os comandos do treinador e adicionando suas pitadas de gênio às jogadas. Marco executa a que talvez seja a mais nobre das funções dentro de campo: a de regente, maestro, que se estabelece lá no fundo do campo, invertendo a bola de um lado para o outro e mostrando com seus movimentos leves e pinceladas precisas como devem jogar os seus atacantes, os “protagonistas”. Seus protagonistas. Seus subordinados, os músicos de sua orquestra.
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