Longe dos Holofotes #01 - Silvio


Paciência, persistência e transpiração. Esses foram os princípios do brasileiro Silvio para superar as dificuldades do inicio da carreira. Deixar família, amigos e conviver com pessoas, culturas e idiomas diferentes é muito complicado, ainda mais quando se é jovem. São infinitas as portas fechadas em que se batem, mas na hora certa, uma delas se abre. E se abriu na Europa para o brasileiro, realidade encontrada por muitos outros jovens que deixam o país cedo e acabam fazendo sua carreira muito longe dos holofotes.

“Fui pra Europa bem jovem. Apesar de estar na base do Santos FC, um grande clube brasileiro, eu sempre sonhava em jogar futebol na Europa, conhecer  outras culturas e aprender outros idiomas. Quando veio a proposta do clube Suíço não pensei duas vezes e agarrei esta oportunidade”
Silvio no FC Zürich, seu segundo time na Suíça. (O primeiro havia sido o FC Wil)

Ainda vemos nos dias de hoje um certo preconceito com esse tipo de trajetória. Abandonar o Brasil cedo parece errado para alguns amantes do futebol tupiniquim, mas eles acabam esquecendo que nem sempre é uma escolha. Em meio ao bagunçado futebol brasileiro, o sonho de jogar no velho continente aos poucos vira necessidade. Quando jovem então, a oportunidade aparece e é quase impossível negar. Ir em busca de novas culturas, experiências, idiomas e qualidade de vida é imprescindível em qualquer profissão.

“Cada jogador procura sempre o que é melhor pra si. Muitos vêm pra Europa pela aventura, de conhecer coisas novas, conhecer outras partes do mundo. Já outros vêm pela parte financeira, qualidade de vida e pelo profissionalismo que os clubes por aqui praticam o que não se vê muito no Brasil. Por isso, acho que a forma de administração do futebol brasileiro também é um dos motivos que levam os jogadores brasileiros a abandonarem seu país. Por exemplo, atraso de salários, times falidos e falta de profissionalismo. Tirando alguns times da Série A do Brasileirão, acho sim que está difícil de jogar futebol no Brasil, principalmente nas equipes menores. Mas, penso também que o futebol perdeu muito o encanto e o brilho com a modernização, não só no Brasil, mas em todo mundo. O futebol passou a ser visto como produto e torcedores como consumidores, tirando muito a beleza deste esporte” 

Além das dificuldades já citadas inicialmente, adaptar-se aos costumes e principalmente ao clima de um país europeu também é um grande desafio. Porém, a qualidade de vida acaba facilitando todo o resto, deixando a adaptação muito mais rápida.

“Sim a Suíça é um ótimo país para se morar. A qualidade de vida  é muito boa. Fui sozinho e no time não tinha nenhum brasileiro. Até aprender o idioma tive que suar um pouquinho e comer durante 2 meses somente espaguete, mas valeu a pena”
Hoje com 31 anos, é o camisa 8 do Wolfsberger, da Áustria.

Apesar de pouco falado por aqui, o futebol local é uma excelente escola para jovens atletas evoluírem. Como Gokhan Inler e Tranquilo Barnetta falaram para o 4-3-3, a liga acaba sendo uma espécie de “exporta talentos”, ajudando demais na formação de bons jogadores. Silvio também levou isso em conta na hora de aceitar a proposta, e não se arrepende.

“A Suíça tem um potencial enorme para revelar jogadores. Pelo fato de ser um país pequeno, possui um campeonato com apenas dez times, e a pressão não é muito grande comparado aos grandes times europeus. Mas o futebol aqui é trabalhado com muito profissionalismo e o jogador pode se desenvolver tranquilamente. Eu evoluí muito na Suíça e sou muito grato aos quatro clubes por onde tive passagem”

Mas, a carreira de Silvio não parou no primeiro país pelo qual teve passagem. De lá ele rumou ao país da atual campeã do mundo, para defender o Union Berlim. Em terras alemãs, também aprendeu muito e destacou a organização das equipes, que trabalham com muito profissionalismo e acreditando sempre no potencial coletivo das equipes, algo que muitas vezes falta no Brasil. A mudança novamente exigiu um pouco de adaptação, já que segundo o atacante, o ritmo de Berlim era incomparavelmente mais agitado do que as pacatas cidades suíças, influenciando inclusive na torcida do clube, sempre muito presente.
Silvio defendeu as cores do Union Berlim por duas temporadas.

Depois de dois anos e meio vivendo na capital alemã, Silvio partiu para mais uma experiência. Deixou a segunda divisão germânica para defender o Wolfsberger, na elite austríaca, pouquíssimo conhecida por aqui, e acreditem, por lá também. O esporte preferido da população segue sendo o hockey no gelo, ou até mesmo esquiar nas montanhas, mas isso não incomoda o brasileiro que se apaixonou pelo país. Dona de alguns times conhecidos como Rapid Vienna, Austria Vienna e Sturm Graz, a liga do país vê um Red Bull Salzburgo cada vez mais promissor dominando o futebol local e aparecendo bem no cenário europeu. Assim como a liga suíça, o foco do futebol na Áustria são os jovens jogadores.

“Alguns clubes da liga se pode comparar sim com times da segunda divisão alemã. Talvez a segunda divisão alemã seja um pouco melhor física e tecnicamente, pois eles possuem também  jogadores mais experientes, enquanto a liga austríaca está preocupada mais em revelar jogadores jovens”

Gol de Silvio contra o Chelsea, já pelo Wolfsberger.
Apesar do susto inicial, a aventura que o jovem Silvio comprou há dez anos atrás deu certo e várias foram as experiências nesse longo período de Europa. Ligas diferentes, culturas e povos distintos, tudo isso com certeza agregou demais na pessoa e no jogador que o brasileiro se tornou. Mesmo longe da mídia, fez seu nome, conquistou objetivos e hoje ri contando algumas de suas dificuldades.

“Foi engraçado o meu primeiro dia na Suíça. Estava nevando e pra piorar ainda tinha treino. Os dedões dos pés estavam congelados. Eu não sentia absolutamente nada! Era neve entrando no nariz e nos olhos. Eu não conseguia ver a bola, que era cor de rosa. Se fosse branca, iria complicar ainda mais. Respirar também era difícil. Aquele dia achei que ia morrer (risos). Mas graças a Deus estou aí firme e forte contando estas histórias”

Silvio é mais um dos inúmeros exemplos de jogadores que deixa nosso país cedo e vive o futebol em centros secundários. Por mais que muitos acabem os esquecendo, muitas histórias podem ser contadas e é sempre bom conhece-las.

Se ele quer voltar? Parece que não. Pelo menos por enquanto.

“Sim, surgiram algumas ofertas, mas estive sempre focado no futebol europeu. Eu não cheguei a pensar em voltar ao Brasil, pois estou muito bem adaptado aqui na Europa. Não descarto a possibilidade hoje. Contudo, me encontro bem aqui. É um assunto que deixo nas mãos do meu empresário”
Um resumo da carreira do jogador

O mundo do futebol é amplo. Clubes, ligas, países, estados. Várias são as oportunidades, longe ou perto do destaque maior. E com certeza, não é preciso estar de baixo de um holofote para vencer e viver uma carreira sensacional no meio esportivo. Às vezes, histórias “do escuro” são tão legais quanto aquelas que vemos nas TV’s todos os dias. Por conta disso, Silvio é só o primeiro desses atletas que vão nos contar de suas experiências aqui no “Longe dos Holofotes”.

“Obrigado pelo espaço concedido. Desejo ao pessoal do Blog 4-3-3, bem como aos leitores do Blog, muito sucesso em suas vidas.”

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