Narrador, escritor e jornalista - Milton Leite


Uma das vozes mais conhecidas do Brasil quando o assunto é narração, Milton Leite é um dos melhores profissionais desse ramo no país. Conversamos um pouco com o narrador sobre diversos assuntos. Milton falou sobre o atual panorama do mercado jornalístico nacional, comentou sobre sua participação nos games FIFA e muito mais!

Confira a entrevista na íntegra:

1. Talvez um dos fatos mais curiosos sobre você, tenha sido quando era narrador da TV Jovem Pan nos anos 90. No momento que iria narrar um gol, ao invés de gritar o sonoro “GOOL”, você falava “A emoção acontece na Pan”. Porque dizia essa frase no momento máximo do jogo? Foi algo que você criou ou a própria emissora que pediu pra que fosse dessa forma?

Foi um pedido da emissora, que usava sinais gráficos e sonoros com a palavra gol. Por isso, pediu para cada narrada inventar um grito que não tivesse a palavra gol.

2. Você já cobriu inúmeros eventos esportivos de grande porte como Copa do Mundo e Olimpíadas. Qual desses eventos foi o mais importante pra carreira e para o seu aperfeiçoamento profissional?

Acredito que os dois primeiros internacionais. A Copa de 98 e a Olimpíada de 2000, que serviram para projetar a ESPN Brasil como canal e seus profissionais, que ainda eram pouco conhecidos.

3. Sua narração ficou marcada por alguns bordões que viralizaram pela internet afora. Frases como: “Que fase” ou “Que beleza” são palavras carimbadas em praticamente todos os jogos que você narra. A que você atribui essa popularidade inesperada em torno de uma frase que de fato é simples?

Acredito que fazem sucesso porque são simples, irônicas e naturais.

4. Hoje em dia, os games esportivos são presenças certas nas prateleiras de jogos de quase qualquer gamer. Você já foi o narrador oficial da EA Sports e se tornou a voz do game FIFA de 99 até 2006. Como foi a experiência de dublar um game desse nipe? Você chegou a jogar o jogo ouvindo a própria narração?

Foi uma ótima experiência porque me apresentou a um público diferente do que o que me via na TV na época. E por ser muito mais um trabalho de interpretação do que de narração. Eu não tenho o hábito de jogar. Nem sei. Mas já ouvi com outras pessoas jogando.
Milton foi o narrador do FIFA por vários anos


5. Você já dublou, é apresentador, narrador, escritor... Afinal, qual das funções que você realiza/já realizou que você mais se identificou?

Cada uma delas tem suas características. Adoro escrever, foi o que me levou para o jornalismo. Mas a narração foi onde consegui mais sucesso e realização profissional.

6. Jornalismo tem se tornado uma profissão um tanto difícil nos últimos tempos. Com uma instabilidade enorme e escassez de vagas boas, o ramo tem sido uma selva bastante complicada pra quem acaba de se formar. Como você vê o panorama atual do jornalismo brasileiro? Quais seriam suas dicas pra quem está se inserindo no ramo agora?

Vivemos a pior fase da história. Nunca se demitiu tanta gente como no ano passado. Os impressos estão a caminho da extinção. Rádios e TVs também demitiram muito e estão enfrentando uma grande concorrência de novas plataformas. A Internet ainda não tem estabilidade. Realmente o mercado não está fácil, mas acredito que para quem tem talento e se dedica muito, sempre haverá espaço.

7. Com inúmeros prêmios no currículo, você é um nome bastante lembrado no Brasil quando o assunto é narração esportiva. Você se considera um dos melhores profissionais dessa área no país? Quais são os outros nomes que ao seu ver, preenchem o time dos melhores narradores?

Acredito que sou muito bom no que faço. Mas "melhor" cada pessoa tem o seu, isso é muito pessoal. Cada narrador tem seu estilo, pega as pessoas por razões diferentes.
Narrador pronto para fazer seu trabalho na cabine de transmissão do Pacaembu


8. Com 56 anos, tem ainda uma longa estrada a percorrer narrando jogos de futebol. Porém como já vimos e vemos por ai, com o passar dos anos, a tendência é a voz acabar perdendo a entonação e força de outras épocas. Existe algum tipo de método que vocês usam pra preservar as cordas vocais?

Não fumo. Não bebo na véspera de transmissão, procuro descansar bem, não abuso da voz... E tenho senso crítico suficiente para, no dia em que achar que a voz já não for a mesma, procurar outra coisa para fazer.

9. Qual foi o jogo mais emocionante que você já narrou na vida? Aquele que até a equipe na cabine se envolveu com a atmosfera da partida.

Não sou um narrador só de futebol, tenho muitos momentos em diversas modalidades que considero muito bons, emocionantes, históricos. Seria difícil eleger um só.

10. Sobre o futebol brasileiro, quais são os times que pra você, entram como favoritos pra disputar o título do brasileirão esse ano?

Não vejo nenhum clube superior aos concorrentes. E o Brasileiro ainda está longe. Muita coisa ainda pode acontecer até lá.

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