E eu nem pedi pra ficar



Os mais antigos diriam que o tempo é o remédio para tudo. Discordo. Nem sempre se pode creditar à variação temporal como a cura. Uma hora pode significar a morte ou a vida. Dez minutos podem significar atraso ou pontualidade. A realidade é que, combinada com a ação humana, o tempo carrega toda a imprevisibilidade necessária para que possamos descobrir, aprender e corrigir coisas.

Imagine que se não fosse por um aspecto temporal, Keylor Antonio Navas Gamboa poderia não ser mais o goleiro do Real Madrid. Se não fosse pelo tempo, a situação dos blancos poderia ser bem pior do que atualmente é. O goleiro costarriquenho, que por anos foi destaque do modesto Levante, acabou se tornando conhecido por fazer uma excelente Copa do Mundo em 2014. Tal campanha o rendeu um contrato junto aos merengues que, à princípio, pretendia tê-lo apenas no banco de reservas.

Na virada da temporada, e contando com a saída do ícone - mas já decadente - Iker Casillas, Keylor viu a possibilidade se tornar titular de uma das equipes de maior prestígio da história do mundo da bola. Eis que a predatoriedade mental do Presidente Florentino Pérez tentou evitar que isso se concretizasse: o Real se lançou ao mercado em busca de um novo "camisa 1". 

Imotivadamente, os merengues foram atrás de David de Gea, ex-goleiro do maior rival, Atlético de Madrid, que atualmente veste a camisa do Manchester United. Óbvio que contar com um goleiro desta estirpe Gea nunca é algo para se lamentar, mas contexto em que tramitava as negociações, pintava a dúvida de qual a real razão de não deixar que Navas continuasse provando ser confiável para o cargo. Por quê trocar um goleiro que já passava segurança por outro? Seria mero capricho do vaidoso presidente madridista?

Foto: Facebook oficial do Real Madrid CF


Certamente, o costarriquenho não pediu para que aquele ponteiro do relógio extrapolasse o limite da janela de transferências. Até disse ter ficado decepcionado com a atitude da diretoria do Real Madrid. Provavelmente, Keylor Navas se sentiu desolado, humilhado e rejeitado. Mas o tempo tratou de amarrar a caneta do seu chefe de terno, que caçava um novo guarda redes. 

Com 15 jogos sem ser vazado na temporada, o costarriquenho fecha ângulos, cresce pra cima do atacante e possui reflexos invejáveis. O atual camisa 1 do Real Madrid é latino do sangue quente e domina a Europa como um imperador. Sem nunca ter tomado gol em competições continentais pelo time da capital espanhola, Keylor já pode ser considerado o anjo guardador dos madridistas, o salva vidas da tormentosa temporada merengue.

O tempo pode nos deixar feliz, mesmo quebrando a cara de nós todos. Eis que, em um estalar de dedos, em um giro de ponteiro, a luva mais brilhante é do outrora indesejado Navas.

 
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