O efeito reverso do imediatismo


Que estamos atrasados no que se refere a planejamento de futebol a grande maioria já está cansada de saber. Culturalmente, prezamos pelo resultado e deixamos o rendimento de lado, estando praticamente presos ao imediatismo. Somos acostumados a ver uma troca de técnicos por rodada. Acabar o ano com o mesmo comandante da pré temporada é regalia de poucos. Ficamos até surpresos, erroneamente, claro.

Mas, mesmo que tenhamos que mudar esse pensamento e dar tempo necessário de trabalho aos profissionais da área técnica, não precisamos mudar tão drasticamente. O tal "8 ou 80" não pode ser a solução. As vezes é nítido que não adianta dar mais tempo, o trabalho não evolui e nem dá sinais disso. Não é por que a cultura está errada dando 3 meses de trabalho, que temos que necessariamente insistir por 3 anos com todo e qualquer treinador.

Para ter tempo, temos de ver o trabalho acontecendo. É como um jogador de futebol. O treinador insiste por meses, mas se ele não evoluir e nem dar sinais de que vai, senta no banco e dificilmente volta. No caso dos técnicos, implementar um esquema precisa de bastante tempo e trabalho. Mas, aos poucos é perceptível vermos o corpo do time evoluir, tomar cara. Quando isso não acontece, é hora de repensar na situação.

Vamos direto ao ponto: nossa pífia cultura de imediatismo não pode servir de escudo para trabalhos sem evolução nenhuma. 
O bom elenco não condiz com o futebol pobre da equipe de Marcelo Oliveira

E esse é o caso do Palmeiras de Marcelo Oliveira. Um enorme e perfeito exemplo da análise pura de resultado, para alguns. Por mais que não tenhamos evolução alguma na equipe, muitos ainda usam o velho discurso do "ele foi campeão da Copa do Brasil, isso que interessa. Merece crédito". Mas será mesmo que merece?

O ex-técnico do Cruzeiro chegou com muita moral a São Paulo, em junho do ano passado. Oscilou demais, indo das mais belas partidas a jogos sem troca de passes, reféns do chutão e do pragmatismo de uma só jogada. A falta da pré temporada, o elenco montado por outro treinador, o tempo curto de trabalho entre partidas, todos esses fatores foram usados para defender a falta de padrão da equipe alviverde.

Veio então um título, aos trancos e barrancos. Mas, é um título, e com certeza apagava praticamente todas as falhas da equipe, o deixando com a moral elevada para 2016, com tempo de pré temporada e reforços indicados pelo próprio. O otimismo estava lá em cima, mas já não existe mais.

O time segue na estaca zero. Estagnado. Em muitas partidas pode ser descrito com a simples frase: A antítese do futebol moderno. Meio descompacto, pouca troca de passe, insistência pela linha de fundo e chuveirinho. Difícil de assistir e até de analisar. Vemos uma equipe sem organização, dependente das individualidades, muito prejudicadas pela falta do coletivo.

Vendo tudo isso, a torcida "faz a sua parte". Abraça a cultura do tal imediatismo, pede demissão, pra já. Não liga pra toda uma pré temporada perdida, só quer ver outro treinador no comando da equipe. Estão errados?
Parte da torcida não aguenta mais o fraco nível de atuação alviverde. 

Com quase 10 meses de trabalho, não vemos sinais de evolução na equipe alviverde. O elenco, ainda melhor nessa temporada, não rende o que pode e parece um "catadão" em campo. Serão motivos plausíveis para uma demissão? Ou a diretoria seria apedrejada por não dar tempo ao treinador?

Temos de analisar situação por situação. Não podemos simplesmente clamar pela não demissão de treinadores para mudar o nosso futebol. Seguir o padrão europeu talvez seja preciso, mas, para isso, é necessário qualidade. Algo que em alguns trabalhos falta, e falta muito.

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