História, carreira e opiniões - André Henning



Com uma rica trajetória profissional, André Henning já narrou até mesmo Formula 1 e admite que era um decente armador no basquete. Além disso, destacou o pior momento de sua carreira e sua relação com o multicampeão e maior ídolo da torcida flamenguista, Zico. Confira na íntegra:

1. Sua primeira experiência narrando foi com a Fórmula 1 e posteriormente, o vôlei masculino nas olimpíadas de 2004. Quando foi que narrou o seu primeiro jogo de futebol? Como se sentiu na ocasião? Foi diferente de uma narração automobilística ou de outro esporte?

Bom, primeira coisa que eu tenho que falar é que você pesquisou bem a minha história. Absolutamente ninguém se lembra que um dia narrei Fórmula 1! Claro que a audiência não devia ser lá grande coisa, mas mesmo assim... Parabéns! (risos)

O primeiro jogo de futebol que narrei foi um Guarani x Santos, no Brinco de Ouro, em Campinas. Foi um sábado, véspera de eleições, com rodada tripla na rádio. Então, o chefe da equipe, Eder Luiz – que, após as Olimpíadas já tinha conversado comigo sobre apostar pra valer na narração – me deu a chance de narrar essa partida. Foi completamente diferente de qualquer coisa que já tinha feito antes. Eu não tinha a menor ideia do que ia acontecer, não tinha preparado frases especiais, jargões, nada. Eu sabia que ia falar “apita o árbitro, começa o jogo” e mais nada! O resto ia descobrir na hora... Pra piorar, o comentarista do jogo, o José Calil, estava brigado comigo por alguma razão que não me lembro e a gente não se olhava na cara do outro. Baita climão (risos). E ainda teve um gol que o árbitro ficou na dúvida se a bola tinha entrado ou não... Enfim, uma tragédia! Mas deu certo. Pelo menos, depois disso o Eder apostou de verdade e segui a passagem de repórter a narrador. E aqui estou.

2. Você já afirmou que viveu seu melhor momento como jornalista na Copa de 2002. Porém, qual foi o momento que até hoje considera o pior momento de sua trajetória no meio?

Acho que, nesse caso aí, vale ser mais específico: acho que foi meu auge como repórter esportivo. Cobri a Seleção Brasileira campeã do mundo, fiz uma grande Copa do Mundo (aliás, a Rádio Transamérica fez uma grande Copa!) e, para fechar com chave de ouro, ainda fomos campeões. Acho que não tem muito o que se pedir na profissão. O fato de ter sido uma cobertura do outro lado do mundo, com um fuso horário massacrante, só fez com que o sentimento de dever cumprido fosse ainda maior.

Quanto ao pior momento, se você tivesse me perguntado há alguns dias, eu falaria sobre ter sido sacado da decisão do Mundial do Palmeiras quando eu era setorista do clube e um outro repórter, de uma forma sacana, conseguiu me tirar da cobertura ou, quem sabe, do dia que o Serginho (zagueiro do São Caetano) morreu depois de ter caído duro no Morumbi numa partida com o São Paulo e, do Hospital São Luiz tive que reportar o falecimento dele... Mas nada foi comparado ao que aconteceu agora na tragédia do voo da Chapecoense. Eu não tive que entrar no ar nas primeiras horas da cobertura, acabei assistindo muito pela TV, ouvindo rádio... Mas, claro, fui muito impactado – como todos nós – pelo acontecimento. Perdi grandes companheiros naquele avião. E a ficha ainda não caiu direito... uma tristeza enorme!

3. Fora o futebol brasileiro, que ligas você mais costuma acompanhar em seu tempo livre? Porque?

Pode parecer maluquice, mas acompanho muito pouco. O que eu vejo fielmente são os jogos dos times para os quais eu torço (sim, todos temos um time!) – Corinthians e Washington Wizards, na NBA. Obviamente, vejo os grandes jogos de futebol ou de basquete quando não estou trabalhando neles – um Real x Barcelona, um clássico do Bayern, do Liverpool, dos grandes times, jogos decisivos... Mas, no geral, passo meus momentos de folga fazendo outra coisa que vendo jogo. Cansa, né? Tem outras coisas a se fazer na vida...

4. Realizando o que talvez fosse o sonho de mais de 40 milhões de torcedores, você convive com um dos maiores meias da história. Como é o convívio com o Zico? Bateu um nervosismo quando soube que dividiria o ambiente de trabalho com um cara como ele?

Puxa vida, é uma honra. O Zico é um baita de um companheiro, um grande cara. Conviver com ele é ver de perto como um ídolo deve se comportar – humilde, atencioso, educado, um cara que sabe o tamanho que tem – enorme! Ele é diferenciado mesmo. E muito divertido! Damos muita risada nas nossas andanças pelo mundo. Quanto ao nervosismo, durou 30 segundos. Assim que nos encontramos, ele já fez uma brincadeira qualquer, nos descontraímos e foi... Mas até hoje tem muita gente na TV, principalmente os rubro-negros, que treme quando ele está perto (risos). Brinco com ele que, se ainda tivesse jogado no Corinthians eu o teria como ídolo, mas como não jogou... Óbvio que é apenas uma brincadeira, pois é um grande ídolo que eu tenho! Dentro e fora dos campos.
Andre e o Galinho, juntos.
5. Como já dito acima, você já narrou outros esportes diferentes do nosso tão amado futebol, com exceção do “ópio do povo”, qual é a outra modalidade que você mais se identifica? Porque?

Basquete e handebol. O basquete por ser o meu esporte preferido, o que mais pratiquei, que continuo jogando... Fui um armador bem razoável nos meus tempos de escola, lá em Salvador. Até hoje, a turma dessa época se reúne pra jogar e, quando estou por lá, também bato uma bolinha. E o handebol por ter me apaixonado completamente pelo esporte depois que narrei os Mundiais de 2011 e 2013, no Esporte Interativo. É ótimo de narrar, geralmente com jogos muito disputados, emocionantes... São os esportes que mais gosto de narrar, além do futebol.
O Washington Wizards é o time preferido do narrador na liga americana.
6.Na sua opinião, Galvão Bueno é o maior narrador da história brasileira?

Então, da história é bastante tempo, né? (risos) Mas, pra mim, é sim. O Luciano tem uma parcela de contribuição para a nossa TV que é enorme, mas pela longevidade, pelo estilo, pela repercussão, pela qualidade, o Galvão é o maior de todos. Sempre fui um grande fã, desde quando nem era o primeiro narrador da Globo. Meu pai quando trabalhava no Plim-Plim, sempre que podia, me levava pra vê-lo em ação, pra conversar com ele... Ele era (e ainda é) bom demais!

7. Neste ano, vimos um grande aumento nas vagas para brasileiros na Libertadores da América do ano que vem. Como você enxerga essa questão? Virou bagunça ou quanto mais vaga melhor?

Virou bagunça! (risos) A Libertadores, ao meu ver, tem que ser uma grande competição americana – envolvendo EUA, México e América Central também. Eu a entregaria a um grande executivo norte-americano, alguém com experiência de NFL, NBA, ligas desse porte. Sei que muita gente não curte essa ideia, mas eu a defendo há anos. E claro que, nesses moldes, o Brasil não poderia ter esse monte de vagas!

8. Uma das grandes discussões do brasileirão se deu por conta da polêmica arbitragem desta edição, fica cada vez mais evidente que será necessário um debate sério para a inclusão ou não da tecnologia no jogo, qual é a sua visão sobre o assunto?

Sou a favor, desde que haja um limite. Saber se a bola atravessou a linha do gol ou não, lances de pênalti, de expulsão, momentos capitais de uma partida. Não dá pra parar toda hora... E temos que, urgentemente, humanizar o árbitro! Basta conversar meia-hora com qualquer um deles para entender que vivem numa pressão enorme, apanham de todos os lados, muitas vezes com crueldade. São apenas humanos, não máquinas! A imprensa, no geral, bate demais neles. Os dirigentes também, treinadores, jogadores... E o público vem junto nessa. É cruel e muitas vezes covarde.

9. Hoje em dia com o avanço da tecnologia, é cada vez maior o número dos gamers adeptos a jogos de futebol. Passa pela sua cabeça, algum dia, ter sua narração em um jogo oficial?

Não sonho com isso, não batalho por isso, não faço lobby, mas claro que eu gostaria! Meu filho vive pedindo! Mas não depende de mim, né? Seria fácil... (risos) Tem muita gente com versões piratas que trazem a minha narração, mas nunca nem vi. Me contam, mas nem sei como são. Mas quem sabe um dia eu esteja numa versão oficial...
Será que um dia vai pintar a chance?
10. Tem se falado demais sobre o campeão Palmeiras, com o argumento de falta de variabilidade e um futebol as vezes pouco convincente, muitos afirmam, inclusive, que é um dos campeões que menos futebol apresentou. Você concorda com essa afirmativa?

Não. E acho uma sacanagem o que muitos fazem com o Palmeiras. Jogou um bom campeonato e foi campeão com justiça. Querem cobrar do Palmeiras um futebol que ninguém pratica no país. Ninguém dá show! Porque o Palmeiras daria? A Seleção Brasileira agora, com o Tite, que está começando a jogar bonito... E só! O Palmeiras jogou para ser campeão e foi com muitos méritos.

11. Foi um prazer para nós do 4-3-3, Andre! Desejamos toda sorte do mundo, faça suas considerações finais para nossos leitores e seus fãs, um grande abraço.

O prazer foi meu. O recado é que continuem prestigiando o Esporte Interativo, um canal de gente apaixonada pelo esporte e que luta diariamente para agradar o seu fã. A gente trabalha muito pra isso! Obrigado pelo convite e sucesso!
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