BBC, o Real Madrid precisa de você



Aqueles que vivenciam períodos de tempestade, procuram sempre se agarrar naquilo que mais os confortam. Os mais religiosos, se apegam a fé, enquanto os incrédulos, na capacidade de reversão do homem. Porém, quando se trata de futebol, os elementos de apego parecem muito mais límpidos.

Na capital espanhola, o time mais vencedor passa por momentos de tensões e desequilíbrios. Após assistir o maior rival conquistar as principais taças da temporada, o Real Madrid resolveu buscar uma reversão. Entretanto, as escolhas da diretoria merengue não pareceram ser tão perspicazes. Com um certo breu do que poderia vir pela frente, Carlo Ancelotti, reafirmado e renomado treinador que estava até aquele momento comandando os blancos, fora demitido, entrando em seu lugar o espanhol Rafa Benítez. Controvertidas, as reações da crítica futebolística e até mesmo dos torcedores não corresponderam com a expectativa da diretoria. Pudera, o ex-treinador do Napoli não havia conseguido triunfar conforme o esperado, e já passava por um longo período de insucessos, apesar de conquistas dispersas.

A grande chacoalhada nos recintos do Santiago Bernabéu começaram a revelar veracidade nos presságios dos adeptos. Desorganização e mau início traduziram o trabalho de Benítez. Já não bastasse isso, o treinador ainda passou a lidar com a insubordinação de alguns atletas, os quais conflitaram com o técnico.

Apesar de tudo isso, o torcedor espera resultados. Para tanto, a tempestade Rafael Benítez deve ser contida, e os merengues apostam no seu badalado trio para evitar um abalo maior, eis que passamos apenas pela metade da temporada.

Sem grandes devaneios, é óbvio que não se imputa a responsabilidade do mau momento vivido pelo Real no trio BBC, nem mesmo se deve acreditar que eles têm a obrigação de mudar o rumo do barco. Mas a capacidade para alterar resultados e trazer o sol novamente para o Santiago Bernabéu é, em tese, existente.

Fazendo um inevitável paralelo com o trio sul americano do rival, percebe-se que nem tudo foram flores durante a temporada pelos lados da Catalunha. Assim como o Real Madrid, o Barcelona sofreu com alguns abalos provocado por Luis Enrique e a coesão entre jogadores e comissão técnica. Um exemplo é a desorganização das duas equipes, conforme ilustrado abaixo.



Sem grandes alardes, o Barcelona se reafirmou na temporada, arrematando logo os 3 principais torneios. Por esse prisma, é possível imaginar uma reconstrução madridista, mas que deve ter início de imediato, antes que seja tarde demais para alcançar a boa equipe do Atlético de Madrid e o incontestável esquadrão azul-grená.

Disposto em campo, o trio tem o galês Gareth Bale como o atleta com a melhor forma atual. O jogador desembarcou na capital espanhola por um preço avassalador, investimento que se converteu em partidas irregulares e, ao mesmo tempo, momentos decisivos, como os gols nas finais da UEFA Champions League e Copa del Rey de 2013/2014. O atleta formado pelo Southampton e revelado ao mundo pelo Tottenham vive bom momento, apesar das turbulências. Se destacou como o principal atleta da seleção galesa, a qual conquistou a vaga para a EURO 2016, contando com o total protagonismo do seu astro. Pelo Real Madrid, as lesões foram um empecilho inicialmente, mas com a parte física restaurada, o bom futebol volta a aparecer. Com boa participação na fraca criação do Real Madrid, o galês busca ser um remédio para o doente meio campo madridista. 

Ativo, o galês, ponta de origem, faz seu papel por todo o campo de ataque, algo que pode ser muito fruitivo ao time madridista. A troca de posições, já marca registrada entre os membros do trio, é algo que costuma enfraquecer a marcação e abrir espaços. Gareth Bale faz sua parte, tramando ataques em lugares variados. Sua força e qualidade técnica coopera para que as jogadas possam ser executadas com decência.
Aparece na sua posição de origem, armando jogadas; no centro, concluindo-as; na esquerda, buscando os companheiros. Bale faz boa campanha, com movimentação agradável e participação constante. 


Se por um lado existe uma parte física em restabelecimento, no outro está uma parte psicológica recém abalada. O atleta Karim Benzema possui inegável qualidade. Se assim não fosse, seria impossível manter-se em um clube do escalão dos blancos por 6 anos. Entretanto, somado com as já citadas derrapagens futebolísticas e de gestão da temporada madridista, o atleta francês em particular passa por um momento delicado, tanto na vida profissional, como na vida pessoal. Após confessar ter chantageado o companheiro de seleção, Mathieu Valbuena, por conta de um vídeo íntimo, o atacante tem sido destaque nos noticiários. Além disso, Benzema também passou por problemas físicos, que o deixou afastado por algumas rodadas da La Liga. Sendo um centro avante que passa por constantes trocas de posição, o francês manteve bons números na temporada. São 15 gols em 15 jogos, o vice artilheiro dos madridistas na temporada.

O francês só não foi às redes em 4 oportunidades em que esteve em campo. Em três delas, a equipe merengue ficou com o zero no marcador (Málaga, Barcelona e Villareal). Na outra, entrou nos minutos finais. Benzema possui impacto no trio. Normalmente, é ele quem faz o pivô e busca o companheiro entrando, ou aberto. Ademais, também possui a responsabilidade de sair do encaixotamento produzido entre linhas compactas, seja trocando de posição, seja realizando uma infiltração.
Os maremotos na vida pessoal de Benzema estorvaram o atleta nessa temporada. A sua recuperação, entretanto, parece ser graduadamente bem sucedida. 


Coletivamente à analise do francês, os olhos devem se voltar ao melhor jogador do mundo no ano passado. Cristiano Ronaldo não deve se enganar. Não vive boa fase e deve lutar para superar esse problema. Para tanto, a conscientização do luso é imprescindível. As trocas de funções com seu parceiro de ataque, Karim Benzema - e notem que usa-se a expressão função, e não apenas posição -, fazem com que Cristiano Ronaldo se omita excessivamente do jogo. Apesar disso, o oportunismo e a grande qualidade de realizar o encontro da bola com o barbante das redes vem se aprimorando cada vez mais, 23 tentos até aqui. O fato de ser o homem gol da equipe não causa espanto. O que releva a tal má fase é as poucas aparições do luso em campo. Os motivos para tanto também não são unos. Os traços do técnico Rafa Benítez prejudicam a atuação do português, que já se desentendeu nos bastidores com o treinador, assim como a chegada da idade. Cristiano Ronaldo já está em sua terceira década de vida, sendo mais do que normal a diminuição de ritmo e de algumas funções específicas do atleta, mesmo sendo tão dedicado e disciplinado fisicamente.

Quer o tempo que um dos melhores, se não o melhor, jogador português da história possa entender que sua autodeterminação é capaz de superar todas essas barreiras, assim como também já habilitou o atleta a voltar a ser multi campeão individualmente e coletivamente após sair do Manchester United, superando algumas vezes seu rival pessoal. 
Cristiano Ronaldo conquistou tudo pelo Manchester United. 5 anos depois, voltou a dominar as estatísticas e as taças. A superação do atleta português é louvável. Seu futebol é incontestável e, se os deuses do futebol quiserem, voltará a jogar em grande nível. A reza fica por conta da torcida.


Não se faz necessário maiores explanações para que o leitor saiba que se trata de um dos maiores trios de ataque do mundo. Bale, Benzema e Cristiano Ronaldo parecem máquinas praticantes do esporte. Sua fama não é exagero e seu glamour é merecido. Apesar da pressão do momento lamentável da equipe merengue e da deficiência tática sofrida, as chances de reversão podem partir da qualidade técnica do elenco, a qual é definitivamente absurda, principalmente no setor ofensivo, onde o temido BBC habita. Basta a união para que a trinca se rebele e volte a abrir o sorriso dos torcedores.
Compartilhar: Plus