O ineficaz setor de criação do Barcelona


No último confronto entre Atlético de Madrid e Barcelona da história do Vicente Calderón, foi um Barça taticamente diferente que saiu com a vitória. Não era pra menos, depois da partida desastrosa contra o PSG na França e da vitória suada nos minutos finais de jogo contra o Alavés, era necessário mudar alguma coisa. Os torcedores sabiam disso, os jogadores sabiam disso e Luis Enrique sabia disso, tanto que o fez.

Optando por não escalar Jordi Alba, o treinador colocou em campo um time que, com a bola, se organizava em um 3-4-3 com um meio campo composto por Iniesta, Busquets,Messi e Sergi Roberto, com o propósito de valorizar a posse de bola, um dos elementos fundamentais dos princípios de jogo barcelonista que a equipe não vem conseguindo colocar em prática desde o segundo semestre de 2016. Sem a bola, Sergi Roberto e Mathieu compunham as laterais e o time formava o 4-3-3 que lhe é característico.

Acontece que as mudanças realizadas por Luis Enrique não surtiram o efeito desejado. Os torcedores viram um Barcelona sufocado pelo time da casa que marcava intensamente todos os setores do campo blaugrana, levando risco ao gol de Ter Stegen em diversos momentos. Os visitantes mal conseguiam realizar a saída de bola. As já conhecidas patologias do meio campo catalão ficaram evidentes mais uma vez.

Quando a defesa tinha a bola nos pés deparava-se com os pontas (principalmente Neymar) muito bem marcados pelos colchoneros. A defesa não conseguia fazer a transição da bola para o meio campo, que não realizava a movimentação necessária para escapar da marcação dos rojiblancos, nem conseguia criar oportunidades para o ataque do time através de bolas enfiadas ou afins. O time parecia jogar sem um meio campo. Não havia solidez no setor responsável por ditar o ritmo de jogo e elaborar oportunidades que levem risco ao gol adversário, como foi possível observar no confronto em Paris. Iniesta e Busquets (que não vivem suas melhores fases) estavam apagados, não conseguiam executar a saída de bola, errando alguns passes e sendo desarmados em alguns momentos propícios a armação de uma jogada. Sergi Roberto até tentava participar da criação de jogadas mas se mostrou pouco efetivo.
O Atlético neutralizava o jogo catalão.
Piqué se viu obrigado a executar os passes longos (chutões em determinados momentos) procurando Neymar ou Suárez diversas vezes, fazendo com que o time perdesse a posse da bola na grande maioria ou então com que tivesse a bola roubada pelos marcadores adversários que puxavam os contra-ataques com facilidade.

Luis Enrique mostrou estar incomodado com esse meio campo que não funciona e tentou estruturá-lo de uma maneira diferente, mas, como a maioria dos torcedores, acabou chegando à conclusão de que talvez o problema não se encontre só no sistema de jogo, talvez sejam necessárias novas peças para trazer de volta um meio campo ativo, eficiente, que faça a diferença no jogo.

Não é de hoje que estamos acostumados a ter que esperar por Neymar, Suárez ou Messi fazer algo genial que resulte em um gol. O fato do time possuir tais jogadores com tamanha capacidade ofensiva, de criação e execução, acaba fazendo com que esqueçamos de que o meio campo também tem a função de criar, ou ao menos de cadenciar o jogo e criar condições de liberdade para o ataque, coisa que não vem acontecendo com no atual time do Barcelona.

Os três gols da partida que terminou em 2 a 1 para os visitantes saíram no segundo tempo. Os marcadores foram Rafinha, Godín e Messi. Mais uma vez o meio campo catalão não teve envolvimento direto nas jogadas dos gols da equipe, tendo o primeiro deles se originado de um bate e rebate na área do Atlético onde um chute de Suárez acabou sobrando para o oportunista Rafinha, e o segundo num lançamento de Lionel Messi para a área, na cobrança de uma falta que ele mesmo sofreu, cobrou e correu para finalizar a jogada.
A vitória veio, mas longe de convencer alguém.
O Barcelona não pode continuar jogando com um meio campo tão ineficaz ofensiva e defensivamente se quiser continuar almejando a conquista dos títulos que disputa. Com o sonho da Champions League quase que arruinado, a tendência é que o time foque na disputa pelo título do Campeonato Espanhol e na final da Copa do Rey. Mas a diretoria precisa ir além. A idade já está pesando nas costas de Iniesta há um bom tempo. Rakitić teve uma queda de rendimento brusca, a ponto de ser cortado do time pelo treinador há pouco tempo atrás. Busquets está longe de sua melhor forma.

É necessário fazer uma varredura no mercado desde já, visando nomes para reforçar aquele que foi por anos um dos mais fortes do mundo e que hoje é o setor mais frágil do Barcelona.

O time catalão volta a campo hoje, contra o Sporting Gijón.
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