Nosso apreço pelo futebol normalmente começa parentes próximos. Pai, mãe, avô, avó, tios... desde cedo ouvimos histórias contadas por eles. Conhecemos de nome grandes craques do passado e a tendência é ficar encantado com tudo que ouvimos. Assim eu ficava, quando ouvia meu pai, alvinegro, falando do Flamengo de Zico e dos títulos conquistados (com uma pontinha de raiva), só para falar em seguida como o gol de Maurício em 1989 desbancou o rubro negro da Gávea, time desse que vos escreve.
Também ouvi sobre Maradona, Sócrates, Beckenbauer, Platini e
em especial um jogador com menos nome do que todos esses astros: Leandro, ex
lateral direito também do Flamengo e quem meu pai dizia ser o melhor jogador na
posição que ele viu jogar. “Caramba, ele deve ser bom mesmo! Meu pai é Botafogo e fala que ele é bom assim? ... uma pena não ter visto esse cara jogar”, pensava eu,
ainda com uns cinco anos de idade e já assíduo nas partidas de futebol, pelo
menos do Fla, do Brasil e também do Botafogo.
Os anos foram se passando e passei a ver o futebol com meus
próprios olhos. A opinião do meu pai ainda tinha peso, as histórias também, mas
já não era fator determinante para que eu achasse “X” ou “Y” bom de bola ou
perna-de-pau. Concordávamos em muita coisa, discordávamos em outras. Até hoje
conversar sobre futebol com ele passa longe de ser um problema, afinal, as
histórias que me encantavam quando criança poderiam me incomodar por um
possível excesso de saudosismo, que por sorte, nunca foi muito característico
dele, diferente de outros parentes e tiozões que conheci ao longo da vida.
“Ah, você não sabe o
que é futebol bom! Hoje em dia só tem perna de pau que corre atrás da bola”; “Você
tinha que ter visto o Santos do Pelé”; “O Fogão do Garrincha era um espetáculo!
Inclusive o Mané foi melhor que o Pelé”; “Flamengo de Zico foi um dos melhores
times de todos os tempos”; “Maradona é MUITO melhor que o Messi”...
Provavelmente você escutou alguma frase
parecida, mas apesar de não ter sofrido tanto com saudosismo, já ouvi gente
reclamando da Seleção de 2006 em seu auge antes da Copa, enquanto enaltecia
times do passado como 1982 e 1970.
Sem dúvidas, ouvir comentários assim é extremamente chato.
Mas tão chato quanto é ver jovens que, ao se irritarem com esses discursos
saudosistas, respondem na mesma moeda. Chega a doer o coração quando falam que “Pelé
era peladeiro”, que “só jogava campeonatos de várzea” e que o futebol na época “era
muito mais fácil de jogar”.
“A geração 7x1” se iguala aos “tiozões” e o jogo entre o
antigo e novo testamento do futebol, se tornou uma partida de futebol com pancadas
e entradas violentas. Não vemos disposição tática, habilidade e muito menos boa
vontade de explicar o próprio ponto de vista ou de ouvir o outro.
E nesse jogo típico de um 0x0 com poucas finalizações, onde só
pensam em dar pancada, eu fico de fora. Afinal, posso apreciar o melhor que
cada época do futebol pôde oferecer e deleitar-me das histórias dos mais velhos,
ignorando algum saudosismo exagerado, como “Messi não chega aos pés de Maradona” ou “ esse futebol de hoje é pura correria, ninguém sabe jogar bola”.
O esporte bretão é o que é hoje, graças ao que foi
ontem, especialmente na parte tática. Mas dentro de campo como um todo, não
tivemos futebol melhor, nem pior, apenas diferente. E os gênios da bola fizeram e jogaram o melhor futebol possível em cada época.
Os amantes mais experientes não precisam rechaçar o futebol
de hoje, até porque, mesmo resmungando tanto, continuam assistindo. E os
amantes mais jovens, tenham paciência com os coroas. O saudosismo deles não é
apenas supervalorização de um ou desvalorização de outro. São lembranças da
vida e da juventude. Ou vai dizer que você nunca mexeu com seu primo ou
irmão mais novo pelas brincadeiras (ou a falta delas) que eles fazem hoje? O
saudosismo excessivo é isso. Aquele sentimento tão forte de saudade e
nostalgia, que nos faz ter aquele pensamento de “que era feliz e não sabia”,
por maior que fosse a felicidade.