Meia cerebral, habilidoso, de passes precisos, chutes poderosos e detentor de uma "técnica invejável". O personagem desse Ícones Alternativos é um carioca, lenda de um clube gigante, que possui uma das maiores torcidas do mundo. Seu palco principal, era um estádio que recebeu duas finais de Copa do Mundo, que chegou a ter capacidade para mais de cem mil pessoas. É presumível que você tenha pensado no Maracanã e lembrado de vários jogadores que fizeram história atuando em algum gigante carioca. Não fosse a foto exteriorizando o time que atuou o nosso ícone alternativo, você, caro leitor, perguntar-se-ia o motivo de tal desportista da bola estar nesse rol textual (Ícones Alternativos).
Antônio Carlos Santos até atuou no gramado do Estádio Mário Filho, o Maracanã, quando começou a carreira no Fluminense, em 1980, onde jogou até 1985, e pelo Botafogo, onde permaneceu até 1987, chegando inclusive a ser convocado para a Seleção Brasileira. Quando retornou da Seleção Canarinho, Santos não recebeu mais oportunidades de Zagallo, então treinador do Botafogo. O destino acabou sendo o Mogi Mirim, onde disputou alguns jogos do Paulistão daquele ano. No Brasil, Antônio Carlos atuou como ponta esquerda, e só foi para o meio de campo no América, sob o comando do também brasileiro Jorge Vieira.
"Minha passagem pelo Fluminense foi maravilhosa. Foi aonde eu comecei minha carreira apesar das poucas oportunidades. Depois no Botafogo uma coisa maravilhosa também, porque lá sim eu tive chance para crescer como profissional, e inclusive fui chamado para a Seleção Brasileira. Acho que na metade de 87 e infelizmente não tive muitas oportunidades. Quando voltei, me mandaram para o Mogi Mirim, mas fiquei lá por pouco tempo, e depois eu fui para o América do México"
Santos em ação contra o Cruz Azul em final do Campeonato Mexicano. O brasileiro foi decisivo nos dois jogos da final. |
Mas foi no mesmo palco do tri mundial da Seleção Brasileira, o Estádio Azteca, com a camisa do América do México que "El Negro" fez cintilar seu futebol. Contratado pelas Águias em 1987, Santos chegara a Cidade do México ainda como desconhecido, mas em pouquíssimo tempo, mostrou que vira fazer história no clube que dispõe da segunda maior torcida do mundo, segundo a Fifa. Ignoto no Brasil, Antônio Carlos Santos é uma ilustre figura para os mexicanos. Não existe amante de futebol que o desconheça, ou que não tenha se deleitado ao apreciar o bem-proporcionado futebol expressado pelo brasileiro, sobretudo nos primeiros seis anos (1987-1992) com a camisa do América, todos de muita brilhantura e belas jogadas com sua perna canhota, conduzindo a Águia à conquista de dois campeonatos mexicanos, duas Recopas do México, três Ligas dos Campeões da Concacaf e uma Copa Interamericana.
"Com o América do México foi algo muito bonito, foi o amor a primeira vista, onde a consagração veio como jogador de futebol, não esperava fazer tudo o que fiz aqui no México".Sou uma pessoa super reconhecida. Profissionalmente entre todos os jogadores da história do futebol mexicano, eu devo estar entre os oito primeiros"
"Santos tinha o carisma e jogo bonito de Ronaldinho, a precisão no chute de Roberto Baggio, a potência de Batistuta, a elegância de Zidane e a facilidade para passar pelos jogadores de Caniggia. Era um jogador genial”, essa junção de qualidades que fazem referência a outras lendas do futebol são parte de uma descrição de um vídeo no YouTube, que mostra gols e lances do jogador. Exageros ou clubismos à parte, o comentário precisa de forma perfeita o quanto que Santos significa para os torcedores americanistas. A capacidade de transformar jogos, e principalmente, emocionar os torcedores, ilustra e escacara a importância de El Negro e corrobora a "técnica invejável" que o brasileiro apresentou com a camisa 13 do América do México
"O meu estilo de jogo, era de um jogador muito habilidoso, sempre fui. Com muita visão de campo, muito toque de balão com um técnica invejável. Comecei como ponta esquerda e depois o Seu Jorge Vieira me colocou no meio de campo, onde tive uma atuação muito destacada"
Logo em sua primeira temporada (1987-1988), já fora deslocado para o meio de campo por Jorge Vieira e foi o grande articulador da equipe que conquistou o Campeonato Mexicano. Santos foi um dos grandes destaques da competição e marcou, de pênalti, o último gol no jogo de volta na final contra o Pumas, onde o América venceu por 4x1 (4x2 no agregado). Também venceu no mesmo ano a Recopa do México (Campeón de Campeones). Na temporada seguinte (1988-1989), El Negro tratou de marcar de vez o seu nome como um grande ídolo da história do América. O brasileiro foi o destaque das finais contra a "La Máquina Celeste" do Cruz Azul, e conquistou o seu bicampeonato mexicano, tetra do América, em um total de oito títulos até 89 (hoje são 12 títulos). No jogo de ida, El Negro marcou o gol da vitória por 3x2 e deu assistência para o segundo, marcado por Carlos Hermosillo. Na volta, o Estádio Azteca viu Santos deixar Hermosillo mais uma vez na cara do gol para empatar a partida em 2x2 e garantir ao América o bicampeonato mexicano. Posteriormente, o clube alcançou novamente o título da Recopa do México.
Antônio também conquistou três Liga dos Campeões da Concacaf pelo América, no total de sete conquistadas pelo clube. Na primeira em 1987, os mexicanos derrotaram o Defence Force de Trinidad & Tobago por 3x1 no placar agregado, com gol do brasileiro na partida de volta, vencida pelo América por 2x0. Em 1990-91, os americanistas empataram o jogo de ida em Cuba contra Pinar del Rio e no Estádio Azteca, derrotou os cubanos num goleada por 6x0, com triplete de Santos.
Também em 91, o América angariou enorme conquista ao derrotar o campeão da Copa Libertadores daquele ano, o Olímpia do Paraguai na Copa Interamericana por 2x1, e se transformou no grande campeão das Américas, uma vez que o torneio era um enfrentamento entre os campeões da Concacaf e da Libertadores. Em 1992, El Negro levantou mais um título continental, dessa vez o vice campeonato ficou com o Alajuelense, da Costa Rica.
Penúltimo à direita em pé. Santos marcou três gols na final contra Pínar Del Rio. |
A brilhante passagem, que colocou seu nome no “Salón de la Fama” do América, El Negro foi para o Porto em 1992. Em sua breve passagem por solo lusitano, foi campeão do Campeonato Português e da Copa de Portugal, mas teve problemas com o técnico brasileiro Carlos Alberto Silva, a quem fez duras críticas. Retornou ao América já no ano seguinte, onde ficou por mais uma temporada, antes de atuar por outras equipes mexicanas.
"Quando cheguei ao Porto, tive um pouco de falta de sorte, pois encontrei o Carlos Alberto Silva, um tremendo bandido do futebol. Ele queria me colocar de ponta esquerda e não no meio de campo, onde eu aprendi a ter um maior destaque."
No Porto as coisas não aconteceram como o esperado. |
Santos acertou sua transferência para o Tigres na temporada de 1994-1995, e foi trocando de clube a cada temporada. Em 1995-96 passou pelo Vera Cruz, e foi jogar no Japão na temporada seguinte. Retornou ao México no ano de 1998 para vestir a camisa do Santos Laguna, talvez a equipe onde obteve maior destaque, fora do América. Em 1999 passou pelo Morelia e enfim, terminou a carreira atuando pelo Atlante, na mesma temporada. Embora tenha atuado em outras grandes equipes mexicanas, nenhuma rusga foi criada pela torcida do América para com o jogador. Os feitos que El Negro realizou dentro de campo, e toda sua dedicação com o clube e a torcida das Águias, são maiores que tudo isso.
"No México é muito difícil que as pessoas tenham uma reação ruim, aceitaram numa boa. Quando saí do América do México, foi porque financeiramente o América já não me proporcionava muito, já havia ganhado todos os títulos que podia ganhar, tanto para o clube, tanto a nível pessoal"
Com a camisa do América, El Negro marcou 47 gols em 187 jogos (segundo o Wikipédia), uma média de um gol a cada quatro jogos, boa para um meio campista. Sem contar assistências e gols em que participou diretamente. Hoje com 52 anos, Antônio Carlos Santos é muito feliz com a carreira que teve, e possui ótima relação com os torcedores Americanistas, seu grande trunfo para realizar o objetivo de se tornar presidente do América do México, além da má gestão de Ricardo Pelaéz, atual presidente do clube. Com sotaque espanhol ao falar português, "um dos maiores erros da vida" do brasileiro, foi apenas um: Não ter se naturalizado para defender as cores do país que o consagrou.
Brasileiro recebe homenagem no centenário do América do México. |
Um dos erros "más grandes" da minha vida foi não ter nacionalizado para jogar com a Seleção Mexicana. Eu poderia ter mostrado para o Brasil, o meia esquerda que ele perdeu, apesar de que no Brasil nós sempre tivemos os melhores meias esquerdas do mundo, mas eu acho que eu poderia ter alcançado esse patamar".