Esportiva e financeiramente, o sonho de todo jovem jogador
brasileiro é chegar ao futebol europeu. Vários são os fatores que influenciam
nesse objetivo: além da óbvia qualidade de vida de alguns países e da presença
dos melhores jogadores do mundo por lá, nosso país apresenta grandes
dificuldades para quem está começando ou para aqueles que, infelizmente, não
conseguem um lugar nos grandes clubes. Falta de estrutura, atraso de salário e
calendário curto são algumas das problemáticas vividas diariamente por nossos
atletas.
Em contra partida a tudo isso, o outro continente parece
perfeito. Estruturalmente, vemos clubes de divisões inferiores de lá com mais
estrutura que grandes equipe do Brasil. Financeiramente, a coisa é ainda mais
atrativa. Com o real em baixa, ganhar em euros por um período da vida pode
fazer toda a diferença. É claro que nossos jogadores não estão errados e de
fato temos muito a aprender com a Europa, porém, nem tudo por lá é perfeito,
como muitos acreditam.
Como acontece por aqui, direções amadoras podem transformar
um grande clube. Atraso de salários, descaso com jogadores e falta de
organização são algumas das consequências. Exemplo disso é a situação do
brasileiro Romário Leiria, formado pelo Internacional e campeão mundial sub-20
com a seleção de 2011.
Romário era uma das grandes promessa do futebol brasileiro, tendo passado por praticamente todas as seleções de base. |
O zagueiro segue a tendência. Sempre quis jogar no
continente europeu e viu em Portugal uma grande oportunidade. Depois de passar
por Náutico, Novo Hamburgo e Paysandu, resolveu rumar ao Marítimo. O sonho que
parecia realizado, acabou se transformando em pesadelo, como conta o jogador:
“Eu achei que seria mil maravilhas, mas, infelizmente,
quando eu botei os pés lá vi que a realidade não era bem assim. Passei muita
dificuldade por falta de organização do clube e pessoas que não sabiam lidar
com aquilo. Foi bem complicado.”
As complicações relatadas por Romário não são de adaptação,
de moradia ou qualquer coisa do tipo. A cidade era excelente, o custo de vida
também. O problema estava no clube, como vemos acontecer muitas vezes aqui no
Brasil. Foram cinco meses sem receber e um processo jurídico para poder
rescindir seu contrato, experiência que ele não deseja a ninguém.
“Sinceramente, se algum conhecido do futebol me perguntar
sobre o Marítimo, vou falar pra não ir. Tudo o que eu passei lá, não desejo a
ninguém. Clube mal organizado, profissionais sem caráter e sem conhecimento
nenhum de futebol. Tudo girava em torno de uma pessoa só, o presidente do clube.
Acontecia coisas no clube que eu nunca imaginava ver no futebol”
A dificuldade de adaptação dentro de campo foi o menor dos problemas. O grande obstáculo foi fora dele. |
Apesar de já ter enfrentado pequenos problemas no Náutico,
da proporção que ocorreu em Portugal ele nunca imaginou que sofreria, ainda
mais na Europa. O problema, no entanto, serve para alertar-nos de que o mundo
do futebol não é perfeito, em lugar nenhum.
Conversando com amigos portugueses, Romário constatou algo
ainda mais triste. Segundo suas fontes, os clubes do país fazem muito isso
quando não querem mais um atleta, esperando que ele entre na justiça e rescinda
o contrato. Foi justamente isso que fez o brasileiro, que agora está de volta
ao Brasil e já tem seu nome vinculado a alguns clubes. A vontade agora é permanecer por aqui e no
futuro, analisando muito bem as propostas, voltar ao continente dos “sonhos”
para realmente viver tudo que se espera de lá.
“Graças a Deus fui muito forte, segurei no osso, eu e minha
mulher. Isso são coisas que, quando acontecem, nos deixam mais forte para os
próximos desafios”, finalizou Romário, já pensando nos próximos passos da sua carreira.