O silêncio dos inocentes


Volto a 2002. Na inocência dos meus 8 anos. Época de escola, brincadeira de rua e TV Globinho. Uma infância dita como normal. Contudo, especificamente naquele ano, algo mudaria em minha rotina.

Criança, não tinha responsabilidade sobre meus horários. Era sempre aquela velha história da minha mãe me acordando às seis para mais um dia de escola. Não naquele dia.

Neste dia, minha mãe me acordou e ainda era escuro; meio sonolento e sem entender nada devo ter perguntado o motivo disto tudo. A resposta foi contundente: hoje tem jogo do Brasil! Vamos ver Ronaldinho (quando o Fenômeno era conhecido assim).

Não preciso me aprofundar no que vem a seguir, né? Qualquer leitor deste blog guarda em seu coração ou em sua memória ao menos uma pequena lembrança, um fiapo de nostalgia daquela época.

E foi assim. Simples e direto. Me apaixonei como se fosse meu primeiro amor da escola. Na beleza e inocência da infância, me entreguei. Me joguei e não sabia o quanto isso iria me machucar anos mais tarde. Não me importava, o futebol era minha paixão. Sempre será! Como ele poderá me decepcionar?

Mais de uma década se passou. Copa no Brasil. Mulheres gringas, futebol e cerveja. No auge dos meus incompletos 20 anos, o que poderia ser melhor?! Economia vai crescer, a competição trará esperança! (E as torcedoras francesas também). Existe bobo no futebol? Sim, e era eu.

A competição começou e a energia que circulava pelo país era diferente. OEA se tornou música clássica. Quase um hino de Champions League! Primeiros jogos, primeiros craques pipocando ou se destacando, primeiros gols.

Adiantando o lapso temporal, pois 2014 não é meu objetivo; fomos eliminados no maior vexame de nossa história. Mas que mal tem? Há males que vem para o bem. E veio Dunga. Junto dele toda uma corja já conhecida e praticante da mesmice que tanto precisávamos abandonar. Mas há esperança! Com Dunga a seleção voltará a ser aguerrida!

Será? Depois de jogos que não convenceram ninguém e atuações médias nas eliminatórias, o Brasil encontra-se chutado da Copa América Centenário depois de ter perdido para o PERU! O pior, num grupo que ainda contava com Equador e Haiti. O 7 a 1 permanece. E com ele a sensação de que paramos no tempo. A sensação de que não fomos bons meninos e não aprendemos com nossos erros. 2016 e nossos dirigentes continuam corruptos e nossa amada seleção comandada por empresários.

Além de tudo, dói de maneira imensurável saber que não evoluímos nada (não taticamente, mas estruturalmente) depois do vexame que passamos. Este é um dos meus maiores desabafos: devolvam a nossa seleção. Não culpem o Barcelona que não liberou o Neymar ou aquele árbitro que nos prejudicou com algum lance. Culpem a toda a nossa Federação, que acabou com o respeito da camisa mais respeitada do mundo!

Hoje eu sofro e estou triste. Também me questiono: se eu pudesse voltar no tempo, eu avisaria para o meu eu no passado: "Não se apaixone!" "Não se entregue!" "Você vai sofrer!"? Será que eu teria poupado todo meu posterior sofrimento? Nunca saberei. E assim prefiro. Contudo, me resguardo em um pouco de conforto ao me recordar dos bons tempos.

E nossas crianças? Nunca sentirão o gosto de parar tudo que estão fazendo para assistir um simples amistoso da nossa seleção? Não vão se orgulhar de ter aquela tia que nem liga pra futebol, mas que sabe a escalação toda do Brasil, porque afinal, é Brasil? O amor destes inocentes sem voz não pode ser prejudicado por uma centena de bandidos.

 Respeitem nossas crianças e o futuro amor delas pelo futebol!
Compartilhar: Plus