Ouso dizer que o tempo pode ser descrito e interpretado como uma estrada - não necessariamente retilínea - que vai se autodestruindo à medida que a percorremos. O horizonte molda-se de acordo com cada contexto único e intransferível de cada indivíduo ou agremiação. Trazendo para as quatro linhas, a beleza do infinito de cada time é exclusiva, mas muitas vezes segue um padrão exaustivamente repetitivo. O exemplo mais clássico nos últimos 36 anos, o que é uma margem de tempo consideravelmente boa, dentro do futebol é o do Internacional, eterno favorito ao título do Campeonato Brasileiro (embora esse favoritismo tenha sido algo mais recente e correto devido aos belíssimos esquadrões colorados que libertaram a América por duas vezes e atingiram o topo do mundo há 10 anos). A cada começo de campeonato, no horizonte alvirrubro está a taça de campeão brasileiro - que jamais chega.
Embora o lapso temporal seja realmente enorme, restringi-lo-ei aos últimos 6 anos especificamente. O motivo é simples: desde 2011, o Internacional venceu os seis estaduais disputados; mais importante que isso, venceu o maior rival (único adversário à sua altura, que me perdoem os pelotenses ou caxienses) de maneira consecutiva e acabou maquiando seus despreparo e quase amadorismo na condução da instituição para a disputa dos Campeonatos Brasileiros. Mesmo tendo folhas salariais astronômicas, sendo considerado exemplo de gestão devido a contratações certeiras, categorias de base e reforma no estádio para a Copa do Mundo, parece que quando a esfera passa a ser nacional, o Inter volta a viver os terríveis anos 90 onde não conseguia ganhar nem torneio de botão - aliás, sequer chegar firme pra disputar.
Após o vice-campeonato do Brasileirão de 2009, aquele campeonato onde mais parecia que ninguém queria ganhar do que qualquer outra coisa e que acabou sendo o torneio onde o campeão teve o menor aproveitamento entre todos na história dos pontos corridos (Flamengo atingiu 58.8%), o Inter jamais disputou efetivamente o título do campeonato. Se esquecermos o ano de 2013 devido ao fato de que o clube disputou todas as partidas fora de Porto Alegre, veremos campanhas sempre medianas, à exceção de 2014 onde o clube angariou uma terceira colocação graças a um sprint final milagroso dos comandados de Abel Braga. Soma-se isso às eliminações constantes da Copa do Brasil e temos um cenário terrível dentro de terras brasileiras para o Inter, o clube grande com o maior jejum de um título nacional. Uma estatística forte para quem enche o peito para "cornetear" o rival pela seca de títulos expressivos.
E essa sina, porém, não dá sinais de que vá acabar em 2016: apesar de não podermos prever nem as 37 rodadas do torneio, tampouco a Copa do Brasil que está longe de começar para o Inter (entra nas oitavas-de-final devido à classificação no Brasileirão ano passado), a primeira rodada foi decepcionante para as pretensões coloradas. Não só tropeçou em casa contra uma bem postada Chapecoense, mas repetiu o padrão de atuações ruins do enganador título gaúcho e não dá nenhuma perspectiva de título aos seus torcedores. Nos microfones, o discurso é quase padrão: "não podemos perder pontos em casa"; "devemos trocar pontos com os concorrentes e vencer os que provavelmente ficarão na parte de baixo"; "cada jogo é uma final". Na relva, 2 pontos desperdiçados por uma escolha absurda de seu comandante para a cobrança de pênalti. Homenagem se faz em jogo ganho, não em jogo 'encardido' valendo 3 pontos.
O futebol praticado pelo time de Argel está bem longe de convencer. |
Em 2016, o Internacional tinha uma peculiaridade em sua trajetória: pela primeira vez em anos, não seria tratado como favorito. Além disso, não teria a Libertadores da América para "atrapalhar" (heresia proferida por dirigentes) seu rendimento nas competições nacionais. Isso deu certa esperança aos torcedores - esperanças que, por sua vez, acabaram de ser pulverizadas na rodada de estreia do certame. Novos contextos, velha sina.
Se nada mudar, em 2017 o Inter vencerá o Brasileirão. Isso até chegar 2017. Quando chegar, será em 2018. E assim seguirá: o título sempre no inalcançável horizonte, mantendo o caráter constante da sua sina.