Quando retas paralelas se encontram


A matemática diz - sim, matemática numa hora dessas! - que retas paralelas se encontram no infinito. Trazendo para o mundo real, duas retas paralelas, ou seja, com coeficiente angular igual, mas coeficiente linear distinto, jamais se encontrarão. Porém, idealizando o mundo como ele deveria ser, há momentos em que presenciamos o infinito - e ontem foi um deles.

A Copa Libertadores da América e a UEFA Champions League são como duas retas paralelas: embora competições de mesmo nível geográfico, são completamente distintas, o que as fazem ser únicas no que tange a cada uma. Enquanto vemos espetáculos protagonizados por super times regados à muita cifra no velho continente, assistimos a clubes charmosos e bem montados dentro de suas limitações aprontarem pra cima dos renomados na América do Sul.

Porém, como previu algum matemático, há sempre o infinito para unir duas retas paralelas: o Vicente Calderón foi uma personificação do infinito diante de nossos olhos. De um lado, Luis Enrique e sua trupe desfilavam empáfia e até mesmo certa soberba, suplantados pela intensa marcação colchonera. De outro, uma figura sul-americana roubou a cena em plena Europa: Diego Simeone. Apesar do francês Griezmann ter feito os dois gols, a vitória do Atlético sobre o Barcelona passa muito pela cabeça do treinador.
Tido como seres de outro mundo, foram parados pelos humanos do Atlético.
"Aquele que era jogador? Volante marcador e brigador? Nem sabia que ele era técnico!", disse meu pai, que não gosta de assistir ao futebol europeu. Pois o volante marcador e brigador de outrora, além de ser um grande estrategista e mestre da área tática, leva vantagem sobre os europeus que costumam transparecer frieza: tem sangue quente. E conseguiu transmitir isso aos aficionados e aos próprios jogadores da equipe madrilenha. Diego Simeone materializou a Copa Libertadores em plena tarde de Champions League.

E o Barcelona, tido como uma entidade, foi sacado de seu pedestal de uma maneira antropológica pelo rival. Ao ver-se retirado de sua condição divina e intransponível, os blaugranas viram que corria sangue humano em suas veias e, no âmago de sua fragilidade, até fizeram rodinha de reclamação para cercar o juiz - coisa que eu achava que só acontecia no mundo subdesenvolvido. Messi, o argentino menos sanguíneo da história dos grandes argentinos, assim como Suárez e Neymar, tentaram, mas foram simplesmente encaixotados pelos humanos do Atlético a mando de seu treinador.
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