“Não se faz copa do mundo, com hospital”
(Ronaldo)
A frase acima ilustra muito bem a proposta desse texto. Afinal, declarações extracampo minam a imagem do JOGADOR perante seus fãs, ou sabemos bem separar o joio do trigo?
É um tanto complexo separar o jogador da pessoa, lendo assim fica até um pouco confuso se pararmos pra pensar bem.
Não seria a mesma coisa? Sim, na verdade sim. Neste caso, a proposta desta “separação” é muito mais literal que prática, definitivamente abstrata.
Qualquer cantor ou ator/atriz que tivesse falado algo parecido com “Não se faz copa com hospital” teria sido execrado por anos e anos e provavelmente levaria esse carimbo pelo resto da carreira. Jogadores de futebol gozam da alcunha que o mundo esportivo dá a eles, a possibilidade de distinguir o jogador dentro das quatro linhas, da pessoa com opiniões fora dela.
Cruyff, Pelé, Henry, Maradona e Casagrande são alguns dos muitos ex-jogadores que ocasionalmente aparecem falando alguma bizarrice pela mídia. Temos o furor inicial do absurdo, todos criticam e tacam as pedras. Após uma semana ouvimos a famosa frase “Fulano como pessoa é lamentável, mas como jogador foi absurdo, sei separar”.
Calado é um poeta? |
Claro que a grandeza de lendas do futebol não pode e nem deve, ser diminuída pelas suas declarações sem pé nem cabeça, mas é curioso pensar que ter sido um grande jogador, te dá um passe livre para falar besteiras sem que sua imagem profissional fique manchada.
Porém, existe um contraponto que vale a pena fazer. Esta regra da carreira do jogador se manter idônea a qualquer declaração que soe mal, não vale caso a mesma declaração seja positiva. Costumamos mitificar o jogador alcoólatra, mulherengo e baladeiro.
Renato Gaúcho e Adriano ilustram a capa dessa antítese, quem não lembra daquele vídeo do ex-atacante mandando flores para suas amantes?
Já “Didico” como é chamado carinhosamente, representa a plenitude dos anos 90, nos anos 2000. Frases que tinham tudo pra ser negativas, se tornam positivas pelo simples fato de um “Perdi a vontade de jogar futebol” vindo de um cara que era intitulado o Imperador de Roma, ser muito mais tocante que um “Vou treinar pra voltar aos campos”, vindo do mesmo. Dá a impressão de que se Adriano voltasse a jogar, seria um dos melhores do mundo apenas por querer, mesmo com idade avançada. O simples fato dele não ter vontade de jogar bola, faz com que se torne um jogador a nível atemporal pelo motivo do: “Se ele quisesse voltar, seria o melhor 9 do mundo”. Frase que deve se repetir por mais alguns anos, até que o Imperador já não tenha mais idade pra jogar em um time de ponta.
Simplicidade e carisma parecem aumentar ainda mais a representatividade do Imperador para o futebol |
Ainda há um outro exemplo similar a esse porém de uma vertente um pouco mais intelectual.
Sócrates.
Sua liderança na famosa democracia corinthiana deu a ele a alcunha de doutor. Claro que a grosso modo esse codinome provem do seu doutorado, mas tal palavra era usada no intuito de destacar seu pleno entendimento fora da esfera futebolística. Sua luta social e política, fez dele um jogador “Cult” de primeira linha. Claro que tudo isso não seria tão relevante caso ele não fosse um gênio com a bola no pé.
No caso de Sócrates, Adriano e Renato Gaúcho, fazemos o contrário de separar a pessoa do jogador, atrelamos ainda mais a imagem do ser humano, com o futebolista.
Já com Ronaldo, Pelé e Maradona, continuamos repetindo a frase separatista para justificar uma outra frase lamentável que soltam de tempos em tempos.
Afinal, separar o joio do trigo ou não?