A folia das arquibancadas e o jogo na avenida


Futebol e carnaval possuem uma relação muito próxima aqui no Brasil. Por serem as duas maiores paixões do brasileiro, um acaba influenciando diretamente o outro.

O carnaval influenciou e influencia, principalmente as torcidas brasileiras, tanto sambas-enredo, quanto marchinhas já foram adaptadas para fazer cânticos de apoio ao seu time do coração. O futebol, por sua vez, inspirou e inspira muitos desses sambas. Jogadores, Seleção, clubes e o esporte como um todo já foram homenageados pelas escolas, grandes ou pequenas. Em São Paulo, algumas agremiações, são oriundas de torcidas organizadas, como a Gaviões da Fiel e a Mancha Verde.

No Carnaval Carioca, foco deste texto, apesar de não existir nenhuma torcida-escola, os sambas-enredo sobre futebol são ainda mais comuns. Escolas grandes como: Imperatriz, Unidos da Tijuca, Estácio de Sá, Vila Isabel e Beija Flor de Nilópolis, já uniram as duas maiores paixões do Brasil em seus desfiles.

Nesse ano, a cidade de Santos foi escolhida como tema da escola de samba carioca Acadêmicos da Grande Rio e claro, o Alvinegro Praiano, o Rei Pelé, além de Neymar, não ficaram de fora do enredo da escola localizada no município de Duque de Caxias. Outra que recentemente fez um desfile ligado a futebol, foi a Carioca Imperatriz Leopoldinense, que homenageou o Galinho de Quintino Zico, em 2014. O samba pegou na avenida e levou a escola para o Desfile das Campeãs, no "sábado de cinzas"


A Escola de Samba Tradição, em 2003, cerca de 6 meses depois do Penta, homenageou um dos heróis da conquista e artilheiro da Copa do Mundo: Ronaldo Fenômeno. Mas a escola não teve o mesmo rendimento que R9 teve no Mundial e acabou ficando na penúltima colocação, quase sendo rebaixada para o grupo de acesso. No mesmo ano, a Acadêmicos da Rocinha prestou homenagem ao centenário do Fluminense e ficou apenas em 10º lugar no Grupo de Acesso A (equivalente a 2ª divisão) e assim como a Tradição, quase caiu, só que para o Grupo de Acesso B (equivalente a terceira divisão).


No Carnaval de 2002, a Vila Isabel fez um samba para a Enciclopédia do Futebol, Nilton Santos, mas infelizmente, a escola de Martinho da Vila e Noel Rosa, não conseguiu subir ao Grupo Especial (primeira divisão) do Carnaval do Rio de Janeiro.

Na década de 90, dois sambas bem famosos e lembrados até hoje pelas torcidas de Vasco e Flamengo, foram temas respectivamente do desfile da Unidos da Tijuca em 1998 e da Estácio de Sá, em 1995, ambos para comemorar o centenário* e homenagear a história dos rivais históricos. Apesar de as duas terem empolgado a Marquês de Sapucaí, com a ajuda claro, das gigantes torcidas cruzmaltina e rubro negra, a escola do Morro do Borel, na Tijuca, com o famoso refrão, Vamos vibrar meu povão (é gol, é gol) / A rede vai balançar, ai balançar / Sou Vasco da Gama, meu bem / Campeão de terra e mar", terminou em 13º, e acabou rebaixada ao Grupo de Acesso A. Já a agremiação do Morro de São Carlos, do bairro do Estácio, com o refrão “Cobra coral, papagaio vintém! / Vestir Rubro Negro/ Não tem pra ninguém, bateu na trave ficando na 7ª colocação, com apenas 5 décimos atrás da 6ª colocada Estação Primeira de Mangueira, última classificada para o “Desfile das Campeãs”.

Destaque para a "alegria nas pernas" no samba do pofexô Vanderlei Luxemburgo. (A partir dos 31 minutos)


O Rubro Negro Carioca, foi lembrado anteriormente também pela União da Ilha, em 1988, quando o compositor e radialista, Ary Barroso, o "Homem da Gaitinha", torcedor assumido do Flamengo foi homenageado, e a relação dele com o clube foi lembrada no samba da agremiação. A Escola do bairro da Ilha do Governador foi a 6ª colocada com o samba. Neste ano, não teve a realização do desfile das campeãs, que se tornou algo certo e contínuo a partir de 1989, onde as 5 ou 6 melhores Escolas de Samba desfilavam novamente no sábado pós-carnaval.

Em 1986, a Beija-Flor saldou o esporte bretão e por pouco não foi a grande campeão do carnaval naquele ano. A escola de Nilópolis foi a segunda colocada e trouxe ao sambódromo, o descontraído e animado enredo “O Mundo é uma Bola” e com o refrão É milenar / A invenção do futebol / Fez o artista / Ter um sonho triunfal", ficando apenas atrás da Mangueira, que sobrou na avenida ao ser avaliada com 214,0 pontos, 4,0 a mais que a Beija Flor.

Em 1985 a Caprichosos de Pilares relembrou fatos passados com o Enredo “Por Falar em Saudade”. Mencionaram os antigos carnavais, bons tempos da Seleção, além do roubo da taça Jules Rimet e o jejum de títulos do Botafogo que só foi encerrado em 1989, com o famoso gol de Maurício. A escola do bairro de Pilares, terminou na 5ª posição, sua melhor posição até hoje.

Finalmente, em 1981, o compositor Lamartine Babo foi homenageado pela Imperatriz, com o samba "Teu Cabelo Não Nega". Para quem nunca ouviu falar dele, deve estar se perguntando o que ele tem a ver com futebol. Explicando, o homem é responsável “apenas” pela composição de 11 hinos de clubes cariocas, incluindo dos 4 grandes e do América, seu time de coração. Com um samba extremamente gostoso e animado, a escola do bairro da Leopoldina foi a campeã incontestável do Carnaval Carioca naquele ano.


Por fim, os exemplos foram talvez os principais a serem citados nessa miscigenação entre Carnaval e futebol. Mas é claro que tanto no Rio, quanto em outros estados, tivemos vários desfiles com o futebol na temática central. Para se ter uma ideia, América, Bangu, Rildo (lateral ex Santos e Botafogo) e até Patrícia Amorim, ex-presidente do Flamengo, foram homenageados por escolas de samba de menor escalão.

Em outros estados, especialmente as torcidas-escolas de samba de São Paulo, como a Gaviões da Fiel e Torcida Jovem do Santos, sempre que podem, colocam Corinthians e Santos dentro de seus desfiles, diferente da Mancha Verde e a Dragões da Real que não costumam falar tanto de Palmeiras e São Paulo. No Rio Grande do Sul, Grêmio, Inter, Brasil de Pelotas e Rio Grandense foram homenageadas respectivamente por: Bombas da Orgia, Imperadores do Samba, General Telles e a Unidos de Itaimbé (no caso da dupla GreNal, ambas escolas se sagraram campeãs). Ainda no Sul, em Curitiba, a Acadêmicos da Realeza homenageou o centenário do Coritiba em 2003.

Para encerrar o momento futecarnavalesco do 4-3-3, vale alguns citar sambas que viraram hit nas arquibancadas por todo o Brasil. Especialmente o clássico “Explode Coração” do Salgueiro em 1993, que teve versões adaptadas por torcidas no Brasil inteiro. "Sonhar Não Custa Nada", entoado em 1992 pela Mocidade Independente de Padre Miguel 1989 a "Festa Profana" da União da Ilha e de novo o Salgueiro com o samba Festa do Rei Negro”, onde o refrão: "Ô-lê lê Ô- lá lá / pega no ganzê / pega no ganzá!" não tomou conhecimento das barreira geográficas e inspirou até mesmo, uma música da torcida do Barcelona (O- lê lê/Ô lá lá/ ser del Barça es/ es millor que hi há) e provou que a relação entre o esporte e carnaval é forte também fora do País do Futebol. Ou seria país do Carnaval?


*Em 1995, o Flamengo completou 100 anos de história do clube. O centenário do futebol foi somente em 2012.
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