Quanto mais exposta a defesa, mais faminto o atacante. Ele quer se isolar na artilharia, aproveitar o momento compatível com sua sede de gol.
Ao ser entrevistado deixa de lado o desempenho individual e realça o valor da vitória, exalta o conjunto. Errado? Não. Mas abusa. Até por isso o saudosismo vive na ponta da língua. Sempre tem alguém na espreita do depoimento óbvio a fim de abraçar o descaso e colocar em prática as declarações de fulano ou as firulas do zé ninguém.
Desenterrar o jogador problemático é observar o reflexo dos ídolos de infância. Reviver o personagem marcante. Sobretudo, descrever Romário.
Naturalmente singular. Diante de linhas desordenadas, relaxava. Parecia desinteressado. Discreto porque sabia que o objetivo maior era questão de tempo. Como no confronto contra o Steaua Bucaresti, esquadrão que ensaiava as cinzas daquele que havia sido o melhor time da história do Leste Europeu.
Durante a primeira etapa distribuíram panfletos de "procura-se o Baixinho". Mas como bom protagonista fez do ultimo ato a consagração do espetáculo - hat-trick perfeito com direito a gol de placa.
Só seu jeitão provocador não seria capaz de manter seu legado, nem só de área encheu a barriga. Com ela congestionada despertava uma de suas melhores versões - recuar para receber nas costas dos volantes e acelerar a jogada. Nada de ficar sossegado enquanto esperava o ultimo passe. A semifinal da Copa de 94 é a exibição quase perfeita disso.
Decisivo, decisivo e decisivo. Da meia dúzia de bolas alçadas por Jorginho, a única que veio em sua direção resultou na classificação brasileira para uma final de Copa do Mundo depois de 24 anos. Motivo máximo para o orgulho do carioca. Meio século que representa o ápice dos 450 anos do Rio de Janeiro. Parabéns, seu senador.
Texto de Lucas Nemézio