A série B pode ser pedagógica para o Internacional


Para nenhuma torcida é bom ver seu clube rebaixado para a série B. Para a do Sport Club Internacional, pior ainda, não somente pelo que representa em si mesmo cair, mas pela rivalidade local e histórica com o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. Por tudo isso não ouso dizer que será bom para o clube a queda, mas ela pode trazer ensinamentos importantes, principalmente depois de gestões desastrosas e que comprometeram as finanças do clube errando severamente e sucessivamente no processo de montagem do elenco, bem como no processo de firmar contratos longos e caros com atletas que não agregaram tanta qualidade.

O Inter foi rebaixado no dia 11 de dezembro de 2016 depois de um empate por um gol com diante do Fluminense. Marcelo Medeiros, atual presidente, havia sido eleito como novo presidente colorado um dia antes com uma votação massiva (mais de 90% dos votantes ou 12 mil sócios), expondo a reprovação dos sócios para com a chapa da situação no Internacional, mas só tomaria posse em janeiro, quando pegou um clube já comprometido financeiramente com pagamento de salários pesados e longos com vários jogadores, deixando as contas deveras inflexíveis para a remontagem necessária. Logo depois do rebaixamento Antônio Carlos foi contratado para ser o técnico do colorado, comandando a remontagem do tri-campeão brasileiro e assumindo a responsabilidade de levar o time para a série A. Zago havia comandando e conquistado o acesso com o Juventude na série C de 2016 e foi para o Beira-Rio respaldado por um trabalho seguro no time de Caxias.
Zago foi o escolhido para a reestruturação colorada. Agora é ter paciência com o ex-Juventude.

A reformulação necessária do elenco ainda segue sendo feita em doses homeopáticas. O clube parece ter entendido a necessidade de priorizar a série B e não se apressa em trazer demasiados reforços, já que muitos dos jogadores que foram rebaixados ficaram no elenco e possuem contratos com altos vencimentos. A direção acerta em não se apressar, pois a segunda divisão não é um torneio tão difícil para um clube do tamanho do Internacional e, por isso mesmo, fazer uma “limpeza” geral no elenco seria um erro.

2017 pode e deve ensinar o Internacional a contratar melhor, a mesclar melhor experiência e juventude, bem como a ter a paciência necessária para deixar o trabalho do técnico fluir. Nesse momento, com a torcida impaciente, qualquer início que não fosse impecável (algo improvável) seria, como vem sendo, de cobrança por parte das arquibancadas. Importante, para o clube, é ter uma diretoria que entenda as necessidades e, ainda que seja composta de torcedores, não tenham ações apaixonadas, mudando tudo ao sabor dos resultados e isso, ao menos nesse princípio de trabalho, vem sendo feito. Se a equipe não tem grande margem de manobra, engessado que é pelos contratos longos e de valores altos com vários atletas, nem muito menos tem lastro algum de respaldo das arquibancadas, pode aprender com este momento, mais do que isso, há condição de utilizar esta ida para a série B no intuito de formatar uma “casca” para subir e começar bem a próxima temporada. 

O clube já tem um lastro razoável de experiência em setores cruciais. Danilo é um goleiro de bom nível, mostrou isso no ano de 2016 em que foi sem dúvida um dos poucos a se salvarem no desastroso Campeonato Brasileiro feito pelo Internacional. A liderança de D’Alessandro nos vestiários, assumindo a responsabilidade e puxando as cobranças, será importante, além, é claro, do talento do argentino, que ainda faz a diferença. Se obtiver sucesso em sua empreitada, Andrés poderá disputar com Paulo Roberto Falcão o posto de ídolo máximo do clube. Ajudando o clube e entrando para a história do gigante colorado, pois poderia simplesmente escolher se isentar da responsabilidade e não jogar a série B, até se aposentando. O talento de Nico López pode, e deve, aparecer ao longo do ano, caso haja paciência e estrutura de equipe capaz dar suporte ao uruguaio. Para um dos setores mais criticados de 2016 a nova diretoria contratou um zagueiro experiente e técnico com a bola, trata-se de Victor Cuesta que veio do Independiente argentino, defensor que esteve presente na seleção nacional de seu país na Copa América de 2016, inclusive marcando um gol e sendo a opção imediata quando da saída de Funes Mori e Otamendi (então dupla titular).
Cuesta chegou para, em tese, solucionar os problemas do setor mais criticado no colorado de 2016.

O Inter, enfim, tem tudo para voltar à primeira divisão, não somente a jogar a competição como mero figurante, mas para disputar o título. Há dinheiro, camisa, estrutura e torcida para tal, faltava uma diretoria que soubesse se valer de tudo isso em prol do engrandecimento do clube. A grandeza de um time não é medida por não cair e sim por saber aprender a se reerguer. Só o tempo dirá se a atual diretoria sabe o caminho, mas, ao que parece, começou fazendo a coisa certa. 
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