O encanto pela adversidade


A pirâmide de Maslow nos proporciona uma explicação da hierarquia das necessidades humanas. No caso do psicólogo americano, ele cita que necessidades fisiológicas, como fome, sede, sono e sexo estão na base, ou seja, na parte de sustentação -a mais importante- da pirâmide.

Por este vies, eu tenho a obrigação de fazer um adendo ao saudoso Abraham: a necessidade do inesperado é também essencial ao ser humano.

Transportando para a atualidade e enveredando em nossa realidade, temos o grande exemplo de tal necessidade no jogo de ontem, 14/02, entre PSG e Barcelona válido pela UEFA Champions League.

Vale ressaltar, contudo, que não trata-se apenas da necessidade humana do inesperado, já traduzida no sensacional texto de Lucas Vasconcelos para este blog. Desvela-se, porem, na inevitabilidade, quase que fisiológica, do Homo sapiens em apreciar a queda de impérios.

Se fisiologista, filosófico ou antropólogo fosse, poderia bradar que o homem, de maneira geral, apesar de muitas vezes acomodado, flerta com as ideias de novos ares ou, ao menos, aprecia vislumbrar uma supremacia sendo castigada. Infelizmente, esta não é minha competência.

Contudo, se requisitado para comprovar minha teoria, de pronto mostraria as reações do jogo de ontem como prova contundente. Outrora odiado por ser o time do capital e do alto investimento futebolístico -muitas vezes inflacionando o mercado-, o Paris Saint Germain assumiu o papel de mocinho.

Pudera, será que os olhos humanos enxergariam um vilão naquele que humilhou o rei? Como poderíamos recatar a nossa surpresa com a aula futebolística proporcionada diante de nossos olhos? O que poderia nos agradar mais do que um time nunca vencedor da competição goleando o penta campeão? A necessidade surge.

Por outro lado, por quanto tempo durará tamanho afeto? Indagada a pergunta, o mais importante que uma provável resposta é a reflexão disso. A beleza da necessidade humana consiste justamente no quão volátil essa necessidade é. Explico: se o próximo adversário do PSG, for, por exemplo, o inferior Benfica, os polos terão, com plena certeza, uma bela inversão. E aí está a graça da coisa.

Após o ensinamento futebolístico ministrado no dia de ontem pelos operários de Paris pudemos aprender que, no bang bang do esporte bretão, o mocinho e o vilão não aparecem de acordo com o romance anteriormente narrado. São papéis dados diariamente e de acordo com a construção do cenário, no caso, do jogo. Os heróis de hoje poderão, e serão, os vilões de amanhã. Porém, longe desse texto fazer um protesto contra a bipolarização das coisas em nosso esporte, visto que, como dito anteriormente, aí está a beleza de tudo.

Se os parisienses deram uma aula aos culés no gramado, ficamos com a lição de que amamos o esporte e não os esquadrões -com a exceção óbvia daqueles que simpatizamos e torcemos- e, além tudo, não apenas amamos, mas necessitamos fisiologicamente dos novos desdobramentos. Como quando plebeus conseguem derrubar um império consagrado, precisamos e amamos times conhecidos como pipoqueiros conseguindo derrubar gigantes.
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