34 anos de histórias - Tino Marcos



Um dos jornalistas mais icônicos da Globo, Tino Marcos começou sua carreira em 1983 e, de lá para cá, coleciona histórias pelo mundo do futebol. Com grande simpatia e disponibilidade, se prontificou a nos esclarecer algumas dúvidas e comentar alguns fatos históricos e presentes do nosso amado esporte, confira na íntegra:

1. Em 1994 você foi o único repórter a entrevistar os campeões mundiais ainda na volta olímpica, apesar da FIFA não autorizar a entrada de um jornalista de campo na época, você furou o esquema e conseguiu a reportagem. Qual foi a sensação de tal feito? Rolou alguma punição depois?

A única punição foi eu ter sido retirado de campo pelos enormes seguranças, que me ergueram, cada um um de um lado. E eu dizia: "podem me levar".

2. Logicamente transmissões de cunho esportivo global são vistas como o ápice para qualquer jornalista de primeira linha, você já cobriu Copas do Mundo e Olimpíadas, e há bastante discussão sobre qual dos dois acontecimentos seria maior. Qual a diferença de apelo entre os dois eventos? Em que se parecem?

A Copa do Mundo fala muito diretamente ao Brasil. A Seleção Brasileira, que disputou todas as edições, sempre entra com grande expectativa e isso gera uma mobilização muito grande no país. A Olimpíada diversifica mais a atenção do torcedor brasileiro, que descobre novos heróis, de novos esportes. Mas são mesmo os dois grandes momentos do esporte, pelo menos do meu ponto de vista.

3. Depois de tantos anos na estrada e com uma carreira mais que consagrada, você coleciona companheiros e parceiros de transmissões, qual é sua referência no jornalismo esportivo? Porque?

Tive e tenho grandes exemplos e referências. Não é por ser mais velho e rodado que não aprenda com os mais jovens. Nossa maneira de contar as histórias do esporte é mutante, e tem um monte de talentos em que eu me miro e admiro. O Pedro Bassan, por exemplo, é o "gêniozinho" da classe.
Olho nele!
4. Em 2015 você decidiu fazer uma breve retirada de cena, alegando que tinha que se dedicar a família e a estudos fora do país. Hoje, mais de um ano depois, como avalia sua momentânea saída da Globo? Em que aspecto isso foi positivo para você?

Foi uma decisão muito amadurecida e prevista já a alguns anos. Comecei em 1983, no saudoso Jornal dos Sports, fui e sou muito feliz com a estrada que segui. Mas sempre houve o preço das longas ausências. E minha mulher precisou redobrar energia para criarmos nossas filhas. Por isso, decidi que pararia um pouco. Queria buscar minhas filhas na escola, estar com meus pais no interior, curtir minha esposa com calma. E foi maravilhoso. Voltei ao trabalho renovado. Sei que não é uma condição fácil para muitos, conseguir parar assim, mas acho que vale a pena.

5. Você já teve a oportunidade de entrevistar um dos maiores jogadores do século 21, Cristiano Ronaldo, em 2013. Como foi conseguir uma exclusiva com um craque global em evidência como Cristiano? Qual o perfil do português?

Foi uma grande dificuldade conseguir a entrevista. A assessoria do CR7 fazia ameaças, a mulher dizia que entraria na frente da câmera se eu me alongasse, fez um terror danado. Mas quando o artista do espetáculo apareceu, foi tudo mais calmo e agradável. Ele estava paciente, foi carinhoso com a gente e não se aborreceu com perguntas mais desconfortáveis. É um cara extremamente profissional. Quando se propõe a fazer algo, faz direito, e dar uma entrevista faz parte do pacote.

6. Uma das maiores novidades deste começo de ano foi, sem dúvidas, a mudança na classificação para a Copa do Mundo, dando a oportunidade para mais seleções participarem da competição. Muita gente criticou a mudança alegando ser politicagem do novo presidente e que isso “banalizaria” as vagas para o torneio mundial, qual a sua visão sobre o caso?

Acho difícil cravar se tem mais prós ou contras. Vai ter mais jogo baba, de baixa qualidade. Mas será o mesmo número de partidas (sete, para os que chegarem à final) e uma rodada a mais de mata-mata, que me parece mais emocionante. Gosto da ideia de encurtar a fase de classificação. Mas claro que haverá times bem feios e jogos mais fracos com tanta seleção. Sem falar que vulgariza algumas eliminatórias, como as sul-americanas. Vai ficar mais fácil o caminho até a Copa.

7. Uma das referências no Brasil quando se trata de seleção brasileira, você viu inúmeros esquadrões canarinhos se formando. Atualmente vemos uma confiança popular enorme no trabalho do Tite, vem encantando muitos torcedores que já não viam saída para a atual geração. Na sua opinião, caso houvesse uma copa amanhã, o Brasil seria favorito?

O momento do Brasil era muito bom no fim do ano passado, surpreendentemente, o Tite conseguiu montar uma equipe com padrão bem definido, segura na defesa e organizada, mesmo trocando peças. Acho que se a Copa tivesse sido em novembro passado, o Brasil estaria bem, embalado. Mas o futebol é dinâmico demais. Vamos ter que checar que a seleção entrará em campo em março. Tanta coisa muda: jogadores lesionados, fora de forma, barrados em seus clubes... quero crer que a base será mantida e a Seleção vai de novo ocupar seu lugar de direito, entre os maiores do planeta.

8. Nascido em Duque de Caxias, você cresceu em solo carioca e acompanhou de perto clubes de pequeno porte do Rio incomodarem os grandes brasileiros, como América e Bangu. Atualmente, os pequenos cariocas se encontram em situações deploráveis, há muitos anos não vemos um pequeno do Rio na primeira divisão nacional. O que acontece com a estrutura do futebol carioca? Qual o principal problema para que os pequenos do estado não consigam relevância nacional?

É mesmo uma pena que grandes marcas, como América e Bangu, não estejam mais na linha de frente do futebol brasileiro. O futebol carioca teve má gestões, campeonatos mal organizados e os clubes do subúrbio não conseguiram manter o velho padrão.
O último canto do cisne do Bangu.
9. Para terminar, quais são seus planos para o futuro? Há algum projeto em construção ou algo novo que esteja produzindo?

Minha principal missão é cobrir a Seleção e fazer projetos como os perfis que fiz para as Copas de 2010 e 2014 para o Jornal Nacional. No mais, é viver cada dia com alegria e gratidão. Curtir cada reportagem, porque é disso que eu gosto. Pé na lama, na rua, no campo. E contar as histórias. Ser repórter é uma enorme satisfação. Já ocupei por um breve período uma função de chefia, mas minha realização é produzir conteúdo

10. Foi um prazer concluir esta entrevista, a equipe 4-3-3 te deseja tudo de melhor. Faça suas considerações finais, muito obrigado!

Um abraço à equipe do 4-3-3, muito obrigado pelo carinho e que sigamos contando as histórias desse esporte que é algo além de uma modalidade, nosso querido futebol. Valeu!
Compartilhar: Plus